A formaçao do homem

"O que um homem pode ser, ele tem de ser" A. MASLOW



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PREPARAÇÃO PARA EXAME TURMAS A e B

INSTITUTO SUPERIOR MARIA MÃE DE ÁFRICA
Licenciatura em Acção Social
Prof. Hélder MADEIRA

Moral Social I e II: Opção pela Justiça Liberdade e Desenvolvimento Humano e Economico
 


Após a leitura da encíclica Populorum Progressio: sobre o Desenvolvimento dos Povos de  Paulo VI, Responda com clareza as questões que te são colocadas de acordo com o texto.


1. De acordo com a Enciclica PP[1], qual é o fenómeno importante cada um deve tomar consciência? O que entendes por isso?

2. Apresente as aspirações humanas apresentadas na Enciclica?

3. Qual é a missão da Igreja no Mundo?

4. Apresenta a visão cristã  de Desenvolvimento.

5. “A solidariedade Universal é para nós não só uma fonte de benéfícios mas também de deveres” (Cfr. nr. 17). Tendo como base o pensamento do Papa comente comente a asserção.  

6. O papa apela para evitar “o materialismo sufocante”. O que entendes por materialismo sufocante? Justifique e encontre os argumentos no documento.

7. Apresente os argumentos em torno da tese sobre “o destino universal dos bens” e da “propriedade privada”.

8. Uma das grandes preocupações da Moral Social é a questao da Justiça Social. Encontre os argumentos que abordam a Questão da Justiça Social/ Distributiva, na enciclica  

9. Apresente as características do Capitalismo de acordo com o Papa.

10. Quais são críticas do que o papa apresenta ao capitalismo?

11. “Hoje reina uma mística exagerada do trabalho...”  PP. nr. 27

a) Apresente as vantagens do trabalho.

b) Fale da ambivalência do trabalho.

12. “Dizer desenvolvimento é preocupar-se tanto com o progresso social como com o crescimento económico”. nr. 34 Desenvolva o argumento!

13. De acordo com a Enciclica de que depende o crescimento económico? Porque?

14. De acordo com o texto como evitar as tentações materialistas?

15. Apresente os argumentos em torno do humanismo total. nr. 42

16. A Solidariedade (Fraternidade Humana) entre as Nações é um dever moral. Aponte os argumentos em volta da questão.

17. Neste ano (2012) Moçambique celebra 20 anos de Paz e “fala-se muito por ai que a paz não é só ausência de guerra...”. de acordo com Paulo VI sustente o argumento tendo em conta os aspectos apontados que perigam a Paz.

 
 

ISMMA juntos na celebracao dos 50 anos do ensino superior em mocambique
Bom trabalho



[1][1] Populorum Progressio: sobre o Desenvolvimento dos Povos. Paulo VI

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O panóptismo: um mecanismo disciplinar e de segurança para o exercício de poder em Michel Foucault


Introdução
O presente trabalho é um breve estudo sobre o pensamento de Foucault no que tange O panóptismo: um mecanismo disciplinar e de segurança para o exercício de poder, que no pensamento do autor é uma maquina diabólica que não poupa a ninguém.
Todos os comentários que aqui fazemos são pessoais e se fundamentam no próprio autor em suas duas obras que discute profundamente essa questão: Vigia e Punir e Microfísica do Poder.
 Como análise filosófica, impus-me, a fidelidade à expressão e ao conteúdo do pensamento do autor, espero não ferir a lógica do filósofo e espero também, que este esforço seja bem aceite, embora seja eu o primeiro a me sentir insatisfeito. Após feita a análise do texto apresentamos as nossas críticas e tentamos por os autores em discussão.
Para a realização deste trabalho, o método foi o de análise de conteúdo e tentamos embora sem sucesso uma revisão bibliográfica, fomos ao encontro do pensamento do autor através das obras originais não visitamos nenhum comentários dos manuais para fundamentar a ideia, pela dificuldade e carência dos mesmos, nos parece que muitos organizadores dos manuais temem este campo de investigação filosófica.
Temos como objectivo fundamental aprofundar a pesquisa no módulo de Problemas específicos de Ética e Política Contemporânea, e concretamente queremos entender funcionamento da sociedade seus mecanismos de ordem, suas subtis estruturas de poder e disciplinamento.
Para alcançar os objectivos preconizados vamos seguir o seguinte percurso primeiro apresentamos a definição dos conceitos chaves, de seguida analisamos os assuntos chaves dos dois textos indicando sempre as referências, e por fim a breve conclusão e as respectivas referências bibliográficas dos textos estudados.

