Introdução
Quando me foi pedido para
apresentar essa comunicação tive dois sentimentos: o primeiro de gratidão e
louvor porque sabia que era uma oportunidade de sacudir meu acervo
bibliográfico da Teologia Fundamental que estava empoeirado e dar as coisas
vivas do livro aos sábios teólogos. Segundo porque tive minhas dúvidas, medos e
temores porque era um trabalho que devia fazer com profundidade e brio, era uma
responsabilidade. Mas também dúvidas medos e temores porque me fora apresentado
um tema apodíctico. [1] E pensei: raciocínio
desse tipo não e uma hipótese, alias as ciências teológicas não funcionam com
hipóteses, mas verdades então, não adianta apresentar um raio x da época contemporânea, isso já estava feito cabendo a mim
ir atrás do que já foi dito e apresentar o que penso sobre o assunto ai esta o
desafio.
Sabemos hoje que a crise é
generalizada afecta desde o minúsculo núcleo família até as instituições que
supostamente pesamos ser bem organizadas e fortes (Família, Cultura, Política,
Estado, Economia e Religião).
Portanto, partamos da seguinte
formulação problemática que talvez pode ser real e concreta: para Pe. Manuel Augusto, panorama eclesial
actual, onde o carreirismo, os abusos e a duplicidade, a falta de coerência - tanto
do clero, bispos e padres como de leigos - retiram credibilidade à missão
cristã.[2]
Na óptica de José Júlio[3]
o problema é descrito nesses termos: é um dado inegável a Igreja Católica
enfrenta hoje uma profunda crise de credibilidade diante da sociedade e uma
crise de identidade (...) pois há realidades que exigem da Igreja um
resposta-testemunho enraizada no Espírito Evangélico.
Podíamos formular o tema de
milhares maneiras mas a variável Fé é sempre a constante as outras variáveis
aparecem como sintomas e ou consequências desta, o que faremos ao longo do
nosso trabalho é verificar as causas últimas desta crise. Que no meu entender
não se trata de apenas crise da Fé, mas também da Esperança e da Caridade[4]
em suma trata-se de uma profunda crise ética e metafísica. Resta apenas uma pergunta
“como Viver a Fé hoje”?
Por razões de ordem de
disciplina e didáctica vou apresentar os percursos que seguiremos: primeiro
apresentaremos os limites conceituais: Crise, Fé, Contemporâneo; na segunda apresentaremos
os antecedentes da crise e os Sintomas na comunidade eclesiais na terceira
parte o impacto da crise na Fé cristã hoje por fim apresentamos a Conclusão e
as respectivas Referências
Bibliográficas. Espero
ser útil nesse e empreendimento.
I. Parte
Limites Conceptuais
1.1 Crise: é um conceito utilizado na sociologia, na política, na economia, na medicina, na psicopatologia,
entre outras áreas de conhecimento, o que a primeira vista nos dizem é
conjuntura incertezas, dificuldades,
perigos, momento decisivo de alteração.
Define-se também, como a perturbação
temporária dos mecanismos de regulação de um sistema, de um indivíduo ou de um grupo. Esta
perturbação tem origem em causas externas e internas.
A crise pode ser definida
como uma fase de perda, ou uma fase de substituições rápidas, em que se pode
colocar em questão o equilíbrio da pessoa. Torna-se, então, muito importante a
atitude e comportamento da pessoa face a momentos como este. É fundamental a
forma como os componentes da crise são vividos, elaborados e utilizados
subjectivamente.
A evolução da crise pode
ser benéfica ou maléfica, dependendo de factores que podem ser tanto externos, como
internos. Toda crise conduz necessariamente a um aumento da vulnerabilidade,
mas nem toda crise é necessariamente um momento de risco.[5]
Tais momentos da história
humana são também altamente positivos ao nos fazer reavaliar juízos já
consagrados, questionar práticas herdadas e, sobretudo a despertar em nós
sempre a indispensável criatividade.
Sem duvida alguma, mesmo desconhecendo
os estudos recentes sobre a sociedade actual todos nós sentimos na pele sejam
as rápidas e sucessivas transformações socioculturais, sejam as múltiplas e
desconcertantes leituras da realidade a nossa volta. E um fenómeno que atinge
todos sectores nos quais vivemos. Todos nos sentidos um pouco estrangeiros, na
sociedade actual, por não conhecer e assim dominar toda a sua enorme e variada
realidade.
