A formaçao do homem

"O que um homem pode ser, ele tem de ser" A. MASLOW



terça-feira, 22 de novembro de 2011

A CONTRIBUIÇÃO DE ARISTÓTELES NA SISTEMATIZAÇÃO DA METAFÍSICA COMO DISCIPLINA DA FILOSOFIA

INTRODUÇÃO
 O presente trabalho é um breve estudo sobre: A contribuição de Aristóteles na sistematização da Metafísica como disciplina da Filosofia.
Todos os comentários que aqui fazemos se fundamentam em autores de referência neste vasto campo de pesquisa filosófica e são mencionados mediante uma nota de chamada. Como análise filosófica, impus-me, a fidelidade total à expressão e ao conteúdo do pensamento do autor, espero não ferir a lógica do filósofo e espero também, que este esforço seja bem aceite, embora seja eu o primeiro a me sentir insatisfeito.

1. A Vida e as obras do Autor
Aristóteles nasceu em Estagira entre 384/3- e morreu em Cálcis a 322 a.C. Aos dezoito anos viaja para Atenas e ingressou na academia platónica, aqui ele amadureceu e consolidou a sua vocação filosófica, tanto que permaneceu nela durante 20 anos, foi discípulo de Platão e abandonou a academia após a morte deste, foi preceptor de Alexandre o Grande (343/2-336), fundou em Atenas a escola Peripatética (335). Desde então foram esses anos mais fecundos na produção de Aristóteles, o período que viu o acabamento e a grande sistematização dos tratados filosóficos e científicos que chegaram até nos. 
As obras mais importantes foram: Metafísica (14 livros); Física (8 livros); Ética a Nicómaco (10 Livros), Política (8 Livros), De Anima (3 Livros), Poética (1 Livro).[1]
Aristóteles foi o primeiro a elaborar um sistema completo de Lógica. Opondo-se ao idealismo platónico, demonstrou que as ideias não podem existir separadas das coisas, mas nem as imanentes. A relação entre a coisa e ideia altera-se em relação de matéria e forma: a primeira a é potência pura; a segunda determinação em potência em acto.
A realidade é unidade da matéria e forma. O devir das coisas procede do trânsito da potência ao acto. Só Deus é acto puro, único eterno.[2] São pensamentos similares a estes que vamos expor nos próximos tópicos, procurando sempre ser fiel as interpretações que aproximam a fonte. 

2.      A diferença entre Aristóteles e seus antecessores na elaboração Metafísica.
Embora a ontologia tenha começado com Parménides e Platão, costuma-se atribuir seu nascimento a Aristóteles quando este explicitamente formula a ideia de uma ciência ou disciplina que tem como finalidade própria o estudo do Ser, denominando-se filosofia primeira. Além disso, três outros grandes motivos levam a atribuir a Aristóteles o início da metafísica[3]:
1.      Diferentemente de seus dois predecessores, Aristóteles não julga o mundo das coisas sensíveis, ou natureza, um mundo aparente e ilusório. Pelo contrário é um mundo real e verdadeiro cuja essência é justamente, a multiplicidade de seres e a mudança incessante;
2.      Aristóteles considera que a essência verdadeira das coisas naturais e do seres humanos e de suas acções não esta no mundo inteligível, separado do mundo sensível, no qual as coisas físicas ou naturais existem e onde vivemos. As essências, estão nas próprias coisas, nos próprios homens, nas próprias acções e é tarefa da filosofia primeira conhece-las ali mesmo onde existem e acontecem;
3.      Ao se dedicar a filosofia primeira ou metafísica, a filosofia descobre que há diferentes tipos de seres ou entes que se diferenciam justamnete por suas essências. Para Parménides havia apenas o ser único, uno e imutável, para Platão, havia as coisas materiais ou sensíveis, sujeitas a mudança, e que eram cópias imperfeitas ou sombras do verdadeiro ser ou da realidade, as ideias. Podemos perceber que o critério de Parménides e de Platão para distinguir a realidade verdadeira e a aparência é a ausência ou a presença de mudança. Aristóteles também usará o mesmo critério de diferenciação dos seres, porém de maneira inteiramente nova.
Mudança, em grego (Kínesis[4]) que significa movimento, desta palavras derivam palavras em português como cinético, cinema, cinemática, que em inglês diz-se movie. Movimento não significa, simplesmente mudança de lugar ou locomoção. Significa também toda e qualquer mudança que um ser sofre ou realiza. Por isso é movimento:
1.      Toda a mudança qualitativa de um ser qualquer, por ex. a semente que se torna árvore, o animal que morre.
2.      Toda mudança ou alteração quantitativa, por ex. um corpo que aumente ou diminuía de volume, a divisão de um corpo em partes etc.
3.      Toda mudança de lugar ou locomoção, por ex. subir, descer, cair, vibrar
4.      Toda alteração que passe da acção a passividade ou vice-versa, por ex. de cortar a ser cortado, de amar a ser amando.
5.      Por fim é movimento toda a geração ou nascimento e toda a corrupção ou morte dos seres, nascer, viver e morrer são movimento
Em suma, o devir, em todos os seus aspectos, é o movimento. E Parménides e Platão excluíram o movimento da essência do ser. Enquanto que Aristóteles nega que o movimento e Não-Ser ou irrealidade sejam o mesmo. E diferenciaram os seres conforme estejam ou não em movimento.
Existe a s essência dos seres que são e estão em movimento, isto é, os seres físicos ou naturais (minerais vegetais, animais), cujo modo de ser se caracteriza por nascer, viver, mudar, reproduzir-se e desaparece. São seres em devir e que existem no devir.
Existe a essência dos seres matemáticos, que não existem em si mesmo, mas como forma das coisas naturais, podendo, porém ser separados delas pelo pensamento e ter suas essências conhecidas, são seres que, por essência, são imóveis, isto é, não nascem, não mudam, não se transformam nem perecem, não estando no devir
Existe a essência de seres cuja essência é imutável ou imóvel, não nascem, não se transformam e não perecem, mas que realizam um movimento local perfeito, eterno, sem começo nem fim: os astros, que realizam o movimento circular.
E, finalmente existe a essência de um ser eterno, imutável, imperecível, sempre idêntico a si mesmo, perfeito, imaterial, do qual o movimento esta inteiramente excluído, conhecido apenas pelo intelecto, que o conhece como separado do nosso mundo, superior a tudo que existe, e que é por excelência: o ser divino.
Para cada um desses tipos de ser e suas essências existe uma ciência teorética própria (física, biologia, psicologia, matemática, astronomia etc.). Mas também deve haver uma ciência geral, mais ampla, mais universal, anterior a todas essas, cujo objecto não seja esse ou aquele tipo de Ser, essa ou aquela modalidade de essência, mas o ser em geral. Trata-se de uma ciência teorética que investiga o que é a essência e aquilo que faz com que haja essências particulares e diferenciadas. Isto é, deve haver uma ciência que estude o ser enquanto ser, sem considerar as diferenciações dos seres.
Essa ciência mais alta, mais ampla, mais universal é a filosofia primeira, escreve Aristóteles no primeiro livro da obra conhecida como Metafísica.[5]

