Hélder Madeira
Mestrando em Filosofia pela USTM-
Moçambique
Professor Ordinarius no ISMMA-Maputo
INTRODUÇÃO
Escrever, em filosofia, é diferente do que se pede ao estudante para
redigir noutros cursos. A maior parte das estratégias descritas abaixo serão
úteis também quando o estudante precisar de escrever ensaios noutras
disciplinas, mas não se deve presumir automaticamente que o seja, nem que as
orientações dadas por outros professores serão necessariamente úteis quando se
escreve um ensaio de filosofia.
Para os cursantes de filosofia há perguntas frequentes quando a matéria é
metodologia de investigação científica. Perguntas como estas (ver abaixo) não
escapa ao crivo de um estudioso iniciante de filosofia:
·
Como se faz uma pesquisa
em filosofia? Como é que se escreve em filosofia?
·
Será que as pesquisas em
filosofia são como as das outras ciências como: Educação, Psicologia, Estatística,
Sociologia?
·
Como é que se organiza
uma pesquisa em filosofia? Quais os métodos a usar? Como abordar um problema
filosoficamente etc?
·
Que tipo de pesquisa são
as filosóficas?
·
Como se abordam e arrumam
os argumentos? Etc… etc…
Responder a estas perguntas é o que pretendemos fazer no estudo que se
segue. Falo-e-mos seguindo a risca os conselhos metodológicos dos Professores James Pryor da Universidade de
Princeton (EUA), Umberto Eco Professor emérito da Universidade de Milão e
alguns conselhos metodológicos do professor José Castiano vice-reitor da
Universidade Pedagógica de Moçambique, entre outros. Também recomendamos as
leituras dos estudos dos escritores brazileiros Maria e De Sousa (1995) no Filosofia: um outro olhar.
Não queremos atribuir créditos falsos a este trabalho. A nossa contribuição
consistiu, na sua maior parte, em coleccionar e organizar sugestões das outras
pessoas. Boa parte dos conselhos que apresentamos aqui fora tomadas de
empréstimo dos apontamentos dos nossos professores e colegas de escritório. Não
podemos esconder que também tenhamos encontrado alguns destes conselhos ao ler
alguns guias deste género na Internet, foi inevitável mas o trabalho foi assaz laborioso.
Lamentamos de não ter registrado os endereços onde nos longínquos anos coleccionamos
essas notas nos nossos dispositivo de informação. Um conselho metodológico pode
ser encontrado e consultado também nos estudos da Prof. Catarina Cuambe (2012) com o título: Indicações
Metodológicas para Trabalhos de Tese em Filosofia e Ética, assim como os estudos da prof. Olívia Matusse (2013) Metodologia de Investigação científica.
Tema e delimitação do tema:
É o assunto que se deseja
desenvolver é a delimitação conceitual, geográfica, temporal e espacial da
realidade, do tema que se quer pesquisar ou conhecer. Seja ela a ideia de um ou
vários autores, seja ela o contexto de uma determinada época histórica, ou
mesmo o conceito que se tem ou se tinha sobre algo em determinada época.
Exemplo: Contribuição de
Aristóteles na sistematização da lógica como disciplina filosófica.
Formulação do Problema Pesquisa:
Problema
de Pesquisa é o se pretende analisar, ou precisamente o que se quer
saber da realidade pesquisada. Pode ser elaborado em forma de pergunta ou mesmo
uma afirmação. Segundo o endereço
www.pedagogiaemfoco.pro.br - acessado em Agosto de 2005:
“O problema é a
mola propulsora de todo o trabalho de
pesquisa. Depois de definido o tema, levanta-se uma questão para ser
respondida através de uma hipótese,
que será confirmada ou negada através do trabalho de pesquisa. O Problema
é criado pelo próprio autor e relacionado ao tema escolhido. O autor, no caso,
criará um questionamento para definir a abrangência de sua pesquisa. Não há regras para se criar
um Problema, mas alguns autores
sugerem que ele seja expresso em forma de pergunta.”
Veja os seguintes
exemplos abaixo:
Exemplo 1:
Nietzsche, ao pregar o aniquilamento da consciência
moral vigente de toda compaixão humana, concebe o homem como um ser que cria
valores. Como um destruidor de crenças, mitos, do cristianismo, da massificação
das artes e dos valores morais, torna-se uma voz quase solitária na defesa do
restabelecimento de uma ordem original das coisas.
Exemplo
2:
A história do pensamento metafísico
se preocupou largamente com a questão: o que é o ser, sobretudo em defini-lo. E
a própria História da Metafísica nos mostrou que a multiplicidade das respostas
não satisfazem o espírito humano, um exemplo claro é a confusão que se instalou
entre a noção de Ente, Essência e Substância. Para Heidegger, Parménides
descobriu o ser, já Platão o teria ocultado por buscar o sentido do Ser nos
Entes. É nesse sentido que Heidegger se propõe esclarecer, não a definição, mas
o sentido do Ser, pois para ele enquanto não compreendermos a temporalidade,
esquecida pela metafísica tradicional, de que ela pertence por essência ao sentido
do ser, como o tempo é o fundamento da manifestação e da apreensão do ser,
continuaremos prisioneiros da ilusão metafísica. Falaremos do ser mas não
compreendermos o que estamos a dizer, diz ele em Ser e Tempo: o ser que estamos
a falar somos nós próprios, e o fundamento deste é o tempo (Heidegger, 2005).
