Este artigo
pertence a James Pryor da Universidade de Princeton porém uma vez que encontrei não sei como no meu disco esterno partilho
convosco.
Escrever, em
filosofia, é diferente do que se pede ao estudante para redigir noutros cursos.
A maior parte das estratégias descritas abaixo será útil também quando o
estudante precisar de escrever ensaios noutras disciplinas, mas não se deve
presumir automaticamente que o seja, nem que as orientações dadas por outros
professores serão necessariamente úteis quando se escreve um ensaio de
filosofia; algumas dessas orientações são rotineiramente desconsideradas na boa
prosa filosófica (por exemplo, veja-se as regras de gramática, abaixo).
O QUE SE FAZ
NUM ENSAIO DE FILOSOFIA?
1. Um ensaio de
filosofia consiste numa defesa argumentada de uma afirmação.
Os ensaios dos
estudantes devem oferecer um argumento. Não podem consistir na mera exposição
das suas opiniões, nem na mera apresentação das opiniões dos filósofos
discutidos. É preciso que o estudante
defenda as afirmações que faz e que ofereça razões para se pensar que são
verdadeiras.
Assim, o
estudante não pode simplesmente dizer:
A minha opinião
é que P.
Deve antes
dizer algo como:
A minha opinião
é que P. Penso isto porque...
ou:
Penso que as
considerações seguintes... oferecem um argumento convincente em defesa de P.
Da mesma forma,
o estudante não deve dizer simplesmente:
Descartes
afirma que Q.
Ao invés, terá
de dizer algo como o seguinte:
Descartes
afirma que Q; contudo, a seguinte experiência mental mostrará que não é verdade
que Q...
Ou:
Descartes
afirma que Q. Julgo que esta afirmação é plausível, pelas seguintes razões...
Um ensaio de
filosofia pode ter vários objectivos. Geralmente começamos por apresentar
algumas teses ou argumentos para consideração do leitor, passando de seguida a
fazer uma ou duas das coisas seguintes:
- Criticar o argumento, ou
demonstrar que certos argumentos em defesa da tese não são bons.
- Defender o argumento ou tese
contra uma crítica.
- Oferecer razões para se acreditar
na tese.
- Oferecer contra-exemplos à tese.
- Contrapor os pontos fortes e
fracos de duas perspectivas opostas sobre a tese.
- Dar exemplos que ajudem a explicar
a tese, ou a torná-la mais plausível.
- Argumentar que certos filósofos
estão comprometidos com a tese por causa dos seus pontos de vista, apesar
de não a terem explicitamente afirmado ou endossado.
- Discutir que consequências a tese
teria, se fosse verdadeira.
- Rever a tese à luz de uma objecção
qualquer.
É necessário apresentar
explicitamente as razões que sustentam as nossas afirmações, independentemente
de quais destes objectivos tenhamos em mente. Os estudantes geralmente sentem que
não há necessidade de muita argumentação quando uma dada afirmação é para eles
evidente; mas é muito fácil sobrestimar a força da nossa própria posição.
Afinal de contas, já a aceitamos. O estudante deve presumir que o leitor ainda
não aceita sua posição e tratar o ensaio como uma tentativa de persuadir o
leitor. Por isso, não se deve começar um ensaio com pressupostos que quem não
aceita a nossa posição vai com certeza rejeitar. Se queremos ter alguma
hipótese de persuadir as pessoas, temos de partir de afirmações comuns, com as
quais todos concordam.
2. Um bom
ensaio de filosofia é modesto e defende uma pequena ideia, mas apresenta-a com
clareza e objectividade, e oferece boas razões em sua defesa.
Muitas vezes,
as pessoas têm demasiados objectivos num ensaio de filosofia. O resultado disto
é, normalmente, um ensaio difícil de ler e repleto de afirmações pobremente
explicadas e inadequadamente defendidas. Portanto, devemos evitar ser demasiado
ambiciosos. Não devemos tentar chegar a conclusões extraordinárias num ensaio
de 5 ou 6 páginas. Feita adequadamente, a filosofia avança em pequenos passos.
3.
Originalidade
O objectivo dos
ensaios escolares é demonstrar que o estudante entende o problema e é capaz de
pensar criticamente sobre ele. Para que isto aconteça, o ensaio do estudante
tem de revelar algum pensamento independente.
Isto não
significa que o estudante tem de apresentar a sua própria teoria, ou que tenha
de dar uma contribuição completamente original para o pensamento humano. Haverá
muito tempo para isso no futuro. Um ensaio bem escrito é claro e directo (veja
abaixo), rigoroso ao atribuir opiniões a outros filósofos (veja abaixo), e
contém respostas ponderadas e críticas aos textos que lemos. Não é necessário
inovar sempre.
Mas o estudante
deve tentar trabalhar com os seus próprios argumentos, ou a sua maneira de
elaborar, criticar ou defender algum argumento que viu nas aulas. Não basta
simplesmente resumir o que os outros disseram.
TRÊS ESTÁGIOS
DE REDAÇÃO
1. Primeiros
Estágios
Os primeiros estágios
de redacção de um ensaio de filosofia incluem tudo o que o estudante faz antes
de se sentar para escrever o seu primeiro esboço. Estes primeiros estágios
envolvem a escrita, mas o estudante ainda não vai escrever um ensaio completo.
Pelo contrário, o estudante deve fazer anotações de leituras, rascunhos das
suas ideias, tentativas para explicar o argumento principal que deseja avançar,
e deve criar um esboço.