3.      A metafísica aristotélica.
Na metafísica, Aristóteles afirma que a filosofia primeira estuda os primeiros princípios e as causas primeiras de todas as coisas e investiga “o Ser enquanto Ser”. A dizer isso ele quis afirmar que a filosofia primeira estuda as essências sem diferenciá-las em essências físicas, matemáticas, astronómicas, humanas, etc., pois cabe `as diferentes ciências estuda-las como diferentes entre si. A Metafísica cabe três estudo:
1.      O ser divino, a realidade primeira e suprema da qual todo o restante procura aproximar-se, imitando sua perfeição imutável. As coisas se transformam, diz Aristóteles, porque desejam encontrar sua essência total e perfeita, imutável como a essência divina. É pela mudança incessante que buscam imitar o que nunca muda. Por isso, o ser divino é o primeiro motor imóvel do mundo, que é aquilo que, sem agir directamente sobre as coisas, ficando a distância delas, as atrai, e é desejado por elas. Tal desejo as faz mudar para, um dia, não mais mudar. A mudança ou o devir são a maneira pela qual a natureza, ao seu modo, se aperfeiçoa e busca imitar a perfeição do imutável.
2.      O dos primeiros princípios e causas primeiras de todos os seres ou essências existentes.
3.      O das propriedades ou atributos gerais de todos os seres, sejam ele quais forem, graças aos quais podemos determinar a essência particular de ser particular existente. A essência particular de ser particular existente. A essência ou ousia é a realidade primeira e última de um ser, aquilo sem o qual um ser não poderá existir ou deixara de ser o que é. A essência, entendida dessa perspectiva universal, Aristóteles da o nome de substância, e a Metafísica estuda a substância em geral.[6] 