 
1.      Definição de conceitos
Para podermos entender ao pensamento de Foucault urge que antes de mais nada nos atemos em definir os conceitos chaves que serão abordados no trabalho, tentamos definir como o autor entende e tentámos encontrar termos acessíveis do cotidiano.

1.1 Panótico: foi um livro editado por Jeremy Bentham no final do século XVIII mas permaneceu desconhecido e foi descoberto por Focault, nos seus estudos sobre as origens da medicina clínica, particularmente sobre a arquitetura hospitalar na segunda metade do séc. XVIII ao buscar entender como o olhar do médico havia se institucionalizado, como uma invenção particular se impôs a toda uma sociedade.
Deixando de lado essas raízes arqueológicas, o Panótico “é uma tecnologia de poder apropriada para resolver os problema de vigilância (…) que permite exercer muito facilmente o poder”,[1] ele foi amplamente utilizado depois do final do século XVIII, e no seculo XIX e XX com os regimes de caracter ditatorial com o Nazismo,  Fascismo, Estalinismo e no nosso contexto no nosso passado recente no Moçambique comunista. E hoje as tecnologias de comunicação e informação reproduzem o mesmo esquema em seus vastos programas e tecnologia de contacto entre as pessoas subtilmente somos todos vigiados, por quem? não sabemos.
Uma definição clara podemos encontrar em Vigiar e Punir “o Panótico é uma maquina de dissociar o par ver-ser visto: no anel periférico, e se é totalmente visto, sem nunca ver; na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto”.[2]
Portanto o panótico seria uma visão ou controle total, mas quem vê encontra-se só uma posição estratégica que não permite que seja visto, o que lhe permite exercer seu poder disciplinar sobre todo o resto.

1.2 Peste: termo que Foucault usa em Vigia e Punir[3] para designar desordem indisciplina, caos ausência de ordem lei:
“houve em torno da peste uma ficção literária da festa: as leis suspensas, os interditos levantados, o frenesi do tempo que passa, os corpos se misturando sem respeito, os indivíduos que se desmascaram, que abandonam sua identidade estatuária e a figura sob a qual eram reconhecidos, deixando aparecer uma verdade totalmente diversa. Mas houve também um sonho político da peste que era exatamente o contrário: não a festa colectiva, mas divisões estritas: não as leis transgredidas, mas a penetração do regulamento até nos mais finos detalhes da existência e por meio de uma hierarquia completa realiza o funcionamento capilar do poder; não as máscaras que se colocam e se retiram mas a determinação de a cada um o seu ‘verdadeiro’ nome, de seu ‘verdadeiro’ lugar, de seu ‘verdadeiro’ corpo e da verdadeira doença. A peste como forma real, ao mesmo tempo, imaginária da desordem tem a disciplina como correlato médico e político. Atrás dos dispositivos disciplinares se lê o terror dos contágios, da peste das revoltas, dos crimes, da vagabundagem, das deserções, das pessoas que aparecem e desaparecem, vivem e morrem na desordem”.[4]

A peste suscitou esquemas disciplinares. Á peste é a utopia da cidade perfeitamente governada, porque é a cidade atravessada inteira pela hierarquia, pela vigilância, pelo olhar, pela documentação, a cidade imobilizada no funcionamento de um poder extensivo que age de maneira diversa sobre todos os corpos individuais. Enfim, vale o remate de Foucault, a imagem da peste vale para designar todas as confusões e desordens sociais.

1.3 Disciplina: em Vigiar e Punir entendemos que é o conjunto das minúsculas invenções técnicas que permitiram fazer crescer a extensão útil das multiplicidades[5] fazendo diminuir os inconvenientes do poder que justamente para torná-los úteis, deve-se rege-las.
“Digamos que a disciplina é o processo técnico unitário pelo qual a força do corpo e com mínimo ónus reduzida como força política, e maximizada como força útil”,[6] é um processo de submissão das forças e dos corpos pelos regimes políticos, aparelhos ou instituições diversas. Se nos é permitido podemos dizer que disciplina será o antónimo da peste, indisciplina, desordem caos.
Portanto será nesse sentido que gostaríamos que entendêssemos os termos acima definidos. 