Discuta as
questões com os outros
Como foi dito,
espera-se que os ensaios dos estudantes demonstrem que estes entenderam o
assunto que discutiram nas aulas e, mais ainda, que podem pensar criticamente
sobre esse assunto. Uma das melhores maneiras de verificar a nossa compreensão
da matéria das aulas é tentar explicá-la a quem não está ainda familiarizado
com ela. Eu descobri repetidamente, enquanto ensinava filosofia, que não
conseguia explicar adequadamente uma questão ou argumento que julgava ter
entendido bem. Isto aconteceu porque o problema era mais complexo do que eu
tinha percebido. O estudante terá a mesma experiência. Por isso, é bom que
troque considerações com colegas e com amigos que não assistem às aulas, o que
o ajudará a compreender melhor o que discutimos nas aulas e a identificar o que
ainda não compreendeu inteiramente.
Será ainda mais
proveitoso que os estudantes troquem considerações entre si sobre o que querem
discutir nos seus ensaios. Quando as ideias do estudante estiverem
suficientemente bem trabalhadas para que ele possa explicá-las oralmente, então
ele estará pronto para se sentar e fazer um esboço.
Faça um esboço
de trabalho
Antes de
começar a escrever um rascunho, você precisa pensar sobre o que vai escrever:
em que ordem deve explicar os diversos pontos a serem abordados? Em que pontos
deve apresentar a posição ou argumento contrários? Em que ordem deve expor a
crítica que faz aos argumentos ou posições contrárias? O que pretende discutir
pressupõe outra discussão anterior? E assim por diante.
A clareza geral
do seu ensaio dependerá em grande parte da sua estrutura. Por isso, é
importante pensar sobre estas questões antes de começar a escrever.
Eu recomendo
fortemente que, antes de começar a escrever, o estudante faça um esboço do
ensaio e dos argumentos que vai apresentar, o que lhe será útil para organizar
os pontos que quer abordar e para lhes dar uma direcção. Este procedimento
também ajuda o estudante a assegurar-se de que pode dizer qual é seu argumento
principal ou crítica, antes de se sentar para escrever um rascunho completo.
Geralmente, quando os estudantes têm dificuldade em escrever, é porque ainda
não compreenderam bem aquilo que estão a tentar dizer.
Dê toda a
atenção ao esboço, que deve ser bem detalhado. (Para um ensaio de 5 páginas, um
esboço adequado deve ter uma página inteira ou mesmo mais.)
Eu acho que
fazer um esboço de trabalho representa pelo menos 80% do trabalho de escrever
um ensaio de filosofia. Se faz um bom esboço, o resto do processo de escrita
será muito mais tranquilo.
Comece logo a
trabalhar
Os problemas
filosóficos e a redacção filosófica exigem cuidado e reflexão complementares. O
estudante não deve esperar até duas ou três noites antes da data de entrega
para começar a escrever. Isto é tolo. Escrever um bom ensaio de filosofia exige
um grande esforço de preparação.
O estudante
precisa dar a si mesmo tempo suficiente para pensar sobre o tópico e escrever
um esboço detalhado. Só então estará pronto para escrever um rascunho completo.
Concluído o rascunho, abandone-o por um ou dois dias. Só então deve retomá-lo e
reescrevê-lo várias vezes. Pelo menos 3 ou 4. Se puder, mostre-o aos seus amigos
e observe as suas reacções. Eles compreendem os seus pontos principais? Há
partes no seu rascunho obscuras ou confusas para eles?
Tudo isso leva
tempo. Assim, o estudante deve começar a trabalhar nos seus ensaios assim que
os tópicos estejam determinados.
2. Escreva um
rascunho
Se o estudante
já reflectiu sobre o seu argumento e criou um esquema para o ensaio, então está
pronto para se sentar e escrever um rascunho completo.
Use uma
linguagem simples
Não aposte na
elegância literária. Use um estilo simples e directo; mantenha frases e
parágrafos curtos e escolha palavras familiares. Se usar palavras rebuscadas
onde as simples dariam conta do recado, os professores riem-se de si. As
questões da filosofia são suficientemente profundas e difíceis sem que o
estudante tenha de as enlamear com um linguagem pretensiosa ou verborreica. Não
escreva num estilo que não usaria coloquialmente: se não se diz assim, não o
escreva assim.
O estudante
pode pensar que, uma vez que o professor de filosofia já sabe muito sobre o
tema do ensaio, pode deixar de lado boa parte da explicação básica e escrever
num estilo super-sofisticado, como um especialista que fala com outro. Garanto
que este procedimento tornará o seu trabalho incompreensível.
Se o seu ensaio
soar como se tivesse sido escrito para uma audiência da terceira classe, então
provavelmente tem a clareza adequada.
Nas aulas de
filosofia o estudante encontra por vezes filósofos cujo estilo é obscuro e
complicado. Todos os que lêem este tipo de texto acham-no difícil e frustrante.
Os autores em questão são filosoficamente importantes, apesar de a sua
prosa ser má, e não por causa dela. Assim, não tente imitar esse tipo de
prosa.
Torne óbvia a
estrutura de seu ensaio
A estrutura do
seu ensaio tem de ser óbvia para o leitor. Não obrigue o leitor a despender
energias para a compreender. Ofereça as suas ideias de bandeja.
Como se pode
fazer isso?
Antes de mais
nada, use conectivos como os seguintes:
- Porque, uma vez que, dado o
argumento.
- Logo, portanto, por conseguinte,
segue-se que, consequentemente.