4.      Os principais conceitos que suportam Metafísica aristotélica enquanto disciplina filosófica
Os principais conceitos da Metafísica aristotélica e que depois se tornarão as bases de toda a Ontologia ocidental podem ser sintetizados nos seguintes:[7]
a)      Primeiros Princípios: são os três estudados na Lógica: identidade, não-contradição e terceiro excluído. Os princípios lógicos são ontológicos porque definem as condições sem as quais um ser não pode existir nem ser pensado; os primeiros princípios garantem, simultaneamente, a realidade e a racionalidade das coisas, razão pela qual alguns autores afirmam que “todo o problema metafísico esta em volta de teoria do conhecimento, do problema da relação sujeito objecto”.[8]
b)     Causas Primeiras: são aquelas que explicam o que é a essência e também a origem e o motivo da existência de uma essência. Causa para os gregos não só significa o porque de alguma coisa mas também o que e o como uma coisa é o que ela é. As causas primeiras nos dizem o que é, como é, por que é e para que é uma coisa, ou seja na explicação de Giovanni Reale e Dario Antiseri, Causa significa condição e fundamento.[9] As causas primeiras são 4:
1.      Causa material: aquilo de que um ser é feito, sua matéria por exemplo, agua, fogo, ar, terra.
2.      Causa formal: é aquilo que explica a forma que um ser possui. A forma é propriamente a essência de um ser, aquilo que ele é em si mesmo ou aquilo que o define em sua identidade e diferença com relação todos os outros. Ex. rio ou mar são formas de agua.
3.      Causa eficiente: aquilo que explica como uma matéria recebeu uma forma para constituir uma essência. Ex: fogo é causa eficiente que faz os copos frios tornarem-se quentes.
4.      Causa final: fundamento que dá motivo, a razão ou a finalidade para alguma coisa existir e ser tal como ela é.
c)      Matéria (hyle): é o elemento de que as coisas da natureza, os animais, os homens, os artefactos são feitos; sua principal característica é possuir virtualidade ou possibilidade de transformação (mudança).
d)     Forma (eidos): é o que individualiza e determina uma matéria, fazendo existir as coisas ou os seres particulares; sua principal característica é ser aquilo que uma essência é. É forma-na-matéria não no sentido platónico.
e)      Potência: é a virtualidade que esta contida numa matéria e pode vir a existir, se for actualizada por alguma causa.
f)       Acto: é a actualização de uma mateira por uma forma e numa forma, o acto e a forma que actualizou uma potência contida na matéria.
g)      Essência: é uma unidade interna e indissolúvel entre uma mateira e uma forma, unidade que lhe da um conjunto de propriedade ou atributos que o fazem ser necessariamente aquilo que ela é.
h)     Acidente: é uma propriedade ou atributo ou uma essência pode ter ou deixar de ter sem perder seu ser próprio. A essência é o universal e o acidente é o particular.
i)        Substância: é aquilo em que se encontram a matéria-potência, a forma-acto, onde estão só atributo essências e acidentais, sobe o qual agem as quatro causas, é o ser propriamente dito.
Aristóteles usa o conceito de substância em dois sentidos: num primeiro sentido, substância é o ser individual e existente; e no segundo sentido, substância é o género ou a espécie a que um ser individual pertence ou seja o conjunto das características gerais que os indivíduos de um género e de uma espécie possuem.
Estes fazem parte de entre o conjunto de conceitos que a Metafísica de Aristóteles se propôs como disciplina filosófica. Porém com esse conjunto de conceitos forma-se o quadro da Ontologia ou Metafísica aristotélica como explicação geral, universal e necessária do Ser, isto é, da realidade. Esse quadro conceitual será herdado pelos filósofos posteriores, que problematizarão alguns dos seus aspectos, estabelecerão novos conceitos, suprimindo alguns.[10]

5.      Campos de investigação da Metafísica
Aristóteles distinguiu as ciências em três grandes ramos: a) as ciências teoréticas, isto é, ciências que buscam o saber em si mesmo; b) ciências práticas, isto é, ciências que buscam o saber para através dele alcançar a perfeição moral; c) ciência poieticas ou produtivas as que buscam o saber em função do fazer, isto é, com o objectivo de produzir determinados objectos.
Por dignidade e valor, as mais elevadas são as primeiras, constituídas pela Metafísica, a Física, Psicologia e a Matemática. Porém aqui e agora nos interessa a Metafísica a mais elevada e é em função dela que todas as outras ciências adquirem seu justo significado prospectivo.[11]
Enquanto disciplina que se estrutura e começa a ganhar espaço este ramo de saber filosófico ela investiga[12]:
a)      Aquilo sem o qual não há seres nem conhecimentos dos seres: os três princípios lógicos-ontológicos e as quatro causas;
b)      Aquilo que faz um ser ser necessariamente o que ele é: matéria, potência, forma e acto.
c)      Aquilo que faz um ser ser necessariamente como ele é: essência e predicados ou categorias.
d)     Aquilo que faz um ser existir como algo determinado: a substância individual (substância primeira) e a substância como género ou espécie (substância segunda)
Em suma a Metafísica estuda “o Ser enquanto Ser”, essa é perspectiva apresentada pela escritora brasileira Marilena Chaui em seu livro Convite `a Filosofia, embora de fácil compreensão achamos um pouco trivial essa exposição, que podemos encontrar também em Batista Modin.
Mas fiquemos com a síntese dos italianos Reale e Antiseri que nos apresentam de forma clara a definição e campo de investigação: a) a metafísica indaga as causas e os princípios primeiros ou supremos; b) a metafísica indaga a substância; c) a metafísica indaga o ser enquanto o ser, d) e por fim a metafísica indaga Deus e a substância supra-sensível.
Essa foi a poderosa síntese elaborada por Aristóteles começada por Tales a Platão e agora torna-se linhas mestras de uma disciplina que quer estruturar o raciocínio humano e quer-se impor como cosmovisão, objectivo que foi alcançado e consolidado.[13]