2.      Medidas que se tomavam quando se declaravam uma desordem[7] na cidade no Séc. XVII
Após estes marcos definitórios dos conceito chaves do autor em estudo passamos a analisar o pensamento do mesmo. Vamos recorrer ora em Vigiar e Punir (2008) ora em Microfísica do Poder (1979) para iluminar as dúvidas. Começamos mesmo pelas medidas que eram tomadas perante uma desordem para entender todo o esquema do funcionamento panóptico:
a)      Policiamento espacial restrito: proibição de sair sob pena de morte;
b)      Inspeção constante: um olhar alerta constante em toda parte, e o inspetor chama a cada habitante pelo seu nome e informa-se do estado de todos, um por um no que os habitantes serão obrigados a dizer a verdade sob pena de morte;
c)      Sistema de registro permanente: relatórios que se anotam os nomes a idade, o sexo sem exceção nem condição e são entregues um exemplar ao chefe do quarteirão, uma segunda cópia a secretaria da prefeitura e outra para o fiscal para controlar as chamadas;
d)      Purificação das casas uma a uma e devolução aos donos.

Cada individuo é constantemente localizado, examinado e distribuído entre os vivos, os doentes e os mortos- isso tudo constitui um modelo compacto do dispositivo disciplinar. A ordem responde a peste. Ela tem a função de desfazer todas as confusões: a da doença e a do mal.

Temos que entender esta primeira parte porque o antónimo de peste é a disciplina só a disciplina ou a ordem é capaz de refazer a cidade pestilenta e caótica.

3.      Problemas éticos sociais do séc. XIX
Como dissemos a cidade pestilenta é a cidade utópica da governação perfeita, mas que os habitantes leprosos são excluídos, isto antes do séc. XIX. Mas daqui em diante, o habitante simbólico que realmente são os mendigos, os vagabundos, os loucos, os violentos que circulam em nossas sociedade. Então perante os leprosos funcionam dois mecanismos a inclusão através da inspeção e a exclusão para restituir a ordem. Por isso, a uma necessidade trabalhar com métodos de repartição analítica do poder.
Assim funcionou no século XIX, o poder disciplinar a partir dos asilos psiquiátricos, a penitencia, a casa de correção, o estabelecimento de educação vigiada, e por um lado o hospitais, de um modo geral todas as instâncias de controle individual funcional num modo duplo de marcação binária: divisão constante do normal e do anormal, a que todo o indivíduo é submetido.
Portanto assim funciona o mecanismo de vigilância através de um conjunto de técnicas e de instituições que assumem como tarefa medir, controlar e corrigir os normais, faz funcionar os dipositivos disciplinares.
Esses problemas atravessaram todo o séc. XIX, e são recorrentes hoje em que vivemos o séc. XX ora incluímos ora excluímos. Sempre nessa logica binário do normal e do anormal, alias a concretização do panóptico esta bem visível nos sistemas ditatoriais do séc. XX.


4.      O panótico de Bentham e seus efeitos
O panótico enquanto mecanismo de exercício de poder e gestão de espaço produz uma visibilidade que é uma armadilha, porque cada um em seu lugar é visto, mas não vê, objecto de informação, nunca sujeito numa comunicação. E esta é uma garantia da ordem.
“Dai o efeito mais importante do Panótico: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua acção; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a actualidade do seu exercício; que esse aparelho arqutectal seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder independente daquele que o exerce; enfim os detentos encontrem preso numa situação de poder de que eles mesmo são os portadores”.[8]
O essencial que ele se saiba vigiado por isso, que Bentham colocou como princípio de que o poder devia ser visível e inverificável: visível, sem cessar o detento terá diante dos olhos a alta silhueta da torre central de onde é espionado. Inverificável: o detento nunca deve saber se esta sendo observado, mas deve ter certeza de que sempre pode sê-lo. Então a parcial conclusão o panótico é uma máquina de dissociar o par ver-ser visto: no anel periférico, se é totalmente visto, sem nunca ver; na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto.
O segundo efeito do dispositivo panóptico é que ela automatiza e desinvidualiza o poder, aqui pouco importa quem exerce o poder: um individuo qualquer, pode fazer funcionar a maquina na falta do director, os que o cercam etc… então o panóptico é uma maquina que a partir dos desejos mais diversos, fabrica efeitos homogéneos de poder.
Terceiro, nasce uma sujeição real mecanicamente de uma relação fictícia. De modo que não é necessário recorrer a força o ou obrigar o condenado ao bom comportamento, o louco a calma, o operário ao trabalho, o aluno a aplicação o doente a observância das receitas: é o fim das grades das correntes, fim das fechaduras pesadas: basta que as separações sejam nítidas as aberturas bem distribuídas. Dai que cada um se auto-vigia e se auto pune.