Também o cristão, embora
reconhecendo ter uma vocação meta-histórica, que o faz viver diferente neste
mundo não deixa de ser-deste-mundo,
ele é ser-no-mundo (Heidegger),
sujeito a suas reviravoltas, surpresas, imerso no conjuntural e no provisório,
condicionado por contexto e problemáticas históricas. Desse modo, é sempre a
partir de uma realidade concreta que deve viver sua fé. Nessa realidade que
constitui o seu mundo pequeno ou grande, se encontra não só determinada
configuração eclesial, uma determinada expressão teológica, uma determinada acção
pastoral, todas se apoiando mutuamente. Pois a história nos mostra que ela não
esta imune nem é impermeável, em sua dimensão instituicional, teológica e
pastoral, ao contexto sócio-cultural onde se encontra.
Embora mantendo sua
identidade teológica, ela se transformou de facto ao longo da história, não só
porque seus membros eram filhos de uma época e de uma cultura, mas também porque
ela quis realizar naquele momento a sua própria razão de ser. A saber viver e
proclamar a salvação de Jesus Cristo para o mundo.
Não muito distante das
teorias acima apresentadas, na linguagem de Sumo pontífice na sua primeira encíclica
nos faz perceber que crise é “ausência da luz, confusão: momento em que é difícil
distinguir o bem do mal, diferenciar a estrada que conduz à meta daquela que
nos faz girar repetidamente em círculo, sem direcção”.[6]
É nesse sentido que
entendo crise conjuntura de incertezas, dificuldades, perigos mas também
momentos decisivo e de oportunidades.
1.2 Fé: para entendermos “a crise da fé”, se não estou enganado,
não estamos a falar de qualquer fé, mas da fé católica. Que se assenta em seus
2 pilares: No Deus Pai Todo Poderoso, No Filho Unigênito Jesus Cristo, No
Espírito Santo Senhor que dá Vida (Trindade) e Igreja Católica Apostólica Roma.
Nos escritos paulinos dizem que nasce da pregação. Também Primeira virtude
teologal.
Esta é uma explicação minha e simplificada poderia ter feito um excurso
do que é o conceito de Fé na Teologia
Fundamental cristã, quanto a isso recomendo o interessante estudo de
Felipe Barrozo Arboith[7],
Compêndio do Vaticano II: Constituições,
Decretos, Declarações, e se alguém quer escavar mais desde as raízes aconselho
Johannes Feiner & Magnus Loehrer: Fundamentos de dogmática histórico salvífica: revelação de Deus e resposta do homem. V.1 (Mysterium Salutis) entre outras
bibliografias.
A Fé primeira virtude teologal,
portanto tem sentido a afirmação que fiz na introdução de que a crise da Fé não é só crise religiosa ou
metafísica, mas também crise ética, a crise dos sentidos, nesse sentido têm
todas as razão Enriques Rojas no seu livro o Homem Light, tem também todas as razão Gilles Lipovetsky nos seus livros: Metamorfoses da cultura liberal,
A Era do Vazio: Ensaios
Sobre o Individualismo Contemporâneo; para não citar Zigmunt Bauman e outros contemporâneos meus, que
nos fazem entender que das cinzas da “morte do homem” não nasceu o “super-homem”
como queria Nietzsche mas o Homem Light,
Homem líquido com todas as consequências
que esses adjectivos tem em todos os campos desde o económico ao religioso da
crise da Fé Fundamental surge a Fé light numa comunidade eclesial light com uma pastoral light.
O Catecismo da Igreja Católica
é o documento que posso aconselhar para tiráramos uma definição que nos ajudara
a seguir o nosso percurso: “pela Fé o homem submete completamente a sua
inteligência e sua vontade à Deus com todo o seu ser, o homem dá seu
assentimento a Deus Revelador”.[8]
O documento segue na mesma senda do Vaticano. II, a fé é a resposta a Revelação
de Deus, e só se presta a Ele e Sua palavra.[9]
E acto de Fé apresenta-se com
varias características entre elas: é uma graça (CIC. 153); é um acto humano (CIC.
154); deve ser livre (CIC. 163ss) e possui um carácter Trinitário (CIC. 150).
É um acto pessoal mas não é
acto isolado. Ninguém pode crer sozinho, assim como ninguém pode viver sozinho.