6.      Impacto da elaboração metafísica aristotélica na História do pensamento
A escola fundada por Aristóteles num primeiro momento não teve expoentes importantes e assim o pensamento do mestre caiu logo no esquecimento. Reaparece e é reapropriado durante a idade Media, primeiro no mundo árabe e depois no mundo cristão.
Do encontro do pensamento aristotélico com o islâmico resulta a escolástica árabe (Avicena e Averrois) do encontro com o cristianismo surge a grande escolástica católica (Alberto Magno, Tomas de Aquino, Roger Bacon, Duns Scoto, Occam). Também no renascimento (com Poponazi e Telesio) e no inicio da época moderna (com Locke) esta escola continua a ter representantes validos até aos dias de hoje[14] pois se fala de uma neo-escolástica ou mesmo um neo Aristotelismo ela hoje reaparece de um lado como exigência de superar-se os estreitos confins da história, das ciências positivas, das ciências humanas, de outro como de forma mais comum tentando trazer uma visão geral da coisas que cada um traz necessariamente consigo mesmo e que, entretanto, quase nunca se está disposto a reconhecer e muito menos a tornar rigoroso. Actualmente, apesar da hostilidade geral pela metafísica teórica, há uma metafísica necessária existencial que esta mais viva do que nunca, além dela se impor como disciplina ela estruturou o pensamento humano e este esquema governa mundo negar esse faço só pode mostrar a nossa grande crise antropológica: a negação da metafísica do homem quiçá dos outros entes.


CONCLUSÃO
A metafísica aristotélica inaugura o estudo da estrutura geral de todos os seres ou condições universais e necessárias que fazem os seres ou as condições universais e necessárias que fazem com que um ser exista e que possa ser conhecido pelo pensamento.
Afirma que a realidade no seu todo é inteligível ou conhecível em todos s seus aspectos gerias ou universais, devendo preceder as investigações que cada ciência realiza sobre um tipo determinado de ser.
Portanto ao tornar claro os principais conceitos da sua Metafísica, o génio aristotélico acabou por instaurar e lançar as bases de uma disciplina, superou seus antecessores e mestres e trouxe a metafísica aos homens foi um gesto prometeíco, traduzir e distinguir dois conceitos: o ser e o ente e as propriedades que o acompanham necessariamente.
Termos até hoje julgo eu, que muitos acabaram não conseguido explicar termos tão simples como esses remetendo tudo a palavra metafísica. Atitude muito longe da filosofia. Enfim, quem faz metafísica perscruta o mistério do ser dos entes com a finalidade de descobrir o que lhes dá consistência, e os preenche da realidade.




[1] Cfr. Giovanni Reale, Dario Antiseri, História da filosofia, Vl.  I, p. 175.
[2] Cfr. Batista Modin, Introdução a filosofia: problemas, Sistemas, Autores e Obras, p. 384.
[3] Cfr. As discussoes que podemos encontrar em Aniceto Molinaro, Metafisca, p. 30; Batista Mondin, Op. Cit.,  p. 83; Giovanni Reale, Dario Antiseri, Op. Cit.,  179. Embora discordem todos são unanimes de que Aristoteles tenha sido o sistematizador desta ciência.
[4] Kínesis é toda e qualquer alteração ou mudança experimentada por um ser: mudança de qualidade e quantidade, mudança de lugar; o nascer e morrer. O primeiro motor (o divino) é imovel porque perfeito, jamais submetido a qualqer tipo de movimento, sempre identico a si mesmo. Os seres mudam (movem-se) para realizar todas essas alterações e , um dia, deixarem de mover-ser.
[5] Cfr. Marilena Chaui, Convite `a Filosofia, pp.188-189; Cfr. Aristóteles, Metafisica: Livro I e II, Versão electrónica,  Livro I, 1º Capitulo.
[6] Ibdem.
[7] Não pretendemos esgotar todos os conceitos, tambem pela brevidade do trabalho não nos permite elencar e discutilos todos aqui. Nos limitamos a apresentar aqueles que estao mais em voga, acreditamos nos futuros trabalhos um exercicio mais acurado.
[8] Dr Carlos Machili,  Notas das aulas de Metafisica, Outubro de 2011, Universidade São Tomas de Moçambique. Maputo.
[9] Cfr. Op. Cit. p.180.
[10] Cfr. Marilena Chaui, Op. Cit., 190ss
[11]  Giovanni Reale e Dario Antiseri, Op. Cit., 179.
[12] Queriamos alertar quanto a este aspecto os autores em uso divergem bastante, uns preferem associar os campos de investigação o difinição arisototélica da Metafisica outros outros associam os campos de investigação aos objecto da Metafisica o mais interressante é que todas as perpectivas têm o mesmo pontode chegada, apenas divergem na ordem e harmonia da exposição por isso escolhemos a perpectiva de Giovanni Reale e Dario Antiseri, (Op. Cit. p. 179 ) que por motivos metodológicos apresenta uma certa hamonia e concordância expositiva e explicativa.
[13] Cfr. Aniceto Molinaro, Metafisica: Curso Sistemático, p. 31.
[14] Cfr. Batista Modin, Op. Cit. 228.