Exemplo 3:
Será que Aristóteles teve êxitos na sistematização da lógica como
disciplina filosófica no percurso da história? Até que ponto podemos considerar
o papel da Aristóteles na contribuição, daquilo que hoje é considerado
instrumento de pensamento ou de argumentar? Ou será que Aristóteles condicionou
o percurso da existência da lógica?
A tarefa do
pesquisador será daqui em diante buscar os pilares principais em que os autores
se pautam, e como eles constroem os seus conceitos buscando demonstrar os
caminhos em que formulam suas polémicas teorias e soluções dos seus problemas.
Regra geral não existe uma fórmula específica de formular um problema de
pesquisa.
Objectivos
Um ensaio de
filosofia como qualquer outro trabalho pode ter vários objectivos. Geralmente
começamos por apresentar algumas teses ou argumentos para consideração do
leitor, passando de seguida a fazer uma ou duas das coisas seguintes:
- Criticar o argumento, ou demonstrar que certos argumentos em defesa da tese não são bons.
- Defender o argumento ou tese contra uma crítica.
- Oferecer razões para se acreditar na tese.
- Oferecer contra-exemplos à tese.
- Contrapor os pontos fortes e fracos de duas perspectivas opostas sobre a tese.
- Dar exemplos que ajudem a explicar a tese, ou a torná-la mais plausível.
- Argumentar que certos filósofos estão comprometidos com a tese por causa dos seus pontos de vista, apesar de não a terem explicitamente afirmado ou endossado.
- Discutir que consequência a tese teria, se fosse verdadeira.
- Rever a tese à luz de uma objecção qualquer.
- Abrir caminhos de reflexão sobre uma determinada tese.
É necessário apresentar explicitamente as razões que
sustentam as nossas afirmações, independentemente de quais destes objectivos
tenhamos em mente. Os pesquisadores geralmente sentem que não há necessidade de
muita argumentação quando uma dada afirmação é para eles evidente; mas é muito
fácil sobrestimar a força da nossa própria posição. Afinal de contas, já a
aceitamos. O pesquisador deve presumir que o leitor ainda não aceita sua
posição e tratar o ensaio como uma tentativa de persuadir o leitor. Por isso,
não se deve começar um ensaio com pressupostos que quem não aceita a nossa
posição vai com certeza rejeitar. Se queremos ter alguma hipótese de persuadir
as pessoas, temos de partir de afirmações comuns, com as quais todos concordam.
Um bom ensaio de filosofia é modesto e defende uma pequena ideia, mas
apresenta-a com clareza e objectividade, e oferece boas razões em sua defesa.
Muitas vezes, as
pessoas têm demasiados objectivos num ensaio de filosofia. O resultado disto é,
normalmente, um ensaio difícil de ler e repleto de afirmações pobremente
explicadas e inadequadamente defendidas. Portanto, devemos evitar ser demasiado
ambiciosos. Não devemos tentar chegar a conclusões extraordinárias num ensaio
de 5 ou 6 páginas. Feita adequadamente, a filosofia avança em pequenos passos.
Justificativa:
Segundo Gil
(2002, p. 162):
“Trata-se de uma defesa inicial do ensaio, que pode incluir:
·
Factores que determinaram a escolha do tema, sua relação com a experiência
profissional ou académica do autor, assim como sua vinculação à área temática e
a uma das linhas de pesquisa do curso.
·
Argumentos relativos à importância da pesquisa, do ponto de vista teórico,
metodológico ou empírico;
·
Referência a sua possível contribuição para o conhecimento de alguma
questão teórica ou prática ou ainda não solucionada.”
Metodologia:
Neste item devem ser explicitadas as técnicas de colecta
de dados ou instrumentos de pesquisa, sujeitos e tipos de pesquisa,
formas de análise dos dados. A metodologia deve explicitar como vai ser
desenvolvido o trabalho, se possível elaborar um esquema explicativo tornara
uma explicação mais clara, concisa e ilustrativa.