Pois ninguém deu a Fé a si mesmo (CIC. 166-167). Com isso quero dizer que além
do acto de crer ser algo individual próprio do ser humano é também um acto
essencialmente eclesial... passamos da esfera individual para o eclesial. Crêr
é próprio de toda Igreja. O Crente recebe o conteúdo da sua Fé através da
comunidade eclesial e deve auxilia-la também na transmissão dessas verdades.[10]
Para o prestigiado jovem filósofo francês,
Charles Pépin: O acto de fé, que não é cego, pois tem as suas razões, implica,
pois, pela sua própria natureza, a liberdade, é um acto livre. Não admira então
que Tomás de Aquino (apud Pépin) tenha escrito que a fé convive com a dúvida. O
crente autêntico é aquele que não acredita pura e simplesmente por ouvir dizer
ou por educação ou pressão social. Como escreve Pépin, se alguém acredita
verdadeiramente, é porque “parou um instante, duvidou, sentiu-se livre e deu
esse passo”. [11]
Portanto para mim quando
dizemos Crise de fé estamos a dizer incertezas, dificuldades perigos pessoais e
das comunidades eclesiais em, momentos de trevas ou para citar o Papa Francisco
“fome de luz”.[12]
1.3 Contemporâneo: originariamente a palavra diz-se
do que é ou de quem pertence ao tempo actual, presente; que faz parte do nosso
tempo; moderno ou novo; que pertenceu à mesma época; que viveu na mesma altura.
Filosoficamente esta palavra
esta relacionada a uma determinada interpretação quadrífasica da história europeia
ou do pensamento ocidental: Antiguidade, Idade Media, Tempos Modernos, e Contemporâneos.
Esse é apresentado como a superação do obscurantismo medieval e os sucessos dos
Racionalismos moderno e das Luzes.
Não se tem bem claro onde e quando
começa mas recentemente a contemporaneidade é ligada ao processo pluriforme de
Secularização, ao Iluminismo, Revolução Francesa com suas ideias de liberdade,
igualdade e fraternidade. No campo das artes fala-se da Arte Contemporânea,
Dança Contemporânea, Homem Contemporâneo, etc... etc. Todas significando algo
de contrastante com o passado, a tradição, o convencional o clássico![13]
A impressão é de toda vida actual,
flutua numa atmosfera rotulada de contemporaneidade, quando digo flutua, quero
dizer que não tem fundamento, não tem base!
No fundo, ondas e mais ondas de
mudança se sucedem em ritmo sempre mais acelerado como o Concílio Vat. II,
sumariamente constatou e talvez com mais realismo Mendellin (1968) e Puebla
(1979) captaram em sua profunda ambivalência.
Tudo quanto há de contemporâneo
ou moderno possui sua própria atracção mágica. Muitas vezes acoplada ao mito do
progresso e do desenvolvimento económico e social. A contemporaneidade não é fenómeno
histórico indiferente ou neutro mas um fenómeno arrasador.
De contemporâneo pode-se dizer
muita coisa, filosoficamente é uma época que vai dos meados dos séculos XIX e
chega aos Nossos Dias. Por ser mais próximo a nós parece ser o mais complexo e
mais difícil de definir. Também é chamada a Pós-modernidade, ou mesmo os Nosso Dias.
Portanto, o nosso tema da
reflexão é a Crise da Fé nos Nosso dias. O pensamento contemporâneo critica as ideias
modernas e as recusa. Considera infundada e ilusórias as pretensões da razão no
conhecimento e na prática, quando não um disfarce para o exercício da dominação
sobre os seres humanos.
Dentre muitas características
dessa época, importa salientar: o pós-moderno não admite a distinção entre Ordem
Natural necessária e Ordem Histórica ou Cultural instituída pelos humanos:
ambas são instituições humanas, contingentes, efémeras e passageiras. Não concebe
o ser humano como animal racional dotado de vontade, livre, mas o concebe como
um ser passional, desejante, que age movido por impulsos instintos, embora ao
mesmo tempo instaure uma ordem social que reprime seus desejos e paixões.