BIBLIOGRAFIA
ARISTÓTELES, Metafisica: Livro I e II, , 1984, Editora Abril S.A Cultural, São Paulo, tradução do grego de Vicenzo Coceo (versão electrónica)
BUNIN Nicholas, TSUI-JAMES E.P., Compêndio de filosofia. Ed. Loyola, 2002, São Paulo.
CHAUI Marilena, Convite `a Filosofia, 13ª edição, Ed. Ática, 2005, São Paulo.
MODIN Batista, Introdução a filosofia: problemas, Sistemas, Autores e Obras, 29ª edição, Ed. Paulus, 2009, São Paulo.
MOLINARO Aniceto, Metafisica: Curso Sistemático, 2ª edição, Ed. Paulus, 2004, São Paulo.
REALE Giovanni, ANTISERI Dario, História da filosofia: Antiguidade e  Idade Media, Vl. I, Edições Paulinas, 1990, São Paulo.

O futuro como ‘Profecia’ e como ‘Utopia’ em Nguenha


“Não é a primeira vez que o futuro esta no centro de debate. Ma certamente a primeira vez que ele é susceptível de ser encarado de maneira filosófica, pois é a primeira vez que somos chamados a escolher o tipo de futuro de que queremos que seja nosso e por consequência dos nossos filhos, sem condicionamentos ideológicos”. (Severino Nguenha)
No ano de 1993 Nguenha publica um livro intitulado Filosofia Africana: das Independência `as Liberdades, obra que aos olhos de muitos parece mais um escrito, para outros um conjunto de lucubrações filosóficas. Para os amantes das ideias um livro muito actual ano foi explorado na integra pelos seus destinatários, não parece que fora escrito naquele longínquo ano em que o seu País estava se preparando para primeiras eleições.
Embora esta obra esteja tenha como centro a reflexão sobre a liberdade como o fulcro da historicidade do pensamento negro, como Ele mesmo diz, “se tivermos que dar um outro nome a este ser chamado Homem, o seu nome seria liberdade”.[1] Mas o que mais me chamou atenção no livro e nas sessões de aula do pensamento africano foi o assunto voltado ao Futuro. Justificaremos a escolha no tópico reservado a posição pessoal. Por enquanto voltemos ao autor em análise.
Ao abordar esta problemática começa assim: o problema do futuro é complexo, a filosofia tem a missão futuro porque é no futuro que esta o tipo de homem e de sociedade que formamos hoje. E encarar esta problemática de maneira filosófica significa assenhora-se da própria liberdade e assenhorar-se do tipo de futuro que se quer que seja o nosso. Tarefa que não é fácil, porque significa pôr em jogo a própria existência como sujeito, e não ser instrumento da vontade alheia ou seja objecto. Diz ainda o pensamento, a filosofia torna possível o amanhã, mas ao mesmo tempo, interroga-se o tipo de amanha.
“Mas de que meio se serve a filosofia para questionar o tipo de amanha. Por outras palavras qual é a maneira mais filosófica de pensar o futuro, a profecia, a utopia ou a futurologia”[2] antes de embrenharmos neste terreno bastante pavoroso, devemos olhar ao nosso redor, para vermos como a filosofia se te posicionado em relação ao futuro, e qual tem sido a mais maneira filosófica africana de encarar o futuro.

Mas o que é o Futuro e Utopia para Nguenha?
Futuro é aquela fantasia política que permite inventar o amanha e viver o hoje. Citando Ray Bradbury diz futuro é ser capaz de fantasia, significa ser capaz de sobreviver. É  isso sim porque na existência tudo se faz em função do Futuro. E o passado é o campo de recordações e nostalgia de factos e de necessidades.
O futuro é o conjunto de projectos, de possíveis, de esperanças, de liberdades, porque temos de escolher entre os diferentes possíveis ou criar outros. Se não formos capazes disto, o nosso futuro não será diferente do nosso passado. E importante analisar a nossa história, para que se abra um novo futuro, que não seja um simples prolongando da história, para que possamos ser senhores do nosso destino e da nossa história.
Posto que a filosofia tem a missão futura, as preocupações das sociedades africanas estão mais voltadas ao futuro, Nguenha faz uma constatação que considero até um certo ponto patológica: os debates que animam a filosofia africana parecem imbuídos de preocupações contrárias as aspirações das comunidades africanas. A disputa que animas os filósofos tem a ver com os passados (etnologia) esquecem-se que o futuro é dever filosófico. E questiona: porque a nossa reflexão que se quer filosófica, isto é universal e voltada em direcção ao futuro, deve embater necessariamente no discurso etnológico, que é particularmente voltado para o passado?[3] “A necessidade constante de nos voltarmos em direcção ao passado, é manifestação de uma crise profunda que atravessamos…trata-se de uma crise das condições próprias da existência humana, da maneira própria de ser homem”.[4] 
E essa fuga ao passado na análise de Nguenha resulta da dificuldade de responder ao sonho legítimo das populações africanas pela liberdade, adoptaram posicoes de fuga, em direcção ao passado sob forma de mítica de personalidade africana, ao mesmo tempo que adoptavam futuristicamente e utopicamente as formas ocidentais de organização do mundo. E faz todo um esforço de indicar o caminho embora não se libertado totalmente deste apriorismo que ele mesmo chama de passado.
O futuro tem três aspectos: o primeiro, é a sua antecipação no presente; o segundo, é um futuro que seja em parte nosso e em parte dos outros (um pouco na perspectiva escatológica o já e o ainda não); o terceiro, (futuro do futuro) que será dos que ainda não nasceram, um futuro que não pode e nem sequer devemos predeterminar na sua originalidade, mas que condicionamos de uma certa maneira, e desta forma somos responsáveis. A relação com o futuro não é uma relação com o inexistente e ser sujeito significa tudo isso, pensamento que voltaremos a desenvolver a nos próximos parágrafos.
Após esta clarificação conceitual e ao mesmo tempo provocadora empenhemo-nos em apresentar as posições do actual filósofo da história sobre as duas formas de a filosofia pensar o futuro, posto que sua missão não é o passado, mas sim o futuro. Tentando responder assim a inquietação sobre a maneira mais filosófica de pensar o assunto, ou qual é instrumento de que se serve o filosofo para pensar o futuro e qual é fundamento do projecto futuro. Preocupação que une quase todos os escritos de Nguenha.