A Metodologia
é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exacta de toda acção
desenvolvida ao longo do trabalho de
pesquisa.
a)
Natureza das pesquisas em
Filosofia
Em filosofia e suas áreas afins a natureza da pesquisa é
qualitativa, pois há um esforço para rastrear, analisar, contextualizar os
pensamentos, valores, suposições e informações a serem obtidas nos textos do
autor e seus comentaristas.
b) Tipo de pesquisa
Quanto a tipologias as pesquisas filosóficas
classificam-se em: é pesquisas puras, ou teórica (as pesquisas filosóficas
quanto ao tipo também pode ser designada de analítica, filosófica ou pesquisa
pura as denominações variam de acordo com os autores), bibliográfica e
documental. Teórica porque analisa uma determinada teoria ou pensamento, e
bibliográfica porque partimos do princípio de que todo estudo que se queira
científico deve ter esse pressuposto alicerçado em autores e respectivas obras,
documental porque referem-se a documentos oficiais, decretos, leis,
regulamentos e outros documentos normativos.
c) Métodos de pesquisa
Uma vez que a natureza destas investigações são teórica,
analítica, pura ou filosófica, os método adequados para estas são:
1. Análise do conteúdo do pensamento do autor: aqui recorre-se ao
conteúdo do pensamento, a obras originais ou pelo menos as traduções das
originais, correlacionando com as interpretações que este teve no pensamento
filosófico. Faz o esforço de apresentá-lo sem manipulá-los evitando no máximo
comentários de manuais, recorrendo a estes quando as circunstâncias assim o
exigirem. Aqui o pesquisador/estudante tem a possibilidade de pensar sobre os
problemas cotidianos a luz da perspectiva do pensador em estudo.
2. Método Sistemático: este consiste em
coleccionar um conjunto de conhecimentos previamente organizados e estruturados
que privilegia a forma em detrimento do conteúdo, repetem-se as teorias
culturalmente consolidadas.
3. Método Histórico: procura evidenciar-se a
maneira peculiar como cada homem foi enfrentado os problemas apresentados no
decurso da sua existência. Esse método incita o pesquisador a encarar o acto de
filosofar como resposta criativa aos problemas e suas situação novas; ou seja,
o pesquisador faz um recuo ao passado e resgata a maneira encontrada pelos
homens para enfrentar seus problemas ao longo do tempo.
4. Método de Análise Linguístico: este é um método
complementar que auxilia a leitura e análise dos textos filosóficos com a
finalidade de determinar o significado das palavras e outras expressões
desconhecidas presentes no texto a ser usado, servem também para reconstruir a
etimologia de uma palavra, remontando à sua origem.
Neste ponto preferimos
usar a expressão métodos de pesquisa no lugar de abordagem da pesquisa, para
encontrar em conformidade com os restantes cursos e no lugar de métodos
preferimos referir que processos mentais; além de mais a expressão processos
mentais é mais adequada e clara. Mais do que isso, podemos dizer que esses
métodos não são o únicos existem uma vasta gama de métodos que nos podem
facilitar o estudo de textos filosóficos, o que referenciamos são apenas
exemplos. E muitas vezes é difícil usar um único método sem se valer dos
outros.
d) Processo Mental
Tanto para o filósofo como para qualquer pesquisador se
vale da indução quando, após examinar através de várias técnicas a ocorrência
sistemática de factos singulares, percebe
a regularidades desses factos, o que
lhe permite fazer generalizações. Ou seja, que nós como pesquisadores
concluímos a partir da regularidade de certos factos singulares, a sua
constância; da constatação de certos factos, a existência de outros ligados aos
primeiros na experiência anterior. Então, a indução nada mais é senão um
raciocínio ou forma de conhecimento pela qual passamos do particular ao universal,
do específico ao geral, dos factos constantes as leis ou teorias gerais.
Por Exemplo:
Se ponho três vezes minha mão dentro de um
saco de feijão e todas as vezes tiro um feijão preto. A frequência dos feijões
pretos (constante K) me levará a concluir que o saco é de feijões pretos!
Mas também o pesquisador pode se valer da dedução que lhe
garante a verdade de suas conclusões. Parte-se de afirmações comprovadamente
correctas e verdadeiras, aceites universalmente; o resultado obtido será também
verdadeiro e correcto, ou seja, aqui o pesquisador tira de uma ou varias
proposições uma conclusão que delas decorre logicamente, normalmente os
processo mentais dedutivos não trazem nada de novos e as margens de erro e
novidade são quase que inexistentes.
No primeiro caso (indução) estamos aptos a novidade e
surpresa a conclusão pode ser totalmente nova, porque a frequência da
repetitividade dos factos pode se interromper e alterar o curso da pesquisa e suas
conclusões, já no segundo caso, não! A conclusão não traz nada de novo senão
aquilo que sobejamente conhecíamos.
Porém tanto num quanto noutros há limites excesso e
perigos: a filosofia como as outras ciências não é infalível. A ciência vive
disso: da sua falibilidade, no dizer do Prof. Brazão Mazula é este o pilar que
lhe ajuda a manter-se e a degradar-se, é contraditório porém interessante.
e) Análise do conteúdo da pesquisa
Para analisar as informações recolhidas podemos
estruturar o nosso percurso dessa forma:
Figura 1 – Fases de organização da pesquisa
Especificamente as fases 1 e 2 a
Leitura - têm em vista a familiarização com os textos; 3. A Análise e Interpretação - têm em vista o exame profundo dos
textos. 4. A Comparação e redacção
após os processos anteriores far-se-á uma síntese síntese das ideias organizadas, e far-se-á conclusões gerais
redigindo os textos.