Desconfia da política: acredita que tudo é política mas, Política não tudo. Da
importância a ideia da diferença.[14]
O Concílio Vaticano II enquanto acontecimento histórico profético enquadra-se nesse contexto, não é por acaso que o Papa João XXIII é tido entre os três profeta das contemporaneidade ao lado deles estão John F. Kennedy (35º p) e Martin Luther King. E apresenta um diagnóstico muito interessante na constituição dogmática Gaudium et Spes nr. 4 à 10 e sobretudo o nr 16. (Veremos adiante). Por isso digo e gosto de me alinhar ao lado daqueles que pensam que o Concílio Vaticano II é um “Projecto Inacabado” e pedir novo Concílio é irrelevante e desnecessário pois é um tesouro a descobrir!
Meus senhores e minhas senhoras!
É nesse ecossistema em que é desafiada a missão crista: o mundo marcado pela
diversidade cultural, pelo pluralismo religioso, e pelo conflito social e económicos
é nesse contexto que sois chamados a Viver, Testemunhar e Anunciar a Fé. Como?
Muitos de nos quer simplesmente anunciar a fe e o resto com que fica? É nesse
sentido que quero dizer crise dos sentidos ou crise ética!
No dizer do papa Francisco “uma
Igreja que não sai de si mesmo adoece, cedo ou tarde, no meio da atmosfera
pesada do seu próprio fechamento. Mas é verdade também que uma Igreja que sai
as ruas pode sofrer o que qualquer pessoa pode sofrer: um acidente (...) diante
dessa alternativa prefiro vos dizer que prefiro uma Igreja acidentada do que
uma Igreja doente... a doença típica da igreja fechada é ser autoreferencial,
olhar para si mesma, ficar encurvada sobre si mesma, (...) uma espécie de
narcisismo que nos leva a mundanidade espiritual ao clericalismo sofisticado...
que o Senhor nos livre de maquiar o nosso episcopado com belas aparências da
mundanidade, do dinheiro e do clericalismo de mercado (...)”.[15]
Repito, das cinzas de época
contemporânea nasce um tipo de homem o Homem
Light num sujeito, que tem por bandeira uma tetralogia niilista: hedonismo,
consumismo, permisivismo. Todos eles impregnados de materialismos. Um indivíduo
assim parece muito com certos produtos dos nossos dias: alimentos sem glicose,
sem gordura, cerveja e champanhe sem álcool, tabaco sem nicotina, manteiga sem
gordura, religião sem sacrifícios, renúncias ou exigências sem pecado, como
profetizaram Agelo Hesnard (1971)
no seu livro Moral sem Pecado. Um homem sem conteúdo, sem essência, entregue ao dinheiro, ao poder ao êxito
e ao prazer ilimitado. Da época contemporânea nasce o Homem Light, alguém que carece de ponto de referência, vive num
grande vazio espiritual e não é feliz, ainda que tenha materialmente tudo. Isso
é grave é aqui onde a acção pastoral deve ser mais criativa, é aqui onde sem
timidez temos que assumir a a bandeira da Nova Evangelização, sem temores deve
sair dos papeis para o campo e não nos
preocupar muito com a definição do que seja isso!
É
aqui onde a acção pastoral interna e externa deve ser mais criativa sem necessariamente
ser uma pastoral light, nos somos
duma geração de homens com pensamento débil, (G. Vatimmo) vazios (G.
Liposvestiky, J. Russ) Homens Líquidos
ou Gelatinosos, (Z. Bauman), Homens Fracos, Angustiados (Heidgger), Nausentos
(Sartre). Homem contemporâneo ou light
é frio, não crê em quase nada, suas opiniões mudam rapidamente, vive afastado
dos valores transcendentais, por isso tornado cada vez mais vulnerável.
II. Antecedentes
da crise contemporânea
Para a constatação de J. Russ,
G. Lipovetsky, a Constituição Dogmática Gaudium
Et Spes: sobre a igreja no mundo contemporâneo, ao tentar responder sobre
causas da crise entre elas estão:
2.1 A falência dos sentidos: vivemos na era do vazio, em
que as referências tradicionais desapareceram, em que não sabemos mais
exactamente quais podem ser os fundamentos possíveis de uma teoria ética e
religiosa. As bases tradicionais, metafísicas, religiosas se apagaram depois de
Nietzsche, Freud e Marx que sociedade esperamos? Hoje fala-se da sociedade pois
Freud.[16]
Fala-se de um cristianismo não religioso (G.