Futuro como Profecia  
A missão futuro pensada como profecia é imbuída aos profetas, o acto decisivo deriva do alto e tem um carácter real, essa forma de existência apenas é possível no âmbito das religiões reveladas, nas quais Deus, faz conhecer a sua votado por meio de um homem por Ele escolhido.
Porém a filosofia Africana não pode nem deve ignorar a dimensão profética sobretudo, quando esta pretende trazer a sua contribuição `a causa das massas africanas, razão pela qual a filosofia africana nasceu.
Se África tivesse seus profetas não teria cometido erros que custaram vidas humanas, de destruições materiais, de atraso em relação ao ritmo actual da humanidade. A lastima que Nguenha aponta se volta para a ausência deste profetas hoje, nesse sentido o profeta como guia capaz de apontar a melhor hipótese hoje para atingir as finalidades que nos propusemos ao alcançar as independências. Nos faz perceber que as igrejas que seriam as supostas depositárias da esperança, assim como os pensadores da negritude, tem dificuldade de conciliar a sua missão, cometem mesmos erros, fazem ‘discurso dos discurso’ e sempre voltados ao passado. Nem a dita teologia da esperança ou da libertação conseguiu resistir a essa tentação tornando-se desse modo uma etno-teologia. Todas sempre preocupadas além de influenciar o futuro mas em querer corrigir um passado que já não existe.
E chama atenção papel profético das igrejas da África Austral para a manutenção da paz e da reconciliação entre grupos políticos, étnicos e tribais. Esse papel cabe as igrejas e não será substituído por outras instituições humanas. A tarefa da Igreja deve ser profética, não pode se limitar simplesmente na reconciliação dos homens, ela deve participar na educação no sentido da tolerância, da indulgência, da solidariedade que são prerrogativas indispensáveis para a edificação da democracia e dum futuro diferente. Penso que a partir da educação que é possível antecipar e influenciar o futuro.
Enfim cabe a Igreja em sua missão profética, a sobrenatural tarefa de construir uma comunidade de destino onde cada um ocupe plenamente o seu lugar.
Por isso avança um conselho e uma critica simultaneamente, como é impossível fazer valer a profecia, somos obrigados a recorrer outros meios. Quererá Nguenha dizer que vivemos um período de igrejas sem profecia, ou que esta esqueceu-se da sua missão profética? Penso que sim, pois antes mesmo de afirma ele que a etno-teologia tem um discurso sem impacto no debate essencial sobre o devir da África. O discurso teológico efectuado por africanos tem como objectivos mostrar que as categorias da revelação bíblica ou teológica cristã existiam já nas religiões africanas. Sempre o erro é o mesmo o retorno ao passado, a imitação e pensar sempre tendo como referencia os outros, nada de novo!
Futuro e utopia
Estamos diante da maneira propriamente filosófica de pensar o futuro: a utopia. Que responde duas tendências profundas que se encontram no ser humano: a curiosidade do futuro e necessidade de esperar.
Na perspectiva do autor em estudo utopia será a força fecunda da história, que usa a esperança de uma maneira atenta e libertadora, evidenciando o esforço de transformar a ordem factual-historica para adequa-la a ordem ideal. Utopia não é um pensamento vão, sem fundamento, como uma flor de ilusão. Como actualmente se pretende.
Utopia significa a capacidade de antecipar conteúdos concretos que se realizarão no futuro mais ou menos longínquo. É uma fé racional numa realidade não existente, mas potencial, que representa um bem para quem a sustenta.[5]
Agora, sendo uma fé racional, a cidade utópica assim como previu, Platão, T. More, e se quisermos considerar Marx, só pode acolher a fantasia politica de um único utopista, porque só ele antevê  a verdadeira forma de estado e só ele encontrou a solução. A cidade utópica é portanto o sonho de um só homem, e seus habitantes carecem de uma dimensão histórica, não possuem a noção do bem ou do mal, são simplesmente bonecos idiotas. É aqui onde reside a maldade da utopia, tornar história uma historia sem nomes, todos os nomes são absorvidos por um leviatã, ou um espírito absoluto.
A utopia é o reino da luz, da ortodoxia, não se pode lutar nem esperar numa utopia melhor, Nguenha lembra os fundadores dos partidos africanos que lutavam pelas independências, diz ele foram homens que tiveram sonhos ilustres, e sobretudo tiveram a coragem de lutar para transformar os próprios sonhos em realidade, mas após alcançada as independências no delírio de alcançar os seus sonhos, transformaram muitas vezes os próprios povos em instrumentos de realização das suas utopias. E como na cidade utópica não se admite um segundo sonho, todos aqueles que ousarem sonhar diferente, pôr em dúvida a utopia dos dirigentes forma vítimas da ortodoxia utópica dos primeiros, as revoluções tornaram-se opressões e os libertadores em opressores.
É aqui onde reside a actualidade de Popper, na sua obra As sociedades abertas e seus inimigos, escreve ele: “o que nos devemos aprender com Platão é exactamente o contrário da sua doutrina. E esta é a lição que não deve ser esquecida. Por quanto excelente possa ser o diagnóstico sociológico de Platão, o seu desenvolvimento mostra que a terapia que recomenda é o pior do que o mal que ele procurava combater”.[6] Particularmente considero que a mesma crítica é dirigida a More e Marx.
E pensar futuro como utopia significa acima de tudo deixar para trás o passado africano e tomarmos a estrada da modernidade, citando M. Towa, Nguenha propõe que interrompamos a historia, que saímos dela, limpemos a tela vamos recomeçar do início e traçar um sistema social completamente novo. Mas isso não é certo assevera Nguenha, criticando Towa: o que será do futuro, se nos desfizermos de tempo vivido? Possivelmente seremos macacos imitadores.
E por fim uma forma concreta de realizar livremente essa forma de pensar as nossas liberdades é o federalismo que é uma forma filosófica de resolver e realizar as independências, é aqui nos estados federados que a independências significariam liberdades concretas e objectivas. As liberdades seriam exercidas desde o nível micro até ao mais alto. Esse é fundamento concreto filosófico do projecto futuro.
Portanto é essa a longa marcha africana que Nguenha desafia a nós todos se quisermos ser senhores da nossa história e do nosso destino, para que essa marcha em direcção a liberdade continue, temos que sofrer as leis da mudança temporal de uma maneira consciente.” Se possível antecipar os tempos e obrigar os eventos a se submeter `a lei a nossa vontade. Porque se não tivermos a coragem de antecipar os tempos e pormo-nos ao lado da cultura, sofreremos a lei da natureza, dos outros homens, ou ainda da natureza, dos outros homens e dos seus falhanços”.