Cronograma:
O tempo previsto para cada
etapa de pesquisa depende do tipo da sua finalidade.
|
ATIVIDADES / PERÍODOS
|
Set
|
Out
|
Nov
|
Dez
|
Jan
|
Fev
|
Mar
|
Abri
|
Mai
|
jun
|
jul
|
1
|
Levantamento
de literatura
|
X
|
X
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
2
|
Montagem
do Projecto
|
|
X
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
3
|
Colecta
de dados
|
|
|
X
|
X
|
X
|
X
|
|
|
|
|
|
4
|
Tratamento
dos dados
|
|
|
|
|
|
X
|
X
|
X
|
|
|
|
5
|
Elaboração
do Texto Final
|
|
|
|
|
|
|
X
|
X
|
X
|
|
|
6
|
Revisão
do texto
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
X
|
|
7
|
Entrega
do trabalho
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
X
|
Orçamento
(Opcional)
Referências
Bibliográficas:
Todos os livros e textos que foram utilizados para a
elaboração do projeto, digitados em ordem alfabética.
Glossário:
Explicação dos termos técnicos usados pelo autor, contexto, etc.
Estrutura do trabalho
Na proposta da
Cuambe(2012) propõe a seguinte estrutura que passamos expor abaixo:
PRELIMINARES
a) Capa
b) Folha de aprovação
c) Declaração de Honra
d) Dedicatória
e) Agradecimentos
f) Lista de Abreviaturas
g) Índice
h) Resumo (deve ser de
uma página no mínimo, contendo as palavras-chave que serão no primeiro
capítulo. Ex: Liberdade, valores, existencialismo)
INTRODUÇÃO
Na introdução deve constar o tema, o problema (é
fundamental a sua contextualização, ou seja a explicação clara que ditou sua
identificação) (AA.VV., 2006), justificativa, objectivos gerais e específicos,
metodologia seguida e a estrutura geral do trabalho.
DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento
subdivide-se em capítulos cujos básicos, aqueles que não podem faltar são:
Capítulo 1 – Ao longo deste capítulo, o pesquisador faz a definição
de conceitos ou palavras-chaves de forma objectiva e clara de modo a facilitar
a delimitação do campo de reflexão e a compreensão da abordagem particular
desenvolvida pelo estudante pesquisador.
Nota: As definições não podem ser feitas em geral, mas
alicerçadas nas obras do autor que se pretende analisar, ou mesmo para
facilitar a compressão melhor seria comparar do autores em estudo e seus
contemporâneos ou outros autores posteriores a ele.
Capítulo 2 – Constitui a parte central da tese onde o estudante
apresenta de forma clara, lógica e científica o pensamento do autor à volta do
tema escolhido. Espera-se que o estudante faça referência às obras do autor
através de citações pontuais e directas, mostrando ter lido e analisado o
pensamento do autor, “bebendo-o” directamente da fonte (das obras próprias do
autor, demonstrando o desenvolvimento de um debate particular à volta do seu
pensamento).
Capítulo 3 – É de teor crítico. O estudante servindo-se e
apoiando-se em outros autores com/ou comentaristas tece uma crítica filosófica,
mostrando os pontos fortes e fracos do pensamento do autor em questão e seus
reflexos na história da filosofia. Entretanto, é nesta parte que se procede a avaliação
ou comparação do autor estudado com os demais, procurando assumir uma posição
particular ou demonstrar a nova visão.
Capítulo 4 – É de actualização; o estudante deve fazer um
cruzamento entre o pensamento do autor e a situação real da época (do país) na
qual o estudante desenvolve a sua pesquisa, evidenciando a sua relevância, os
efeitos que pode trazer a sua aplicação e as oportunidades de reflexão que se
abrem para o futuro.
CONCLUSÃO
É uma das partes mais importante dum trabalho científico.
Nela, o estudante deve revisitar o seu trabalho e extrair dele os aspectos
fundamentais ou as principais conclusões (as ideias/argumentos chaves) para
depois indicar novas pistas de reflexão e aprofundamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nesta parte deve-se fazer a apresentação de todos os
autores consultados e citados no trabalho com todos os dados complementares que
possam facilitar a identificação da obra consultada.
Nota: Num trabalho filosófico
não se coloca a bibliografia geral. Nas referências bibliográficas só se
indicam obras, artigos ou fontes que constam no texto, a nível de citações
directas ou indirectas
ANEXOS
O estudante pode colocar o material que faz referência à
vida e obras do autor analisado ou em estudo, dado que esta parte não deve
constar dentro do desenvolvimento do trabalho.
CONSTRUÇÃO DOS ARGUMENTOS
Um ensaio de filosofia consiste numa defesa argumentada de uma afirmação. Os estudantes ou pesquisadores devem oferecer um argumento a favor desse
argumento. Não podem consistir na mera exposição das suas opiniões, nem na mera
apresentação das opiniões dos filósofos discutidos. É preciso que o estudante
defenda as afirmações que faz e que ofereça razões para se pensar que são
verdadeiras.