5.      Utilidades do Panóptico
Apesar de não declarar que Bentham inspirou-se no Zoológico de Le Vaux contruida em Versalhes, e a preocupação era a observação individualizante da caracterização e da classificação da organização analítica da espécie. Mas o panóptico é um zoológico real: o animal é substituído pelo homem, a distribuição individual pelo agrupamento específico e o rei pela maquinaria de um poder furtivo. O panóptico faz o trabalho do naturalista, permite estabelecer as diferenças, perceber as aptidões, apreciar os caracteres, estabelecer classificações rigorosas etc.
Por outro lado, o panóptico pode ser utilizado como máquina de fazer experiências, modificar o comportamento, treinar ou retreinar os indivíduos. Experimentar remédios e verificar seus efeitos. Tentar diversas punições sobe os prisioneiros, segundo seus crimes e temperamentos e procurar as mais eficazes. Tentar experiências pedagógicas.
O panóptico é um local privilegiado para tornar possível a experiencia com homens, e para analisar com toda certeza as transformações que se pode obter neles. O panóptico pode até constituir-se em aparelho de controle sobre seu próprios mecanismos.
O panóticos funciona como uma espécie de laboratório de poder. Graças a seus mecanismos de observação, ganha em eficácia e em capacidade de penetração no comportamento dos homens.[9] Este mecanismo deve ser compreendido como um modelo generalizável de funcionamento, uma maneira de definir as relações de poder com a vida cotidiana dos homens, é o diagrama de um mecanismos de poder levado a sua forma ideal, seu funcionamento, abstraindo-se de qualquer obstáculo resistência ou desgaste, pode ser bem representado com um puro sistema arquitectal e óptico: é na verdade uma figura de tecnologia política que se pode e se deve destacar de qualquer uso especifico.
Portanto, tem uma função polivalente nas suas aplicações: serve para emendar os prisioneiros, mas também para cuidado dos doentes, instruir os alunos, guardar os loucos fiscalizar os operários, fazer trabalhar os mendigos e ociosos. Em cada uma das suas aplicações, permite aperfeiçoar o exercício do poder. O esquema é um intensificador para qualquer aparelho de poder: assegura sua economia (em material, pessoal  e tempo); assegura sua eficácia por seu carácter preventivo, seu funcionamento contino e seus mecanismos automáticos. é uma maneira de obter poder.
Faz com que o exercício do poder não se acrescente de fora, como uma limitação rígida ou como  um peso, sobre as funções que investe, mas que esteja nelas representada bastante subtilmente para aumentar-lhe a eficácia aumentando ele mesmo seus próprios pontos de apoio.
Por causa disso “o panoptismo é capaz de reformar a moral, preservar a saúde, revigorar a indústria, difundir a instrução, aliviar os encargos públicos, estabelecer a economia”.[10]
O movimento que vai de um projecto ao outro, de um esquema de disciplina da exceção ao de uma vigilância generalizada, repousa sobre uma transformação histórica: a extensão progressiva dispositivos de disciplina ao longo dos séc.  XVII e XVIII, sua multiplicação através de todo o corpo social, a formação do que se poderia chamar grosso modo a sociedade disciplinar. Realizou-se uma generalização disciplinar, atestada pela física benthaniana do poder no decorrer da era clássica.