Relação entre as duas formas de pensar futuro: profecia e utopia
A relação é simples mas confusa, as duas formas de pensar o futuro resultam da mesma necessidade: a impaciência da justiça., isto é a visão do que deveria ser. Uma necessidade não que pela sua natureza não pode ser satisfeita no individuo, mas simplesmente na sociedade. Ambas tendem para a perfeição: por um lado para a profecia o acto decisivo da perfeição deriva do alto por outro lado para a utopia a sociedade perfeita que se aspira é introduzida por uma acção humana deliberada.
Por fim, ambas tem um carácter realístico, por um lado temos um realismo profético (o que na linguagem religiosa escatológica seria o escaton o já e o ainda não) e por outro lado temos o filosófico (que seria antecipar) como disse Victor Hugo as utopias de hoje são as certezas de amanha. Isso é que significa ser sujeito, antecipar os tempos e obrigar os eventos a se submeter `a lei a nossa vontade.

Síntese
Quanto se discute sobre filosofia ou teologia africana, as reflexões são como constatou Nguenha são arqueológicas ou etnológicas ou mesmo são et-filosofia ou são etno-teologias. Existe uma grande pandemia nos intelectuais africanos que é urgente curar começando pelas causas não pelos sintomas.
Vivemos o tempo presente com problemas novos e que exigem soluções novas, não obstante o pensamento africanos que se pretende universal não parece viver no presente, carrega ainda manchas do passado, sempre que se pretende uma discussão seria parece que partimos do apriorismo do passado, mesmo o próprio Nguenha apesar de ser crítico dos principais expoentes do pensamento africanos até mesmo dos críticos, consideraríamos Nguenha e toda a sua corrente de críticos dos críticos, não são totalmente livres desse apriorismo, dedicam metade de suas obras por esse passado que se aconselha que deve estar enterrado.
Por um lado atribuímos todas as razoes por ser filósofos da história e como tal há que descrever os factos e históricos feitos por homens e o fim ético do mesmo com objectividade, mas por outro lado devemos as vezes sem razão temos que deixar de chorar ou lamentar nos murros história, para de nos olhar sempre a partir das lentes dos outros e encontrar respostas novas, pensamentos novos frente ao nosso existencial actual e sua problemática.
Nesse aspecto penso que Nguenha e toda sua equipa (não sei podíamos chamar de corrente) revela algo de novo a preocupação com as liberdades, a longa marcha que devemos fazer hoje para concretizar essas liberdades já que notamos uma certa traição ao projecto político após as independências, os libertadores se tornaram tiranos e ditadores as utopias de toda uma comunidade se foram absorvidas por uma única as que tentaram resistir foram lançada para as periferias e até mesmo sufocadas.
É nessa senda que estando no presente temos que enterrar o passado não que seja mau mas porque é um campo que não podemos fazer mais nada.
Nguenha propõem a três maneiras de pensar o futuro embora a nossa reflexão se tenha focalizado em apenas dois o de profecia e o de utopia mas é sobretudo na utopia que devemos concentrar nosso esforços. Posto que o filósofo não deve ater-se a profecia pois essa tarefa cabe do profeta, cabe ao filosofo respeitar, mas no caso concreto no contexto africano nem mesmo a igreja desempenha essa missão profética por um lado por estar unida também ao apriorismo do passado (etno-teologia), cabe ao filósofo desempenhar a sua missão que o é também da filosofia (missão futuro) e este na sua missão de ser porta-voz da humanidade propor essa fé racional, essa capacidade de fantasia mas que seja fantasia de todos, não de um só líder, e que a fantasia diferente não seja vitima da ortodoxia do primeiro, mas da síntese entre o primeiro e os segundo para há uma necessidade de ampliar os espaços de debate, ampliar as liberdades.