Por exemplo: o pesquisador não pode simplesmente dizer:
A
minha opinião é que Heidegger revolucionou a História da Metafísica (P)
Porem deve antes
dizer algo como:
A minha opinião é que Heidegger revolucionou a História
da Metafísica (P).
Penso isto porque… pelas suas investigações e pelo
retorno as fontes gregas, tornou o Ser numa linguagem dizível que não seja
metafísica e, portanto, mais compreensível e real, para ele o ser não se
encontrava na esfera superior como queriam os escolásticos, o ser estava diante
de nos, somos nos mesmos em cada caso, o ser é physis no seu permanecer e
desaparecimento.
ou:
Penso que as seguintes considerações apresentadas por Heidegger...
(Q)
“Natureza” não é apenas o conjunto das coisas que há no Universo;
“Natureza” (physis) é o conjunto das coisas que há no Universo “enquanto que
todas elas “nascem” (phyo) dum único “princípio” (arkhé) universal” , natureza
é presença, vigência, estar presente ou actualidade.
Oferecem um argumento convincente em defesa de (P) …
“Os gregos definiam o ser como vigência do que está presente. A noção de
vigência lembra a de actualidade, a actualidade é um momento do tempo, a
definição do ser como vigência refere-se, pois, ao tempo.
Se tento, agora, determinar a vigência a partir do tempo e se busco, na
história do pensamento, o que foi dito sobre o tempo, descubro que desde
Aristóteles a essência do tempo é determinada a partir de um ser já determinado. E é por esse motivo que
tentei desenvolver, em Ser e tempo,
um novo conceito do tempo e da temporalidade no sentido da abertura.[1]
Da mesma forma, o
pesquisador não deve dizer simplesmente:
Descartes afirma que (Q)…
“Penso logo existo”
Ao invés disso,
terá de dizer algo como o seguinte:
Descartes afirma que (Q)…“Penso logo
existo”; contudo, a seguinte experiência mental demonstrada por Heidegger (de que primeiro existimos ou somos no
mundo) mostrará que não é verdade que (Q)... que o pensamento é a condição da existência dos sujeitos”;
Ou:
Descartes afirma que (Q)… “penso logo existo”;.
Julgo que esta afirmação é plausível, pelas seguintes razões...
a)
Remonta aos clássicos de
que a essência precede a existência.
b) De que antes de os objectos vir a existência existe uma ideia (forma) sobre
ela como sustenta a metafísica de Aristóteles;
c)
De que só quem pensa
autonomamente existe.
d) E, por fim, para nos separar dos restantes seres vivos do reino animal.
(Isso é apenas um exemplo)
Originalidade
O objectivo dos
ensaios é demonstrar que o estudante entende o problema e é capaz de pensar
criticamente sobre ele. Para que isto aconteça, o ensaio do estudante tem de
revelar algum pensamento independente.
Isto não
significa que o estudante tem de apresentar a sua própria teoria, ou que tenha
de dar uma contribuição completamente original para o pensamento humano. Haverá
muito tempo para isso no futuro. Um ensaio bem escrito é claro e directo,
rigoroso ao atribuir opiniões a outros filósofos, e contém respostas ponderadas
e críticas aos textos que lemos. Não é necessário inovar sempre.
Mas, o estudante
deve tentar trabalhar com os seus próprios argumentos, ou a sua maneira de
elaborar, criticar ou defender algum argumento que viu nas aulas. Não basta
simplesmente resumir o que os outros disseram.
ESTÁGIOS PARA CONSTRUÇÃO DOS ARGUMENTOS
Primeiro Estágio
Os primeiros
estágios de redacção de um ensaio de filosofia incluem tudo o que o estudante
faz antes de se sentar para escrever o seu primeiro esboço. Estes primeiros
estágios envolvem a escrita, mas o estudante ainda não vai escrever um ensaio
completo. Pelo contrário, o estudante deve fazer anotações de leituras,
rascunhos das suas ideias, tentativas para explicar o argumento principal que
deseja avançar, e deve criar um esboço.
Discuta as
questões com os outros
Como foi dito,
espera-se que os ensaios dos estudantes demonstrem que estes entenderam o
assunto que discutiram nas aulas e, mais ainda, que podem pensar criticamente
sobre esse assunto. Uma das melhores maneiras de verificar a nossa compreensão
da matéria das aulas é tentar explicá-la a quem não está ainda familiarizado
com ela.
A experiência pessoal de muitos
professores de filosofia é que descobrem repetidamente, enquanto ensinam filosofia, que não conseguem
explicar adequadamente uma questão ou argumento que julgavam ter entendido bem.
Isto acontece porque o problema é mais complexo do que se tem apercebido. O
estudante terá a mesma experiência. Por isso, é bom que troque considerações
com colegas e com amigos que não assistem às aulas, o que os ajudará a
compreender melhor o que discutem nas aulas e a identificar o que ainda não
compreenderam inteiramente. (cfr. Ficha de apontamentos pessoais)
Será ainda mais
proveitoso que os estudantes troquem considerações entre si sobre o que querem
discutir nos seus ensaios. Quando as ideias do estudante estiverem suficientemente
bem trabalhadas para que ele possa explicá-las oralmente, então ele estará
pronto para se sentar e fazer um esboço.