Vatimo), hoje nos círculos de debate
filosófico fala-se de crer em Deus após a morte de Deus! Um cristão sério e
comprometido com as promessas baptismais deve se questionar afinal que “deus
está morto” (C. Pepin)? pelo menos o Deus de Abraão de Isaac e Jacob não! Pepin
aponta o Deus que esta morto, nessa óptica coincide com o papa Francisco na Lumem fidei: o deus da razão filosófica
faliu!
2.2 A morte das ideologias: desmoronaram as grandes
doutrinas, políticas, éticas e metafísicas apregoadas pelos modernos.
Desmoronaram a concepção de uma história em progresso não se da mais credito ao
tema do proletariado, do género humano. Funciona a desilusão e a dúvida. O
projecto global do Iluminismo faliu, divulgaram a ideia de que podemos alcançar
a virtude sem ajuda de Deus e de Dogmas teológicos (Grotius, Bayle, Didorot,
Kant) esta concepção esta nas profundezas das causas da crise na França no fim
do século XIX. Estamos em luto e obrigados a inventar para sobreviver... hoje
temos tanto a sede de Sócrates quanto a sede de Tomás de Aquino, Alasdair MacIntyre que nos diga!
2.3 O individualismo: para Nietzsche (apud J. Russ) é uma variedade modesta e
ainda inconsciente da vontade de poder. Aqui o indivíduo se contenta em se
libertar da dominação da sociedade quer seja Estado quer seja, Igreja. Esse
individualismos contemporâneo significa passividade, apatia, indiferença, style cool, e descontraído, voltados a
escolhas privadas e narcisista.[17]
2.4 As
novas tecnologias: desde a Revolução Indústrial e Tecnológica as novas tecnologias
engendraram um crescimento brutal dos poderes do homem tornando sujeito, mas
também objecto das suas técnicas. A Técnica determina uma maneira de ser, um
universo e não somente um conjunto de procedimentos decorrentes de um
conhecimentos de leis científicas.
2.3 A confusão entre Colonização e Evangelização: no jubiloso ano 2000
fora publicada uma obra intitulada 500
Ano de Evangelização em África (Pe. Alberto Ferreira S.J ). Com os acessos
debates sobre a Inculturação da fé em África, a Independência dos Países
africanos, os métodos de evangelização colonial, chega-se a conclusões
elusivas, a evangelização propriamente dita em África não tem nem meio século.
Pois esta fé como tal começa também a assumir o rosto africano de forma livre
com as independências embora com fortes sinais de sincretismo que até um certo
ponto fora tolerada pelos próprios missionários isso mostra uma falta de
clareza quanto ao que se entende por inculturação, mas também mostrou o erro da
passada evangelização /colonização, hoje esses sinais prevalecem na vida da
hierarquia da Igreja local assim como na vida dos leigos, Ex. vejam os nos
nosso chefes mesmo sendo cristão católicos sentem que os mortos tem
interferência na vida quotidiana por isso a eles devem sacrifícios.
III. Sintomas
da crise na vivência da fé hoje (Sinai da crise na Igreja)
Para não se espalhar muito, no
contexto das comunidades eclesiais a Crise de Fé que nos propusemos a reflectir
é apenas um sintoma de um problema muito mais profundo, como disse nessa introdução,
o risco nesta triagem é propormos remédio que virão curar apenas um sintoma e
não profundamente o problema.
Penso que já ouviram falar da
Nova Evangelização? Mas existem muitos temores quanto a essa proposta muito
delicada. Já é uma proposta que vem do Concilio Vaticano II, Profundamente
estudados nas encíclicas de João Paulo II, mas existem muitos temores, pois
para a comunidade falante da Igreja não se trata de novidades de métodos para
renovar o impulso evangelizador da Igreja mas e ajudar os cristão a reencontrar
a alegria de viver e testemunhar a fé, a fidelidade ao Senhor Jesus.[18]
Como fazer isso sem renovar os metodos?
Essa proposta vem para ajudar a
resolver a profunda crise de credibilidade diante da sociedade e uma crise de
identidade. Essa crise tem outras facetas: o nosso e episcopado contemporâneo
encontra-se “maquiado com belas aparências da mundanidade, do dinheiro e do
clericalismo de mercado”.[19]
Essa crise profunda tem o rosto
de carreirismo (existem muitos
sacerdotes que só estão para fazer carreiras, turismo a espera de uma
oportunidade para promoção eclesiástica) e que tem levado muitos deles a estar
sonegado, omissos e com uma “falsa prudência” que só pode confundir-se com
imobilismo e indiferença (Victor Hugo Garcia), os abusos e a duplicidade, a
falta de coerência – tanto do clero, bispos e padres como de leigos- retiram
credibilidade a missão cristã.