- Não obstante, todavia, mas.
- No primeiro caso, por outro lado.
Estes recursos
ajudam o leitor a não perder a direcção da sua argumentação. Certifique-se que
usa as palavras correctamente! Se disser "P. Portanto Q.", está a
afirmar que P é uma boa razão para se aceitar Q. É melhor que isso seja mesmo
assim. Se não for, os professores protestam. Não atire de qualquer maneira um
"portanto" ou um "consequentemente" para fazer o seu
pensamento parecer mais lógico do que realmente é.
Outro recurso
que pode ajudá-lo a tornar óbvia a estrutura do seu trabalho é dizer ao leitor
o que já fez até o momento e o que vai fazer em seguida. Pode dizer algo como o
seguinte:
- Começarei por...
- Antes de dizer o que está errado
com este argumento quero...
- Estas passagens sugerem que...
- Vou agora defender esta
afirmação...
- Esta afirmação é também apoiada
por...
- Por exemplo...
Estes
indicadores fazem uma grande diferença. Considere os seguintes dois fragmentos
de ensaios:
... Acabámos de
ver como X diz que P. Vou agora apresentar dois argumentos a favor de não-P. O
primeiro argumento é...
O segundo argumento a favor de não-P é...
X pode responder aos meus argumentos de várias formas. Por exemplo, poderia
dizer que...
Todavia esta resposta falha, porque...
X também poderia responder a meu argumento afirmando que...
Esta resposta também falha, porque...
Assim, vimos que nenhuma das respostas aos meus argumentos a favor de não-P foi
bem sucedida. Consequentemente, devemos rejeitar a afirmação de X de que P.
Vou defender a
ideia de que Q.
Há três razões para se pensar que é verdade que Q. Primeiramente...
Em segundo lugar...
Em terceiro lugar...
A objecção mais forte a Q é que...
Todavia, esta objecção não é bem sucedida, pela seguinte razão...
Veja-se como é
fácil reconhecer a estrutura destes ensaios. A estrutura dos ensaios dos
estudantes deve ser igualmente fácil.
Uma observação
final: deixe sempre muito claro quando expõe suas opiniões ou, ao contrário,
quando apresenta a opinião de algum filósofo que estiver discutindo. O leitor
não deve ficar em dúvida sobre a autoria das afirmações que faz em um dado
parágrafo.
O estudante não
conseguirá tornar óbvia a estrutura do seu ensaio se não souber que estrutura é
essa, ou se o ensaio não tiver nenhuma. Por isso é tão importante fazer um
esboço de trabalho.
Seja conciso,
mas explique-se completamente
Para escrever
um bom ensaio de filosofia, precisamos de ser concisos. Ainda assim, temos de
explicar completamente os nossos pontos de vista.
Pode parecer
que estas exigências nos empurram em direcções opostas (é como se a primeira
dissesse "Não fale muito," e a segunda dissesse "Fale
muito") mas, se as compreender adequadamente, verá que é possível atender
a ambas.
- Os professores insistem na concisão
porque não querem ver o estudante a divagar a respeito de tudo o que
conhece de um determinado tema, tentando mostrar como é inteligente e
culto. Cada ensaio deve tratar de uma única questão ou problema
específico. Certifique-se de que trata efectivamente desse problema em
particular. O que não se referir especificamente ao problema a ser tratado
não deve constar do seu ensaio. Elimine tudo o resto. É sempre melhor
concentrar-se em um ou dois pontos e desenvolvê-los em profundidade do que
falar de tudo. Um ou dois caminhos claros funcionam melhor que uma
floresta impenetrável.
Formule, no
início do artigo, o problema ou questão central que deseja tratar, e mantenha-o
em mente o tempo todo. Esclareça qual é o problema, e por que razão é um
problema. Certifique-se de que diz apenas o que é relevante para o tema central
e de que informa ao leitor da relevância do que vai tratar. Não o obrigue a
adivinhar.
- O que quero dizer com
"explique-se completamente" é que, quando temos um tópico para
explorar, não devemos simplesmente atirá-lo numa frase. Explique-o; dê um
exemplo; esclareça de que forma esse tópico ajuda o seu argumento.
Mas
"explique-se completamente" também significa ser tão claro e
explícito quanto possível quando estiver a escrever. Não é uma boa ideia
protestar, depois de o professor ter corrigido o seu artigo, dizendo "Eu
sei que disse isso, mas o que queria dizer é..." Diga exactamente o que
pretende. Parte da nota que receberá terá sido em função da capacidade para
dizer o que quer dizer.
Faça de conta
que o leitor não leu o material que está a discutir, e que não reflectiu muito
sobre ele, o que obviamente não será verdade. Mas, se o estudante escrever como
se isto fosse verdade, sente-se forçado a explicar termos técnicos, ilustrar
distinções estranhas ou obscuras, e ser tão claro quanto possível quando
resumir o que os outros filósofos disseram.
- Será bastante útil levar este
primeiro passo mais além e fingir que o seu leitor é preguiçoso, tolo e
maldoso. Preguiçoso, porque não quer se esforçar para descobrir o que as
suas frases embrulhadas querem dizer, nem qual é seu argumento, se não for
completamente evidente. Tolo, porque terá de explicar-lhe, de forma
simples e pormenorizada, tudo o que disser. Maldoso, porque não vai ser
caridoso ao ler seu artigo. (Por exemplo, se disser qualquer coisa que
permita mais de uma interpretação, ele vai presumir que dissemos a menos
plausível.) Se o estudante compreende a matéria sobre a qual está a
escrever, e se direcciona seu artigo para este tipo de leitor,
provavelmente conseguirá ter uma nota muito elevada.