Faça um esboço de trabalho
Formule, no
início do trabalho, o problema ou a questão central que deseja tratar, e
mantenha-o em mente. Descreva o problema, e por que razões é um problema.
Certifique-se de que diz apenas o que é relevante para o tema central e de que
informa ao leitor da relevância do que vai tratar. Não os obrigue a adivinhar.
Antes de começar
a escrever um rascunho, você precisa pensar sobre o que vai escrever: em que
ordem deve explicar os diversos pontos a serem abordados? Em que pontos deve
apresentar a posição ou argumento contrários? Em que ordem deve expor a crítica
que faz aos argumentos ou posições contrárias? O que pretende discutir
pressupõe outra discussão anterior? E assim por diante.
A clareza geral
do seu ensaio dependerá em grande parte da sua estrutura. Por isso, é
importante pensar sobre estas questões antes de começar a escrever.
Eu recomendo fortemente
que, antes de começar a escrever, o estudante faça um esboço do ensaio e dos
argumentos que vai apresentar, o que lhe será útil para organizar os pontos que
quer abordar e para lhes dar uma direcção. Este procedimento também ajuda o
estudante a assegurar-se de que pode dizer qual é seu argumento principal ou
crítica, antes de se sentar para escrever um rascunho completo. Geralmente,
quando os estudantes têm dificuldade em escrever, é porque ainda não
compreenderam bem aquilo que estão a tentar dizer.
Dê toda a atenção
ao esboço, que deve ser bem detalhado (Para um ensaio de 5 páginas, um esboço
adequado deve ter uma página inteira ou mesmo mais).
N.B: Fazer um esboço de trabalho representa pelo menos 80% do trabalho de
escrever um ensaio de filosofia. Se faz um bom esboço, o resto do processo de
escrita será muito mais tranquilo.
Comece logo a trabalhar
Os problemas
filosóficos e a redacção filosófica exigem cuidado e reflexão complementares. O
estudante não deve esperar até duas ou três noites antes da data de entrega
para começar a escrever. Isto é tolo. Escrever um bom ensaio de filosofia exige
um grande esforço de preparação.
O estudante
precisa dar a si mesmo tempo suficiente para pensar sobre o tópico e escrever
um esboço detalhado. Só então estará pronto para escrever um rascunho completo.
Concluído o rascunho, abandone-o por um ou dois dias. Só então deve retomá-lo e
reescrevê-lo várias vezes. Pelo menos 3 ou 4. Se puder, mostre-o aos seus
amigos e observe as suas reacções. Eles compreendem os seus pontos principais?
Há partes no seu rascunho obscuras ou confusas para eles?
Tudo isso leva
tempo. Assim, o estudante deve começar a trabalhar nos seus ensaios assim que
os tópicos estejam determinados.
Use uma linguagem simples
Não aposte na
elegância literária. Use um estilo simples e directo; mantenha frases e
parágrafos curtos e escolha palavras familiares. Se usar palavras rebuscadas
onde as simples dariam conta do recado, os professores riem-se de si. As
questões da filosofia são suficientemente profundas e difíceis sem que o
estudante tenha de as emporcalhar com uma linguagem pretensiosa ou verborreica.
Não escreva num estilo que não usaria
coloquialmente: se não se diz assim, não o escreva assim.
O estudante pode
pensar que, uma vez que o professor de filosofia já sabe muito sobre o tema do
ensaio, pode deixar de lado boa parte da explicação básica e escrever num
estilo super-sofisticado, como um especialista que fala com outro. Garanto que
este procedimento tornará o seu trabalho incompreensível.
Se o seu ensaio
soar como se tivesse sido escrito para uma audiência da terceira classe, então,
provavelmente tem a clareza adequada.
Nas aulas de
filosofia o estudante encontra por vezes filósofos cujo estilo é obscuro e
complicado. Todos os que lêem este tipo de texto acham-no difícil e frustrante.
Os autores em questão são filosoficamente importantes, apesar de a sua
prosa ser má, e não por causa dela. Assim, não tente imitar esse tipo de
prosa.
Torne fácil a estrutura do ensaio
A estrutura do
seu ensaio tem de ser óbvia para o leitor. Não obrigue o leitor a despender
energias para a compreender. Ofereça as suas ideias de bandeja.
Antes de mais
nada, use conectores como os seguintes:
- Porque, uma vez que, dado o argumento.
- Logo, portanto, por conseguinte, segue-se que, consequentemente.
- Não obstante, todavia, contudo, mas.
- No primeiro caso, por outro lado.
Estes recursos
ajudam o leitor a não perder a direcção da sua argumentação. Certifique-se que
usa as palavras correctamente! Se disser “P.