Esse foi o erro histórico que muitos países africanos cometeram ao se apoderarem das independências. Tornar os estados fortes sufocando as liberdades, e os possíveis futuros.
“Quando o presente de desintegra, quando o passado manifesta simplesmente a nossa crise, quando o futuro parece uma miragem, onde se situa o lugar do recomeço, o verdadeiro lugar de renovação?”[7]
Devemos abandonar a esfera do sonho de fuga tanto para trás como para frente, para mergulharmos numa reflexão lúcida sobre o nosso projecto de estar no mundo hoje.
Enfim, o futuro como utopia participativa penso ser a solução para o problema das liberdades com que a África se depara. A utopia liberdades devia fervilhar nas lucubrações filosóficas dos pensadores africanos, porque o pensamento África em todos âmbitos se constituio e se constitui como liberdade, o inscrever-se na história como subjectividade não fora feito a parti dos olhares dos outros mas a partir de si mesmo, quando os idealizadores da independências acolheram cada um seu modo o convite de Garvey de ‘plantar sobre o solo de África o mastro da liderdade’. Embora este mastro não tenha sido plantado aqui é com África que as liberdades alem de ser um problema político é também um problema ético. Hoje queremos não liberdade mas liberdades essa é a utopia que alimenta os nosso sonhos futurístico, mais liberdades e que essa liberdade se traduza em desenvolvimentos se quisermos usar a linguagem do premio Nobel da economia o economista Amartya Sen.
Não formos capazes disso continuaremos ser os bonecos idiotas, sem futuro sem história, mas como E. Bloch mesmo dizia a consciência humana é tão aberta ao futuro que é capaz de sonhos diurnos, nos quais na clara luz do dia antecipa as coisas que só a noite ousa sonhar. Para mim isso é que significa ser fautor da história, ser subjectividade se alguém não algo.
Enfim é no futuro que está o tipo de homem e por conseguinte o tipo de sociedade que desejamos, o tipo de homem que quer Nguenha chama atenção é o tipo de homem que sejam sujeitos e não objectos da história, porque? Porque o único domínio temporal que o homem pode influenciar ou mesmo mudar é o futuro, o único espaço sucessível de sujeitar as nossas decisões, e os futuros são muitos e alternativos entre eles, ligados `a decisões possíveis e aos eventos. Não podemos mudar o passado, mas podemos escolher o tipo de futuro que queremos.
O futuro é o espaço aberto ao possível, ao nosso desejo, aos nossos sonhos, `a nossa liberdade. É o domínio da liberdade porque cada um de nós é livre de conceber diferentes modos de ser, de viver e de existir, a condição de situá-lo no futuro. Tanto a concepção profética quanto a filosófica, são todas autentica forma de existir, mas não devo deixar de considerar que mais autêntica e sublime é a filosófica.


[1] Comunicação de Severino Nguenha, no Ciclo de Palestra de Filosofia na UEM, Maputo, 06.09.2011
[2] Severino Nguenha, Filosofia Africana: das Independência `as Liberdades, p. 12
[3]Severino Nguenha, Op. Cit. p. 12-13.
[4] Severino Nguenha, O Retorno do Bom selvagem: Uma Perspectiva Filosófica-Africana do Problema Ecológico. p. 114.
[5] Cfr. Severino Nguenha, Op. Cit. p.152.
[6] Karl Popper, As sociedades abertas e seus inimigos, apud. Severino Nguenha, Op. Cit.
[7] Severino Nguenha, Op. Cit. p. 117.

Bibliografia
NGUENHA Severino Elias, Filosofia Africana: Das Independências `as Liberdades. Edições paulinas, Maputo, 1993.
______________________, O Retorno do Bom selvagem: Uma Perspectiva Filosófica-Africana do Problema Ecológico, Edições Salesianas, Porto, Sine/Data.