Use muitos
exemplos e definições
É muito
importante usar exemplos num ensaio de filosofia. Boa parte das afirmações que
os filósofos fazem são muito abstractas e de difícil compreensão, e os exemplos
são a melhor forma de as tornar mais claras.
Os exemplos são
também úteis para explicar os conceitos que ocupam um papel central no
argumento do estudante. Procure deixar clara a maneira como os entende, mesmo
que sejam recorrentes em discursos do dia-a-dia. Tal como são usados no
dia-a-dia podem não ter um significado suficientemente claro ou preciso. Por
exemplo, suponha que está a escrever um ensaio sobre o aborto, e quer sustentar
que "Um feto é uma pessoa." O que quer dizer com "pessoa"?
O que quer dizer com "pessoa" vai determinar fortemente se esta
premissa será ou não aceitável para o leitor. Também fará uma grande diferença
no efeito persuasivo do seu argumento. Em si, o seguinte argumento não tem
valor:
Um feto é uma
pessoa.
É errado matar uma pessoa.
Logo, é errado matar um feto.
Não tem valor
porque não sabemos o que o autor pretende dizer ao afirmar que um feto é uma
pessoa. Segundo algumas interpretações de "pessoa", pode ser óbvio
que um feto seja uma pessoa. Em contrapartida, será bastante controverso se, no
mesmo sentido de "pessoa", matar for sempre algo errado. Segundo
outras interpretações, é mais plausível que seja sempre errado matar pessoas,
mas totalmente confuso se um feto pode ser entendido como "pessoa."
Assim, tudo resulta no que o autor pretende dizer com "pessoa". O
autor tem de ser explícito a respeito do uso desse conceito.
Num ensaio de
filosofia, podemos dar às palavras um sentido diferente do usual, mas teremos
de deixar claro que estamos a fazer isso. Por exemplo, alguns filósofos usam a
palavra "pessoa" significando qualquer ser capaz de pensamento
racional e auto-consciência. Entendido desta forma, animais como baleias e
chimpanzés podem perfeitamente ser entendidos como "pessoas". Não é
este o significado que comummente damos a esta palavra; comummente, só os seres
humanos são "pessoas". Mas está muito bem usar "pessoa"
neste sentido, se esclarecermos o que queremos dizer com este termo. O mesmo
acontece com quaisquer outras palavras deste género que usemos nos nossos
ensaios.
Não
diversifique o vocabulário em benefício da variedade. Se referimos algo como "X" no
começo do ensaio, temos de continuar a referir-nos a isso como "X".
Por exemplo, não comece por falar sobre "a perspectiva de Platão sobre o
ego", mudando para "a perspectiva de Platão sobre a alma", e
depois para "a perspectiva de Platão sobre a mente". Se se refere à
mesma coisa nos três casos, use só um nome. Em filosofia, uma ligeira mudança
no vocabulário indica geralmente a intenção de nos referirmos a outra coisa.
Como usar
palavras com significados filosóficos precisos? Os filósofos dão a muitas palavras
comummente usadas significados técnicos precisos. Certifique-se de que usa
essas palavras correctamente. Não use palavras que não compreende bem. Use
termos filosóficos técnicos somente quando forem necessários. Não há
necessidade de explicar termos filosóficos gerais como "argumento
válido" e "verdade necessária". Mas deve explicar quaisquer
termos técnicos cujo uso conduza ao tópico específico que está a discutir.
Assim, por exemplo, se usar quaisquer termos especializados como
"dualismo" ou "fisicismo" ou "behaviorismo," deve
explicar o seu significado. Proceda da mesma forma se usar termos técnicos como
"sobreveniência" e outros semelhantes. Mesmo quando os filósofos
profissionais escrevem para outros filósofos profissionais têm de explicar o
vocabulário técnico especial que estão a usar. Pessoas diferentes às vezes usam
o vocabulário especial de diferentes formas, por isso é importante ter certeza
de que os nossos leitores dão a estas palavras o mesmo significado. Faça de
conta que seus leitores nunca as ouviram antes.
Como apresentar
e avaliar pontos de vista alheios
Se temos em
mente discutir as opiniões do filósofo X, temos de começar por descobrir quais
são os seus argumentos ou pressupostos centrais. Para alguma ajuda nesse
sentido, vejam-se as indicações que dou em Como
Ler um Texto Filosófico.
De seguida,
pergunte a si mesmo: os argumentos de X são bons? Os seus pressupostos são
apresentados com clareza? São plausíveis? São pontos de partida razoáveis para
o argumento de X, ou ele deveria ter oferecido algum argumento independente?
Certifique-se
de que entende exactamente o que a posição que está criticando diz. Os
estudantes perdem muito tempo a argumentar contra opiniões que parecem indicar
o que supõem estar sendo afirmado, mas na verdade dizem outra coisa. Lembre-se:
a filosofia exige um alto nível de precisão. Não basta simplesmente entender a
ideia geral da posição ou argumento de alguém. Temos de compreender
rigorosamente o que está a ser dito. (Neste aspecto, a filosofia está mais
próxima da ciência do que as outras humanidades.) Boa parte do trabalho em
filosofia consiste em certificarmo-nos de que compreendemos bem a posição de
quem discordamos.