6.      Vantagens sociais da tecnologia panóptica
Qualquer instituição panóptica, mesmo que seja tão cuidadosamente fechada quanto uma penitenciária, poderá sem dificuldade ser submetida a essas inspeções ou mesmo aleatória e incessante: e isso não só por parte dos controladores designados, mas por parte do público; qualquer membro da sociedade terá direito de vir constatar com seus olhos como funcionam as escolas, os hospitais, as fabricas, as prisões.
Não há risco que o crescimento do poder possa degenerar em tirania; o dispositivo disciplinarmente controlado, pois será sem cessar acessível ‘ao grande comité do tribunal do mundo’. Esse panóptico, sutilmente arranjado para que um vigia possa observar, com uma olhadela, tantos indivíduos diferentes, permite também a qualquer pessoa vigiar o menor vigia. A máquina de ver é uma espécie de câmara escura em que se espionam os indivíduos; ela torna-se um edifício transparente onde o exercício do poder é controlável pela sociedade inteira.
O panóptico tem um papel de amplificação; se organiza o poder, não pelo próprio poder mas pela salvação imediata de uma sociedade ameaçada: o que importa é tornar mais forte as forças sociais: aumentar a produção, desenvolver a economia, espalhar a instrução, elevar o nível da moral pública, fazer crescer e multiplicar.
Para reforçar esse poder sem atrapalhar esse processo, a solução do panóptico é o aumento produtivo do poder de forma continua nos alicerces da sociedade, até ao mais fino grau de forma que funcione aquelas formas súbitas, violentas, descontínuas, que estão ligados ao exercício da soberania. Porque o panóptico é o princípio geral de uma nova anatomia política cujo objecto e fim não são a relação de soberania mas as relações de disciplina. Portanto o poder é o ponto de chegada da disciplina por isso mesmo o panóptico é o principio e uma anatomia social.
O que era aplicado ao louco foi aplicado a toda uma sociedade: “realizou-se uma generalização disciplinar, atestada pela física benthamiana do poder no decorrer da era clássica (…) o movimento que vai de um projecto ao outro, de um esquema da disciplina de exceção ao de uma vigilância generalizada, repousa sobre uma transformação histórica: a extensão progressiva dos dispositivos de disciplina ao longo dos séculos XVII e XVIII, sua multiplicação através de todo o corpo social, a formação do que se poderia chamar grosso modo a sociedade disciplinar”.[11] 

7.      A Sociedade disciplinada como ponto de chegada do panóptico
Para Foucault a uma sociedade disciplinada faz crescer as habilidade de cada um, coordenas essas habilidades, acelera os movimentos, multiplica as potências de fogo, aumenta a capacidade de resistência, continua a moralizar as condutas, modela os comportamentos e faz os corpos entrar numa maquina, as forças numa economia.
“As disciplinas funcionam cada vez mais como técnicas que fabricam os indivíduos úteis”.[12] E estes saem da periferia e multiplicam as instituições disciplinares ao implantar-se em sectores mais importantes das sociedades.
Ao se multiplicar as instituições disciplinares, seus mecanismos se desistituicionalizam e começam a circular em ‘estado livre’; as disciplinas maciças e compactas se decompõem em processos flexíveis de controlo, que se pode transferir e adaptar.
Difunde-se também os procedimentos disciplinares, não a partir de instituições fechadas, mas de focos descontrole disseminados na sociedade. Grupos religiosos, associações de beneficência que desempenham esse papel de disciplinamento da população.
Não só isso mas também os mecanismos de disciplinas são estatizadas, pela presença da polícia, esta como instituição foi organizada sob forma de um aparelho de Estado e foi directamente ligada ao centro da soberania política. O poder policial deve-se exercer sobre tudo e                      sobre a massa dos acontecimentos,  das  acções, dos comportamentos, das opiniões, ‘tudo o que acontece’, o objecto da polícia são essas ‘coisas  de todo o instante’ essas ‘coisas-à-toa’. Com a polícia estamos no indefinido de um controle que procura idealmente atingir o grão mais elementar, o fenómeno mais passageiro do corpo social é o infinitamente pequeno do poder político. E a incessante observação deve acumular-se numa série de relatórios e de registros, um imenso texto policial tende a recobrir a sociedade graças a uma organização documentária complexa.
O soberano com uma polícia disciplinada, acostuma o povo a ordem e a obediência. Porém a disciplina não pode ser identificada com uma instituição nem com um aparelho, ela é um tipo de poder, uma modalidade para exercê-lo, que comporta todo um conjunto de instrumentos, de técnicas de procedimentos, de níveis de aplicação, de alvos, ela é uma física ou uma anatomia do poder, uma tecnologia. E pode ficar ao encargo seja das instituições especializadas, seja das instituições que dela se servem como instrumento essencial para um fim determinado, seja pela instancias preexistentes que nela encontram maneira de reforça ou reorganizar seus mecanismos internos de poder, seja de aparelhos que fizeram da disciplina seu princípio de funcionamento interior, seja enfim de aparelhos estatais que tem por função principal é fazer reinar a disciplina da escala da sociedade.[13]