Acrescentado a isso, os
escândalos recentes do chamado Vatileaks
mostram mais uma vez, que precisamos de um grande momento de reflexão, isso,
retiram credibilidade a missão cristã. [20]
Dentro do campo moral hoje
fala-se de Perda do Sentido de Pecado, afrouxou-se e relativisou-se muito o sentido
compressão e a prática dos Sacramento da Cura: hoje temos longas filas de
Baptismos, Crismas e todas as sextas-feiras as paróquias estão abarrotadas de
enormes filas de jovens e velhos, casamentos e curtas e até inexistentes filas
de penitência, contribuem neste sentidos não só a nova reflexão moral actual perpetrada
por autores como M. Vidal entre outros, P. Ricouer, A. Henasrd, etc.
Queremos uma salvação sem Cristo,
é nesse sentido quando digo Fé Light é
isso, um seguimento de Cristo sem sacrifícios nem renuncias, sem sabor enfim
uma religião light.
Infelizmente a unidade de
pensamento e a comunhão de acção, mesmo dentro na Igreja não são fáceis de
construir.
Para as outras ovelhas que não
estão neste redil a acção religiosa combinam-se frequentemente com a mídia que
parece divertimento com interesses económicos. Temos shoppings com capelas, Igrejas com ATM’s. Hoje mais do que nunca as
acções religiosas de muitas religiões são regidas pelas leis do mercado e pelas
leis do espectáculo, do show business,
da distracção mediática. Nos tempos não muito distante ao nosso a religião apresentava
uma face austera, categórica, respeitável, hoje a religião combina-se com o
teleshow, uma religião sem obrigações nem sanções, ou seja um religião
emocional descontraída que se manifesta sobretudo nos grandes desesperos
humanos.
IV. O impacto da crise na Fé
cristã hoje
A sociedade Pluralista e Secularizada
constitui um sério desafio, tanto para a comunidade eclesial como para o indivíduo
cristão. Pois tanto a Igreja como os católicos individualmente estão marcados
por uma experiência de séculos, mais conhecida por cristandade nessa época as
doutrinas e crenças católicas constituíam as referências básicas da sociedade
possibilitando a organização da vida social, hoje essas referências desvaneceram.
Paradoxamente, Moçambique pode até
ter uma media populacional cristã, mas não suficientemente evangelizada (os
sinais de sincretismo que apontei são exemplo claro), pois a maioria dos nossos
contemporâneos cristão vê a Igreja como instituição com discurso que não os
ajuda em sua vida quotidiana.
Entramos em águas turbulentas
onde não mais funcionam as bússolas e as orientações dos que nos precederam.
Com excepção do mundo da economia, regido por regras competentes, pela
produtividade e pela eficácia nenhum outro sector da sociedade consegue sem
dificuldades impor interditos ou regras de compromisso em vista ao bem comum. Quando tentam fazê-lo devem vir
equiparados com discurso realmente justificados e convincentes, sob pena
de não ser ouvidos. Cada um hoje é vigilante de cada um diz Michel Foucault na
sua obra Vigiar e Punir, não só
vigiamos a tua palavra mas a tua prática, e esse foi um dos sonhos da Revolução
Francesa: sociedade transparente.[21]
Em política fala-se de Boa Governação, Transparência (Accontability) em economia Gestão Corporativa, ou Participativa ou
mesmo Cultura de Prestacao de Contas
Essa instabilidade cultural
leva muitos de nos a buscar saídas para o impasse. Alguns cedem a tentação
fundamentalista entregando sua liberdade a supostos “gurus” das novas religiões em troca de ansiadas
certezas. Outros buscam refúgio na experiência de sentimentos intensos,
aliando-se aos movimentos pentecostais em algumas de suas variantes, como dizia
meu professor de Religiões em Moçambique: “esses não estão preocupados com o
anúncio do Evangelho mas se deram conta dos sintomas da crise e vão tirar os
peixes das panelas dos outros”.[22]
Outros ainda partem para
Crenças Orientais, talvez numa versão mais Light
em busca de luz e sentido. Por nossa imperícia como Igreja mesmo, podemos dizer
que em muitos casos essas válvulas de escape estão sendo utilizadas numa
perspectiva de auto-ajuda, isto é, centradas no próprio indivíduo que as
utiliza para seu conforto espiritual ou paz interior.