Podemos
presumir que o nosso leitor é tolo (veja-se acima), mas não devemos tratar o
filósofo ou as posições que estamos a discutir como tolas. Se o fossem, não
estaríamos a discuti-las. Se não conseguimos ver nenhuma plausibilidade na
posição que estamos a refutar, talvez não tenhamos muita experiência em pensar
e argumentar sobre ela e ainda não compreendemos inteiramente por que motivos
os seus proponentes a defendem. Procure esforçar-se um pouco mais para
descobrir o que os motiva.
Os filósofos às
vezes dizem coisas perturbadoras, mas se a opinião que você está atribuindo a
um filósofo parece obviamente louca, então deve reflectir melhor e descobrir se
ele realmente diz o que você acha que diz. Use a imaginação. Tente descobrir
que opinião razoável o filósofo poderia ter tido em mente, e dirija seus
argumentos contra ela.
Nos nossos
ensaios temos sempre de explicar qual é a perspectiva X que queremos criticar,
antes de fazê-lo. Se não o fizermos, o leitor não poderá julgar se a crítica
que oferecemos a X é boa, ou se apenas se baseia em uma má interpretação ou má
compreensão do ponto de vista de X. Assim, diga ao leitor o que acha que X
afirma.
Contudo, não
tente dizer ao leitor tudo que sabe sobre o ponto de vista de X. O estudante
também tem de ter espaço para oferecer sua própria contribuição filosófica. Resuma
apenas aquelas partes da posição de X que são relevantes para o que pretende
fazer.
Às vezes
precisamos de argumentar em defesa das nossas interpretações do que X diz,
citando passagens que a confirmem. E é aceitável que queiramos discutir uma
opinião que julgamos ser de um filósofo, ou que poderia ter sido, apesar de nos
textos desse filósofo não haver nenhuma indicação directa desse ponto de vista.
Quando fizermos isto, todavia, devemos explicitamente dizer que o fazemos. Diga
algo como:
O filósofo X
não afirma explicitamente que P, mas parece que o presume porque...
Citações
Quando uma
passagem de um texto for particularmente útil para apoiar a sua interpretação
do ponto de vista de algum filósofo, pode ajudar se citar directamente a
passagem. (Especifique de onde retirou a passagem.) Todavia, as citações
directas devem ser usadas com parcimónia. Raramente é necessário citar mais do
que umas poucas frases. Frequentemente será mais apropriado parafrasear o que X
diz, do que citá-lo directamente. Quando parafraseamos o que outra pessoa
disse, temos de nos certificar que é claro que estamos a fazer isso (e também
neste caso temos de citar as páginas onde se encontram as passagens que estamos
a parafrasear).
As citações
nunca devem ser usadas com um substituto da nossa própria explicação. Quando
citamos um autor, temos de explicar o que a citação diz com as nossas próprias
palavras. Se a passagem citada contém um argumento, temos de o reconstruir em
termos mais explícitos e directos. Se a passagem citada contém uma afirmação ou
pressuposto principal, temos de indicar qual é. Pode ser que queiramos usar
exemplos para ilustrar a posição do autor. Por vezes, é necessário distinguir a
opinião do autor de outras com as quais pode ser confundida.
Paráfrases
Às vezes,
quando os estudantes tentam explicar o ponto de vista de um filósofo, fazem-no
através de paráfrases muito próximas às próprias palavras do filósofo. Mudam
algumas palavras, omitem outras, mas geralmente ficam muito próximos do texto
original. Por exemplo, Hume começa o seu Tratado Sobre o Entendimento Humano
da seguinte forma:
Todas as
percepções da mente humana se dividem em dois tipos distintos, a que irei
chamar impressões e ideias. A diferença entre eles consiste no grau de força e
vivacidade com que afectam a mente e entram no nosso pensamento ou consciência.
Àquelas percepções que entram com mais força e violência podemos chamar
impressões; e sob este nome eu abranjo todas as nossas sensações, paixões e
emoções, tal como primeiro surgem na alma. Por ideias entendo as imagens mais
fracas destas impressões no pensamento e no raciocínio.
Aqui está um
exemplo de como não se deve parafrasear:
Hume diz que
todas as percepções da mente se dividem em dois tipos: impressões e ideias. A
diferença está na intensidade da força ou vivacidade que têm nos nossos
pensamentos e na nossa consciência. As percepções com maior força e violência
são impressões: são as sensações, paixões e emoções. As ideias são imagens
fracas de nosso pensamento e raciocínio.
Há dois
problemas principais com paráfrases deste tipo. Em primeiro lugar, são feitas
mecanicamente. Não demonstram que o autor compreendeu o texto. Em segundo
lugar, uma vez que o autor ainda não compreendeu bem o que o texto quer dizer
de modo a expressá-lo pelas suas próprias palavras, há o risco de
inadvertidamente alterar o significado original do texto. No exemplo acima,
Hume diz que as impressões "afectam a mente" com mais força e
vivacidade do que as ideias. Mas a paráfrase diz que as impressões têm mais
força e vivacidade "nos nossos pensamentos". Não é óbvio que isto seja
a mesma coisa. Além disso, Hume diz que as ideias são imagens fracas das
impressões; mas a paráfrase diz que as ideias são imagens fracas do nosso
pensamento, o que não é a mesma coisa. Assim, o autor da paráfrase parece não
ter compreendido o que Hume diz.