8.      Uma possível leitura sociopolítica  de Foucault
No pensamento de Foucault esta claro que uma sociedade disciplinar que vai das disciplinas fechadas, espécie de ‘quarentena social’ até o mecanismo indefinidamente razoável do panoptismo. O panoptismo desqualificou todas outras formas de vigilância, ela assegura uma distribuição infinitésima das relações de poder.
Com Bentham nascia sociedade que hoje nós somos, através do seu projecto arquitetónico de um simples projecto técnico construi-se m tipo de sociedade. De sociedade de espetáculo de circo e pão na antiguidade, na idade média inverte-se passa-se a proporcionar a um uma visão panorâmica através das técnicas de construção.
Nossa sociedade já não é de espetáculo mas de vigilância, “não estamos nem nas arquibancadas nem no palco, mas na máquina panóptica, investidos por seus efeitos de poder que nós mesmo renovamos, pois somos suas engrenagens”.[14]
A sociedade disciplinar, no momento de suas plena eclosão, assume ainda o velho aspecto de espetáculo. As manifestações espetaculares do poder apagaram-se um por um no exercício cotidiano da vigilância. Com Bentham, Focault estamos sob vigilância e Deleuze nos tornam consciente que das cinzas da sociedade espetáculo e vigilância emerge rapidamente a sociedade controle, onde a disciplina funciona sobre os corpos e produz comportamentos aparentes, para uma sociedade de hipocrisia social, o que conta são nossos números, estaremos na sociedade numérica?
Essa sociedade se instaurou com a eliminação dos espaços escuros (murros) que dificultava toda visibilidade das coisas das verdades, os espaços escuros permitiam as arbitrariedade politicas, os caprichos das monarquias, as superstições religiosas, os complôs dos tiranos e dos padres, a ilusão da ignorância e epidemias, com as Luzes e Bentham trouxe o instrumento social que nos permite essa leitura do reino da opinião invocado pela luzes não pode se exercer o direito a opinião, onde as pessoas são vistas, um tipo de olhar imediato, colectivo e anónimo. Um poder cuja instância principal fosse a opinião não poderia tolerar regiões de escuridão.
Em Microfica do Poder (1978) Foucault afirma que
“o sonho rousseano presentes em tantos revolucionários é uma sociedade transparente, ao mesmo tempo visível e legível em cada uma das suas partes; que não haja mais zonas obscuras, zonas reguladas pelos privilégios do poder real, pelas prerrogativas de tal ou tal corpo ou pela desordem: que cada um, do lugar que ocupa possa ver o conjunto da sociedade; que os corações se comuniquem um com os outros, que os olhares não encontrem obstáculos, que a opinião reine, a de cada um sobre cada um”.[15]
Acrescenta Foucault que Bentham coloca o problema da visibilidade, mas pensando numa visibilidade organizada inteiramente em torno de um olhar dominador e vigilante.
Com a revolução francesa a nova justiça, a instância do julgamento é a opinião. O problema de ver não é fazer com as pessoas fossem unidas, mas que não pudessem agir mal, de tanto que se sentiram mergulhadas, imersas em campo de visibilidade total em que a opinião dos outros, o olhar dos outros, o discurso dos outros os impediria de fazer o mal.[16]


9.      Processos históricos da formação das sociedades disciplinares
Vamos elencar como os processos disciplinas se formaram ao longo da história na sociedade em diversos sectores sociais e os diversos nomes que esta recebeu, fazendo com que o mecanismo possa garantir o funcionamento do poder.