Portanto Q.”, está a afirmar que P é uma boa razão para se aceitar Q. É
melhor que isso seja mesmo assim. Se não for, os professores protestam. Não
atire de qualquer maneira um “portanto” ou um “consequentemente” para fazer o
seu pensamento parecer mais lógico do que realmente é.
Outro recurso que
pode ajudá-lo a tornar fácil a estrutura do seu trabalho é dizer ao leitor o
que já fez até o momento e o que vai fazer em seguida. Pode dizer algo como o
seguinte:
- Começaremos por...
- Antes de dizer o que está errado com este argumento queremos...
- Estas passagens sugerem que...
- Vamos agora defender esta afirmação...
- Esta afirmação é também apoiada por...
- Por exemplo...
Estes indicadores
fazem uma grande diferença. Considere os seguintes dois fragmentos de ensaios:
... Acabámos de ver como “X” diz que “P”. Vamos agora apresentar dois
argumentos a favor de não-P. O primeiro argumento é...
O segundo argumento a favor de não-P é...
“X” pode responder aos meus argumentos de várias formas. Por exemplo, poderia dizer que...
Todavia esta resposta falha, porque...
“X” também poderia responder a meu argumento afirmando que...
Esta resposta também falha, porque...
Assim, vimos que nenhuma das respostas aos meus argumentos a favor de não-P foi bem sucedida. Consequentemente, devemos rejeitar a afirmação de “X” de que “P”.
O segundo argumento a favor de não-P é...
“X” pode responder aos meus argumentos de várias formas. Por exemplo, poderia dizer que...
Todavia esta resposta falha, porque...
“X” também poderia responder a meu argumento afirmando que...
Esta resposta também falha, porque...
Assim, vimos que nenhuma das respostas aos meus argumentos a favor de não-P foi bem sucedida. Consequentemente, devemos rejeitar a afirmação de “X” de que “P”.
Vamos defender a ideia de que “Q”.
Há três razões para se pensar que é verdade que “Q”. Primeiramente...
Em segundo lugar...
Em terceiro lugar...
A objecção mais forte a “Q” é que...
Todavia, esta objecção não é bem sucedida, pela seguinte razão...
Há três razões para se pensar que é verdade que “Q”. Primeiramente...
Em segundo lugar...
Em terceiro lugar...
A objecção mais forte a “Q” é que...
Todavia, esta objecção não é bem sucedida, pela seguinte razão...
Veja-se como é
fácil reconhecer a estrutura destes ensaios. A estrutura dos ensaios dos
estudantes deve ser igualmente fácil.
Uma observação
final: deixe sempre muito claro quando expõe suas opiniões ou, ao contrário,
quando apresenta a opinião de algum filósofo que estiver discutindo. O leitor
não deve ficar em dúvida sobre a autoria das afirmações que faz em um dado
parágrafo.
O estudante não
conseguirá tornar óbvia a estrutura do seu ensaio se não souber que estrutura é
essa, ou se o ensaio não tiver nenhuma. Por isso, é tão importante fazer um
esboço de trabalho.
Seja conciso, mas explique-se completamente
Para escrever um
bom ensaio de filosofia, precisamos de ser concisos. Ainda assim, temos de
explicar completamente os nossos pontos de vista.
Pode parecer que
estas exigências nos empurram em direcções opostas mas, se as compreender
adequadamente, verá que é possível atender a ambas.
- Insistimos na concisão porque não queremos ver o estudante a divagar a respeito de tudo o que conhece de um determinado tema, tentando mostrar como é inteligente e culto. Cada ensaio deve tratar de uma única questão ou problema específico. Certifique-se de que trata efectivamente desse problema em particular. O que não se referir especificamente ao problema a ser tratado não deve constar do seu ensaio. Elimine todo o resto. É sempre melhor concentrar-se em um ou dois pontos e desenvolvê-los em profundidade do que falar de tudo. Um ou dois caminhos claros funcionam melhor que uma floresta impenetrável.
Formule, no
início da pesquisa, o problema ou questão central que deseja tratar, e
mantenha-o em mente o tempo todo. Esclareça qual é o problema, e por que razão
é um problema. Certifique-se de que diz apenas o que é relevante para o tema
central e de que informa ao leitor da relevância do que vai tratar. Não o
obrigue a adivinhar.
Quando temos um
tópico para explorar, não devemos simplesmente atirá-lo numa frase. Explique-o;
dê um exemplo; esclareça de que forma esse tópico ajuda o seu argumento.
Explique-se completamente
ou seja, seja tão claro e explícito quanto possível quando estiver a escrever.
Diga exactamente o que pretende.
Faça de conta que
o leitor não leu o material que está a discutir, e que não reflectiu muito
sobre ele, o que obviamente não será verdade. Mas, se o estudante escrever como
se isto fosse verdade, sente-se forçado a explicar termos técnicos, ilustrar
distinções estranhas ou obscuras, e ser tão claro quanto possível quando
resumir o que os outros filósofos disseram.