Um modo muito
melhor de explicar o que Hume diz aqui seria o seguinte:
Hume afirma que
há dois tipos de "percepções" ou estados mentais, a que chama
impressões e ideias. Uma impressão é um estado mental muito "forte",
como a impressão sensorial que alguém tem ao olhar uma maçã vermelha. Uma ideia
é um estado mental menos "forte", como a ideia que se tem de uma maçã
quando pensamos sobre ela sem a ver. Não é claro o que Hume quer dizer com
"forte". Pode querer dizer que...
Antecipe
objecções
Tente antecipar
objecções ao seu ponto de vista e responda-lhes. Por exemplo, se você objectar
contra a opinião de algum filósofo, não presuma que ele admitiria imediatamente
que estava enganado. Imagine qual poderá ser a contra-objecção desse filósofo.
E como poderá responder a essa contra-objecção?
Não tenha
receio de mencionar objecções à sua própria tese. É melhor que nós mesmos
apresentemos objecções do que pressupor que o leitor não vai pensar nelas.
Explique como acha que estas objecções podem ser contraditas ou superadas.
Certamente não é possível, com frequência, responder a todas as objecções que
se possa levantar. Assim, concentre-se naquelas que parecem mais fortes ou mais
importantes.
O que acontece
se ficarmos encravados?
Os nossos
ensaios nem sempre têm de dar uma solução definitiva para um problema, ou uma
resposta directa, do tipo sim ou não, para o problema levantado. Muitos ensaios
excelentes de filosofia não oferecem respostas directas. Às vezes argumentam
que o problema precisa de ser clarificado, ou que certos problemas adicionais
precisam de ser levantados. Outras vezes, argumentam que certos pressupostos
precisam de ser desafiados. Outras vezes, ainda, argumentam que certas
respostas ao problema são fáceis demais, isto é, não funcionam. Assim, se estes
ensaios estiverem correctos, o problema será de resolução muito mais complexa
do que poderíamos ter pensado. Estes resultados são todos importantes e
filosoficamente valiosos.
Portanto, não
há problema em fazer perguntas e levantar problemas nos nossos ensaios, mesmo
que não possamos dar respostas satisfatórias a todos. Podemos deixar algumas
perguntas não respondidas no final do ensaio. (Mas temos de deixar claro para o
leitor que algumas questões ficarão propositadamente sem resposta.) E devemos
dizer algo sobre como a questão poderia ser respondida, e o que torna a questão
interessante e relevante para o tema em causa.
Se alguma coisa
na abordagem que estamos a investigar não ficou clara, não a devemos disfarçar.
Pelo contrário, devemos chamar a atenção para a falta de clareza e sugerir
diferentes formas de a compreender. Temos ainda de explicar por que razão ainda
não se pode dizer quais destas interpretações é a correcta.
Se apresentamos
duas opiniões e, após um exame cuidadoso, não conseguimos decidir entre elas,
tudo bem. Não há problema em dizer que os pontos fortes e fracos destas
opiniões têm igual força, mas note-se que isto também é uma afirmação que
exige explicação e defesa ponderada, como qualquer outra. Devemos
apresentar razões que a apoiem, mas estas razões têm de ser suficientemente
boas para eventualmente persuadir quem não acha que as duas opiniões têm igual
força.
Às vezes, ao
escrever, descobrimos que os nossos argumentos não são tão bons como pareciam
no início. Podemos ter encontrado uma objecção a um argumento a que não
conseguimos dar uma boa resposta. Não é caso para entrar em pânico. Se há uma
dificuldade com o nosso argumento que não conseguimos resolver, temos de tentar
descobrir por que razão não podemos fazê-lo. Não há problema em mudar a
nossa tese para outra que seja defensável. Por exemplo, ao invés de
escrever um ensaio que apresenta uma defesa inteiramente sólida da perspectiva
P, podemos mudar de ideias e escrever um ensaio que seja mais ou menos assim:
Segundo uma
perspectiva filosófica, P. Esta perspectiva é plausível, pelas seguintes
razões...
Todavia, há algumas razões para duvidar se será verdade que P. Uma destas
razões é X. X levanta um problema à opinião de que P porque...
Não é claro como o defensor de P pode superar esta objecção.
Ou podemos
escrever um ensaio da seguinte forma:
Um argumento a
favor de P é o "Argumento da Conjunção", que funciona como se
segue...
À primeira vista, este argumento é bastante atraente. Todavia, falha pelas
seguintes razões...
Podemos tentar corrigir o argumento, da seguinte maneira...
Mas estas correcções não funcionam, porque...
Concluo que o Argumento da Conjunção na verdade não consegue estabelecer que P.
Escrever um
ensaio desse tipo não significa que nos "rendemos" à posição
contrária. Afinal, nenhum destes ensaios nos compromete com a perspectiva
não-P. São apenas justificações honestas da dificuldade de se encontrar
argumentos conclusivos a favor de P. Mas pode ser que mesmo assim P seja
verdade.
3. Reescreva, e
continue a reescrever
Depois de
termos escrito um rascunho completo do nosso ensaio devemos deixá-lo de lado
por um dia ou dois. Então, devemos retomá-lo e relê-lo. À medida que for lendo
cada frase, diga a si mesmo coisas como:
"Esta
afirmação realmente faz sentido?" "Isto não está claro!"
"Isto é pretensioso." "O que quer isto dizer?" "Qual é
a conexão entre estas duas frases?" "Estou a repetir-me?", e
assim por diante.
Certifique-se que
todas as frases do seu rascunho fazem falta e livre-se daquelas que não fazem
falta. Se não consegue identificar a contribuição de uma frase qualquer para a
sua discussão central, livre-se dela, ainda que pareça boa. Nunca devemos
inserir questões a mais nos nossos ensaios, a menos que sejam importantes para
o argumento principal e que haja espaço para explicá-las.