1.      Processo económicos: o panóptico torna o exercício do poder o menos custoso possível, faz com que os efeitos desse poder social sejam levados a seu máximo de intensidade e estendidos tão longe quanto possível sem fracasso, nem lacuna; e por fim liga o crescimento ‘económico’ do poder e o rendimento dos aparelhos no interior dos quais se exerce. Portanto faz crescer ao mesmo tempo a docilidade e a utilidade de todos elementos do sistema.
As disciplinas substituem o velho princípio ‘retirada-violência’ que regia a economia do poder pelo princípio ‘suavidade-produção-lucro’. Enfim a disciplina tem que fazer funcionar as relações de poder não acima, na própria trama da multiplicidade da maneira mais discreta possível, articulado do melhor modo sobre as outras funções dessas multiplicidades, e também o menos dispendiosamente possível. Em suma, substituir um poder que se manifesta pelo brilho dos que o exercem, por um poder que objectiva insidiosamente aqueles aos quais é aplicado; formar um saber a respeito destes, mais que patentear os sinais faustosos da soberania.

2.      Processo jurídico-político: a modalidade panóptica do poder, ao nível elementar, técnico, humildemente físico em que se situa, não esta na dependência imediata nem no prolongamento directo das grandes estruturas jurídico-politica de uma sociedade; ele não é entretanto absolutamente independente.
O panóptico constitui o processo técnico, universalmente difundido da sociedade, ele também exerce-se por contrato como fundamento ideal do direito e do poder político, para fazer funcionar os mecanismos efectivos do poder ao encontro dos quadros formais de que estes dispunham. As Luzes descobriram as liberdades, inventaram também as disciplinas.
A disciplina cria entre os indivíduos um laço privado, que é uma relação de limitação inteiramente diferente da obrigação contratual; a aceitação de uma a disciplina pode ser subscrita por meio de contrato; a maneira como ela é imposta, os mecanismos que funcionam, a subordinação não reversível de uns em relação aos outros.

3.      Processo científico: o século séc. XVIII inventou as técnicas da disciplina e o exame, um pouco sem dúvida como a Idade Media inventou o inquérito Judiciário. Mas por vias totalmente diversas. O processo do inquérito, velha técnica fiscal e administrativa, se desenvolveu com a reorganização da Igreja e o crescimento dos Estados principescos nos séc. XII e XIII.
Foi então que ele penetrou com amplitude que se sabe da jurisprudência dos tribunais eclesiástico. O inquérito como pesquisa autoritária de uma verdade constatada se opunha assim ao antigo processo de juramento ou ainda da transação entre particulares. O inquérito era o poder soberano que se arrogava o direito de estabelecer a verdade através de um certo número de técnicas regulamentadas.
Apesar da sua origem política o inquérito foi com efeito a peça rudimentar e fundamental, para a constituição das ciências empíricas; foi a matriz jurídico-política desse saber experimental.


10.  O  panóptico de Bentham: uma sociedade de desconfiança e hipocrisia
Em Microfisica do poder Foucault analisando o projecto de Bentham, ele não vê ninguém em confiar o poder, e não pode confiar ninguém na medida em que ninguém pode ou deve ser quilo que o rei era no antigo sistema, isto é, fonte de poder, lei e justiça.
Já não se pode confiar em ninguém se o poder é organizado como uma maquina que funciona de acordo com uma engrenagem complexa, é que o lugar de cada um que é determinante não sua natureza. No panóptico cada um de acordo com o seu lugar é vigiado por todos ou por alguns outros, trata-se de um aparelho de desconfiança total e circulante, pois não existe ponto absoluto a perfeição da vigilância é uma soma de malevolência.[17]
O olhar constante tem um efeito dissuasivo, “é preciso estar incessantemente sob o olho de um inspetor, na verdade significa perder a capacidade de fazer o mal e quase perder o pensamento de querelo: não poder e não querer”. [18]
Existe aqui duas coisas: o olhar e a interiorização. O poder tem custos económicos e políticos elevados. Enquanto o olhar vai exigir pouca despesa, sem necessidade de armas, violência física, coação material. Apenas um olhar. Um olhar que vigia e que cada um sentido o pesar sobre si acabara por interiorizar a ponto de se observar a si mesmo.        