A insensível produção de bens
materiais, embora a custa do empobrecimento de grande maioria de moçambicanos,
e do planeta, aliada a sua sensação de um futuro incerto e ao enfraquecimento
das convicções, torna problemática a crença cristã de uma outra vida feliz
junto de Deus. Todos querem alcançar a felicidade aqui e agora, todos desejamos
o reino de Deus em sua plenitude já nesta vida, sendo assim, a promessa divina
de uma Eternidade bem-aventurada não mais constitui, como no passado, uma instância
que da sentido e motiva as diversas renúncias próprias de quem vive a fé ou se
aventura na caridade fraterna.
Em boa parte a Fé que vivemos
hoje é uma Fé sem muita raiz, frágil, que explica bem a situação do homem de
hoje. A nossa Fé é como a coluna de sal sem forças, um exemplo disso já está na
Sagrada Escrita o mito da esposa de Ló.[23]
“Se o sal perde a força com que haverei de salgar?” (Cfr.)
Para o homem tornado adulto,
orgulhoso da sua razão, desejoso de explorar de forma nova o futuro, a pastoral
da transmissão da Fé já não é suficiente, para estes hoje, na linguagem do Papa
Francisco, citando Carinhosamente o Jovem Nietzsche a fé para o homem
contemporâneo é uma luz ilusória que o impede de cultivar a ousadia do saber,
pois ele convida a sua Irmã Elisabeth a arriscar percorrer novas vias... para o
jovem Nietzsche a fé é tida como escuridão (...) e quando falta luz, tudo se
torna confuso: impossível distinguir o bem do mal, diferenciar a estrada que
conduz a meta daquela que nos faz girar repetidamente em círculo sem direcção.[24]
Conclusão
Enfim não é meu interesse
esgotar o assunto aqui, em forma de fecho quero apenas apontar alguns pontos
que podem nos ajudar a sair desse marasmo eclesial actual e devolver aos Católicos
a alegria de (re)acreditar e (re)testemunhar a própria Fé, mostrar aos
nossos contemporâneos como o Evangelho de Cristo contem respostas a sua
inquietante procura de beleza, de bondade de verdade e de felicidade:
Primeiro: 50 após o Concílio Vat.
II, sinto que aquele Projecto ainda não foi concluído, e levara anos até
gerações para que isso aconteça.
Segundo: Dentro das propostas
emanada do Concílio Vat. II, pessoalmente devíamos diante da complexa realidade
do Mundo Contemporâneo e particularmente encontrando-se a passar o Ano da fé,
devíamos explorar mais a Nova Evangelização
não em teoria mas na prática, penso que isso não só ajudaria a Renovar o Impulso como também ajudaria os
cristão a reencontrar a alegria de testemunhar a Fé sem vergonha. Deixemos os
problemas definitórios do termo e vamos analisar cada contexto seus problemas e
verificar se a solucao que se adequa e ate se for preciso ReEvangelizar!
Terceiro: as crises, dificuldades
e confusões na Igreja sempre houveram e as que estamos passando não são uma
crise por isso não devem contudo de impedir-nos de ver todos o quadro que a
comunidade de Jesus começou pela intervenção do Espírito Santo, que é sua alma
e sem a qual ela não existiria.
Não só isso, por fim quero dizer
que passaram 50 anos depois do Concílio Vat. II, o mundo e o submundo mudaram
muito, surgiram novos desafios, da globalização financeira e a consequente
consciência planetária, a dissolução do impérios soviético, as novas formas de comunicação
social (Internet, Redes sociais etc.) que unificam o Mundo estamos cada vez
mais juntos mas individualmente (PP. J. Paulo II, Z. Bauman). O evangelho precisa
chegar até lá no submundo do coração humano.
Enfim, não se trata apenas de
uma Crise de Fé mas de sentido trata-se de uma crise da Esperança e da Caridade,
trata-se de uma profunda crise teólogal. Os caminhos da Fé, da Esperança e da
Caridade estão minados! O ambiente está turvo, Senhor vinde em nosso auxílio!
Essa crise é momento de prova
mas também é uma grande oportunidade para explorar o que não exploramos no
Concilio Vat. II. Para nós é um momento de vinho novo em odres novos. A
sociedade precisa de remendos novos embora padecendo de velhos problemas!