Se não estiver
satisfeito com alguma frase, pergunte a si mesmo por que razão essa frase o
incomoda. Pode ser que não tenha entendido bem o que está a tentar dizer, ou
que não acredite realmente no que está a afirmar.
Temos de nos
certificar de que nossas frases dizem exactamente o que queremos dizer. Por
exemplo, suponha-se que escrevemos "O aborto é o mesmo que
assassinato". É isso realmente o que pretendemos dizer? Então, quando
Oswald assassinou Kennedy, ele estava a fazer o mesmo do que a abortar Kennedy?
Ou queremos dizer outra coisa qualquer? Talvez queiramos dizer que o aborto é
uma forma de assassinato. Numa conversa, é razoável esperar que alguém
entenda o que queiramos dizer, mas não deve escrever dessa maneira. Ainda que o
nosso professor de filosofia consiga entender o que queremos dizer, está mal
escrito. Na redacção filosófica, é preciso dizer exactamente o que se pretende.
Procure, ainda,
prestar atenção à estrutura de seu esboço. Quando for revê-lo, é muito mais
importante trabalhar na estrutura e clareza geral do trabalho do que ocupar-se
em apagar uma frase ou palavra. Certifique-se de que seu leitor sabe qual é sua
afirmação principal e quais são seus argumentos a favor dela. Temos de garantir
que os nossos leitores são capazes de dizer qual é o ponto principal de cada
parágrafo. Não basta que nós o saibamos. É preciso que seja óbvio para o
leitor, mesmo para um leitor preguiçoso, tolo e maldoso.
Se puder,
mostre o rascunho do seu ensaio a amigos ou colegas de curso e recolha alguns
argumentos e conselhos. Recomendo vivamente que o faça. Os seus amigos
compreendem os seus pontos principais? Há trechos obscuros ou confusos para os
outros no seu rascunho? Se os seus amigos não são capazes de compreender tudo
que escreveu, o professor também não o será. Os seus parágrafos e seu argumento
podem parecer perfeitamente claros para si e não fazer sentido para mais
ninguém.
Outra maneira
boa de verificar seu rascunho é lê-lo em voz alta, o que o ajudará a perceber
se é coerente. Nós podemos saber o que queremos dizer, mas o que pretendemos
dizer pode não estar realmente escrito. Ler o ensaio em voz alta ajuda-nos a
perceber falhas no nosso raciocínio, digressões e trechos obscuros.
Saiba que
precisará de escrever muitos rascunhos de seu artigo. Pelo menos 3 ou 4!
QUESTÕES
MENORES
Começar a
escrever
Não comece com
frases do tipo "Ao longo dos tempos, a humanidade tem reflectido sobre o
problema do...". Não há necessidade de aquecimento. Vá directo ao ponto,
na primeira frase.
Não inicie
igualmente o artigo com frases do tipo "O dicionário Webster define alma
como...". Os dicionários não são boas autoridades no campo da filosofia.
Eles registam a maneira como as palavras são usadas no dia-a-dia, mas muitas
destas palavras têm significados diferentes, especializados, na filosofia.
Gramática
- Não devemos evitar repetições, se
para as evitarmos obscurecemos o texto. Falar de Aristóteles, e depois de
"o estagirita" e depois de "o discípulo de Platão" só
para não repetir o nome de Aristóteles em nada ajuda a compreender o
texto.
- Evite deselegâncias gramaticais
que dificultam a compreensão, como frase passivas ("A doutrina da
imortalidade da alma foi aceite por Platão desde muito cedo" é muito
mais difícil de perceber do que a activa: "Desde muito cedo que
Platão aceitou a doutrina da imortalidade da alma.")
- Podemos usar livremente a primeira
pessoa nos nossos ensaios, sobretudo para marcar a diferença entre o
relato do que dizem os outros filósofos e o que nós pensamos do que eles
dizem. É mais claro dizer "Julgo que o cogito de Descartes é
uma falácia subtil" do que dizer "Julgamos que o cogito
de Descartes é uma falácia subtil".
- Procure usar frases declarativas e
assertivas simples, evite perguntas de retórica, exageros e hipérboles. É
mais claro dizer "Julgo que este argumento está errado." do que
dizer "Será que alguém pensa que este argumento está certo?".
- Procure usar claramente os
conectivos lógicos da linguagem. É mais claro dizer "Se a vida não
tem sentido, não há valores morais" do que dizer "Considerando
que a vida não tem sentido, somos forçados a concluir por necessidade que
a existência de valores morais tem de ser uma ilusão". Domine o uso
das conjunções (e), disjunções (ou), condicionais (se…, então…), negações
(não) e bicondicionais (…se, e só se,…). Domine também o uso dos
quantificadores (todos, alguns, pelo menos um, um e um só, etc.).
Leituras
secundárias
Na maioria das
disciplinas, há leituras complementares. Trata-se de leituras opcionais, e
devem ser fruto de estudo independente.
Não precisamos
de usar estas leituras complementares quando estamos a redigir um ensaio. O
objectivo do ensaio é ensinar o estudante a analisar um argumento filosófico e
a apresentar os seus próprios argumentos a favor ou contra uma dada conclusão.
Os argumentos que estudamos nas aulas são, por si, suficientemente complexos
para merecer toda a atenção do estudante.
Podemos
escrever o ensaio como um diálogo ou um conto?