11.  A crítica de Foucault a Bentham
Para Foucault, o panóptico de Bentham é uma ilusão de poder é a ilusão de quase todos os reformadores do séc. XVIII onde as pessoas iriam tornar-se virtuosas pelo simples factos de serem olhadas. A opinião era para eles como uma reactualização espontânea do contrato. Eles desconheciam as condições reais da opinião, as Mídias, uma materialidade que obedece aos mecanismos da encomia do poder em forma da imprensa, edição, depois a do cinema e televisão. O jornalismo invenção fundamental do século XIX que manifesta o carácter utópico de toda esta política do olhar.
Bentham não contou com resistência das pessoas, aos sistemas de vigilância. A revolta contra o olhar, os sistemas de micro poder não se instauraram  imediatamente, mas nos sectores onde utilizaram as mulheres e crianças e de seguidas nos sectores masculinos nas indústrias pesadas. O conjunto de resistência ao panóptico deve ser analisado em termos de táctica e estratégia, vendo em cada ofensiva seu ponto de apoio a uma contra ofensiva. O poder nem sempre anónimo nem sempre vencedor, é necessário demarcar as posições de acção de cada um, as possibilidades de resistência e de contra-ataque de uns e de outros.[19]      



Conclusão
Depois deste rápido contacto com Foucault só podemos concluir com a frase de que afinal de conta vivemos numa grande prisão a céu aberto, numa caverna que temos a ilusão de que somos livres e fazemos o que desejamos, afinal de contas somos produtos de uma disciplina do olhar, micro e macro. E por conseguinte somos perpetuadores do sistema somos uma engrenagem nesta máquina diabólica. Nesse aspecto Foucault se aproxima a Marx e a Freud.
Afinal vivemos numa prisão ao céu aberto, num zoológico político onde os mecanismos funcionam subtilmente. É doloroso tomar conta desta realidade de que, a  nossa assinatura, nosso numero de bilhete de identidade, nosso pin nas redes sociais, contas bancarias, e-mails, nosso código da escola, do hospital, do registro notariado, nosso número telefónico etc… são todos mecanismos que nos criam a ilusão de que tudo esta sob nosso controle ou de que ninguém nos vê, ou que tudo ocorre sobre o maior segredo… mas tudo não passa de uma pura ilusão. A transparência panótica se instalou… nosso comportamento nada mais é senão mecânica social, somos objectos seres adestrado neste grande zoológico.  
As Luzes revolução francesa descobriram as liberdades, mas também inventaram as disciplinas que fazem a sociedade funcionar na lógica binaria. As luzes poderiam tornar a sociedade transparente e tornar os órgão da sociedade civil mais fortes, para sob luz poder opinar sobre tudo mas o processo foi inverso. O panóptico é a nova peste que se readapta e se integra nesta maquina social.





Bibliografia
FOUCAULT, Michel., Vigiar e Punir: Nascimento da prisão, (tradução de Raquel Ramalhete),
       35ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
__________________, Microfísica do Poder, (Organização, introdução e Revisão Técnica de
       Roberto Machado) 26ª ed, Rio de Janeiro: Graal, 2008.

Referencias Bibliográficas

[1] Michel Foucault, Microfísica do Poder, p. 211.
[2] Michel Foucault,  Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, p. 167.
[3] Idem., p. 164.
[4] Michel Foucault, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, p. 164.
[5] Multiplicidade: quer dizer sociedade, conjunto de pessoas, exemplo uma oficina, uma nação, um exército uma escola, em suma grupos humano. Cfr.,  Michel Foucault, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, p. 181.
[6] Idem., p. 182.
[7] Foucault usa o termo peste, na nossa interpretação usamos desordem, caos, ou mesmo indisciplina. Cfr. pp. 162-167.
[8] Michel Foucault, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, p. 166
[9] Cfr. Michel Foucault, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, p. 169.
[10] Michel Foucault, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, p. 171 Cfr. Também em Microfísica do Poder, pp. 277-293.
[11] Michel Foucault, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, p. 173.
[12] Idem., p. 174.
[13] Cfr. Michel Foucault, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, pp. 177-178.
[14] Michel Foucault, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, p. 179.
[15] Michel Foucault, Microfísica do Poder, p. 215.
[16] Cfr. Michel Foucault, Microfísica do Poder, p. 215.
[17] Cfr. Michel Foucault, Microfísica do Poder, p. 220ss.
[18] Michel Foucault, Microfísica do Poder, p. 212.
[19] Ibdem.