Termino com a pergunta que é
milenar quanto a humanidade: quando o fundamento da nossa fé (Jesus Cristo)
voltar encontrara a Fé sobre a Terra?
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Paris, 2012.
Revista
de Theologia, Felipe Barrozo Arboith, O conceito de fé na
teologia fundamental cristã, Ano 2008, Volume 2, No.1
ROJAS Enrique, Homem Light, ed. Gráfica Coimbra, Madrid.
RUSS, Jacqueline,
Pensamento ético contemporâneo, 4ª Edição, ed. Paulos, São Paulo, 2006
URBINA,
César Izquierdo. Teología Fundamental. Barañain:
EUNSA, 1998.
VIDA NOVA, A renúncia de
Bento XVI: Boas vindas
ao papa Francisco, Ano 53, Nr 628, Abril de 2013, p. 12.
VIDA NOVA,
Carvão
de Moçambique: Região em Brasa,
Ano 53, Nr 632, Julho de 2013,
VIDAL, M, Nova Moral Fundamental: o lar teológico da ética, São Paulo: Editoras Santuário e
Aparecida. 2000.
Notas bibliograficas a conferir
5
[1] É raciocínio, necessariamente verdadeiro, quer por evidência, quer por
demonstração. E não precisa ser demostrado. Cfr.
Dicionário de língua portuguesa, Novo dicionário Aurélio, versão
eletrônica.
[2] Cfr. ALÉM-MAR, Vaticano
II: um tesouro a descobrir, nr. 618, Ano LVI. Outubro de 2012, p. 13.
[3] Cfr. VIDA NOVA, A
renúncia de Bento XVI: Boas vindas ao papa Francisco, Ano 53,
Nr 628, Abril de 2013, p. 12.
[4] Podemos atestar essa hipótese
verificando desde a primeira Encíclica de Bento XVI as encíclicas ate a “sua”
última Lumen Fidei.
[5] Cfr.
Dicionário de língua portuguesa, Novo dicionário Aurélio, versão
eletrônica.
[6] FRANCISCO Papa, Lumem Fidei, nr. 03.
[7] Revista de Theologia, Felipe Barrozo Arboith, O conceito de fé na teologia fundamental
cristã, Ano
2008, Volume 2, No.1
[8] Catecismo
da Igreja Católica, nr. 143.
[9] Cfr. VATICANO II Concílio, Constituição Dogmática Dei Verbum: sobre a Revelação Divina.
[10] ARBOITH Felipe Barrozo. Op.
Cit. p. 15.
[11] Cfr. PÉPIN Charles, Un homme libre peut-il croire en Dieu? Ed. L’Opportun, Paris, 2012.
[12] FRANCISCO Papa, Op. Cit. nr. 1.
[13] LEERS
Bernardino, Moral Cristã e autoridade do Magistério: Conflito
e Dialogo Ed. Santuário, Aparecida, SP., 1991, p. 112.
[14] Cfr. CHAUI Marlena, Convite à filosofia, Ed. Ática, 13ª edição, São Paulo, 2005. pp. 50ss.
[15] VIDA NOVA, Carvão
de Moçambique: Região em Brasa, Ano 53, Nr 632, Julho de 2013, p. 6.
[16] Cfr. a obra de Jean-Bertrand Pontalis, Après Freud, Ed. Gallimard.
[17] Cfr. as obras de ROJAS Enrique, LIPOVESTSKY Gilles. Opus citatum.
[18] Cfr.
Pe. Manuel Agusto Revista Alem-Mar, Op. Cit. p. 13.
[19] Vida Nova Julho de 2013, p.
6.
[20] Cfr. as duas revistas: Vida Nova de Julho
2013, Pe. Manuel Agosto na Revista Além-Mar, nr. 618, Ano LVI. Outubro de 2012,
p. 13.
[21] FOUCAULT, Michel., Vigiar e Punir: Nascimento da
prisão, (tradução de Raquel Ramalhete), 35ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2008.
[22] Notas pessoais,
das aulas de Religiões em Moçambique, (Pe. Alberto Ferreira),ISMMA, 2008.
[23] LEERS Bernardino, Op. Cit. p. 14.
[24] FRANCISCO Papa, Op. Cit. nrs. 2 e 3.