Não. Bem
feitas, essas formas de redacção filosófica podem ser bastante eficientes. É
por isso que nas aulas estudamos alguns diálogos e contos. Mas são extremamente
difíceis de se fazer bem. É fácil cair na imprecisão e no uso de metáforas
pouco claras. É preciso dominar os métodos comuns de redacção filosófica antes
de se conseguir fazer um bom trabalho com estas formas mais difíceis.
Observações
técnicas
Procure
manter-se dentro do limite de número de palavras; nem mais, nem menos. Ensaios
muito longos são tipicamente demasiado ambiciosos, ou repetitivos, ou cheios de
digressões. A classificação dos estudantes sofrerá negativamente se os ensaios
tiverem qualquer um destes defeitos. Por isso, é importante perguntar a si
mesmo quais são as coisas mais importantes que tem de dizer, e o que pode ser
deixado de fora.
Mas o seu
ensaio também não deve ser demasiado curto! Não corte abruptamente um argumento.
Se o tópico que escolheu levanta certos problemas, assegure-se de que lhes
responde.
Use espaço
duplo nos ensaios, numere as páginas e inclua margens largas. Um ensaio
académico não deve ter capas de plástico, fotografias com cores, etc.; deve
valer pela sofisticação do conteúdo e pela sobriedade da apresentação.
Coloque o seu
nome no ensaio, e guarde uma cópia para si! (Estas coisas deveriam ser óbvias,
mas aparentemente não são.)
COMO SERÁ
CLASSIFICADO
Os estudantes
são classificados com base em três critérios básicos:
- Qual é o grau de compreensão dos
assuntos do ensaio?
- Que qualidade têm os argumentos
que oferece?
- A redacção é clara e bem
organizada?
Os professores
não avaliam o seu trabalho a partir de uma possível concordância com sua
conclusão. Pode ser que venhamos a discordar entre nós sobre qual seria a
melhor conclusão, mas não teremos dificuldade em concordar que tenha feito um
bom trabalho argumentando a favor de sua conclusão.
Mais
especificamente, faremos perguntas como as seguintes:
- O estudante afirma claramente o
que pretende com seu artigo? A sua tese principal é óbvia para o leitor?
- O estudante oferece argumentos que
apoiem as suas afirmações? É óbvio para o leitor quais são esses
argumentos?
- A estrutura do ensaio é clara? Por
exemplo, é fácil perceber que partes de seu artigo são exposições de
ideias e que partes são sua própria contribuição positiva?
- A prosa é simples, fácil de ler e
de fácil compreensão?
- O estudante ilustra as suas
afirmações com bons exemplos? Explica as noções principais? Diz
exactamente o que quer dizer?
- O estudante apresenta as opiniões
de outros filósofos de forma precisa e caridosa?
Os comentários
que mais frequentemente tenho feito aos artigos dos meus estudantes são os
seguintes:
- "Explique esta
afirmação" ou "O que quer dizer com isto?" ou "Não
compreendo o que está a dizer aqui".
- "Esta passagem não está clara
(ou confusa, difícil de ler)." "Complicado demais."
"Difícil de acompanhar." "Simplifique."
- "Por que razão afirma
isto?" "Há necessidade de argumentos mais fortes aqui." Por
que razão devemos acreditar no que diz?" "Explique por que razão
isto é uma razão para se acreditar em P." "Explique por que
razão isto se segue do que disse antes."
- "Irrelevante."
- "Dê um exemplo."
Tente antecipar
estes comentários e evite que o professor os tenha de fazer!
Responder a
comentários do professor
Quando tiver a
oportunidade de reescrever um artigo corrigido pelo professor, mantenha as
seguintes observações em mente.
Os textos que
reescrever devem tentar superar os erros específicos e problemas indicados pelo
professor. Se teve uma nota baixa, então seu rascunho estava, de um modo geral,
difícil de ler, era difícil reconhecer o seu argumento, a estrutura do ensaio,
e assim por diante. Só pode corrigir falhas como essas refazendo totalmente o
trabalho. (Abra um novo documento no seu processador de texto.) Use o rascunho
e as observações do professor para construir um novo esboço, e escreva a partir
dele.
Tenha em mente
que quando o seu professor dá uma nota a um ensaio reescrito ele pode reparar
em falhas que deixou escapar na primeira leitura, em partes que não foram
alteradas. Talvez estas falhas afectem a impressão geral de seu trabalho, mas o
professor não deu nenhuma recomendação específica de como corrigi-las. Por
isso, tente melhorar todo o trabalho, não apenas as passagens que o professor
comentou.
É possível
melhorar um ensaio sem que esta melhoria seja suficiente para garantir uma nota
superior à primeira. Às vezes isso acontece. Mas espero que consiga fazer
melhor.
Normalmente,
não terá a possibilidade de reescrever seus ensaios depois de terem sido corrigidos.
Por isso, precisa se disciplinar para escrever um rascunho, examiná-lo
cuidadosamente, revê-lo e reescrevê-lo antes de o entregar ao professor.
James Pryor
Agradecimentos:
Não quero
atribuir crédito falso a este trabalho. A minha contribuição consistiu, na sua
maior parte, em coligir e organizar sugestões de outras pessoas. Boa parte dos
conselhos que apresento aqui foi tomada de empréstimo dos apontamentos de
amigos e colegas. (Alison Simmons e Justin Broackes merecem crédito especial.)
E é de esperar que eu tenha encontrado alguns destes conselhos ao ler outros
guias deste género na Internet. Tenho muita pena de não ter registado essas