Uso de exemplos e definições
É muito
importante usar exemplos num ensaio de filosofia. Boa parte das afirmações que
os filósofos fazem são muito abstractas e de difícil compreensão, e os exemplos
são a melhor forma de as tornar mais claras.
Os exemplos são
também úteis para explicar os conceitos que ocupam um papel central no
argumento do estudante. Procure deixar clara a maneira como os entende, mesmo
que sejam recorrentes em discursos do dia-a-dia. Tal como são usados no
dia-a-dia podem não ter um significado suficientemente claro ou preciso.
Por exemplo:
Suponha que está
a escrever um ensaio sobre o aborto, e quer sustentar que “Um feto é uma
pessoa.” O que quer dizer com “pessoa”? O que quer dizer com “pessoa” vai
determinar fortemente se esta premissa será ou não aceitável para o leitor.
Também fará uma grande diferença no efeito persuasivo do seu argumento. Em si,
o seguinte argumento não tem valor:
Um feto é uma pessoa.
É errado matar uma pessoa.
Logo, é errado matar um feto.
É errado matar uma pessoa.
Logo, é errado matar um feto.
Não tem valor
porque não sabemos o que o autor pretende dizer ao afirmar que um feto é uma
pessoa, o correcto seria dizer que:
Segundo algumas
interpretações de “pessoa”, pode ser óbvio que um feto seja uma pessoa.
Em contrapartida, será
bastante controverso se, no mesmo sentido de “pessoa”, matar for sempre algo
errado. Segundo outras interpretações, é mais plausível que seja sempre errado
matar pessoas, mas totalmente confuso se um feto pode ser entendido como “pessoa.”
Assim, tudo
resulta no que o autor pretende dizer com “pessoa”. O autor tem de ser
explícito a respeito do uso desse conceito.
Num ensaio de
filosofia, podemos dar às palavras um sentido diferente do usual, mas teremos
de deixar claro que estamos a fazer isso.
Por exemplo:
Alguns filósofos usam a
palavra “pessoa” significando qualquer ser capaz de pensamento racional e
auto-consciência. Entendido desta forma, animais como baleias e chimpanzés
podem perfeitamente ser entendidos como “pessoas”. Não é este o significado que
comummente damos a esta palavra; comummente, só os seres humanos são “pessoas”.
Mas está muito bem usar “pessoa” neste sentido, se esclarecermos o que queremos
dizer com este termo. O mesmo acontece com quaisquer outras palavras deste género
que usamos nos nossos ensaios.
N.B. Não diversifique o vocabulário em benefício da
variedade. Se referimos algo como “X” no começo do ensaio, temos de
continuar a referir-nos a isso como “X”. Não comece por falar sobre “a
perspectiva de Platão sobre o ego”, mudando para “a perspectiva de Platão sobre
a alma”, e depois para “a perspectiva de Platão sobre a mente”. Se se refere à
mesma coisa nos três casos, use só um nome. Em filosofia, uma ligeira mudança
no vocabulário indica geralmente a intenção de nos referirmos a outra coisa.
Como usar palavras com significados filosóficos precisos?
Os filósofos dão
a muitas palavras comummente usadas significados técnicos precisos.
Certifique-se de que usa essas palavras correctamente. Não use palavras que não
compreende bem. Use termos filosóficos técnicos somente quando forem
necessários. Não há necessidade de explicar termos filosóficos gerais como “argumento
válido” e “verdade necessária”. Mas deve explicar quaisquer termos técnicos
cujo uso conduza ao tópico específico que está a discutir. Assim, por exemplo,
se usar quaisquer termos especializados como “dualismo” ou “fisicismo” ou
“behaviorismo,” deve explicar o seu significado. Proceda da mesma forma se usar
termos técnicos como “Dasein” e
outros semelhantes. Mesmo quando os filósofos profissionais escrevem para
outros filósofos profissionais têm de explicar o vocabulário técnico especial
que está a usar. Pessoas diferentes às vezes usam o vocabulário especial de
diferentes formas, por isso, é importante ter certeza de que os nossos leitores
dão a estas palavras o mesmo significado. Faça de conta que seus leitores nunca
as ouviram antes.
Como apresentar e avaliar pontos de vista alheios?
Se temos em mente
discutir as opiniões do filósofo Heidegger ou Sartre, temos de começar por
descobrir quais são os seus argumentos ou pressupostos centrais.
De seguida,
pergunte a si mesmo se: os argumentos de Heidegger são bons? Os seus
pressupostos são apresentados com clareza? São plausíveis? São pontos de
partida razoáveis para o argumento de “X”, ou ele deveria ter oferecido algum
argumento independente?
Certifique-se de
que entende exactamente o que a posição que está criticando diz. Os estudantes
perdem muito tempo a argumentar contra opiniões que parecem indicar o que
supõem estar sendo afirmado, mas na verdade dizem outra coisa.
N.B: A filosofia exige um alto nível de precisão. Não basta
simplesmente entender a ideia geral da posição ou argumento de alguém. Temos de
compreender rigorosamente o que está a ser dito. (Neste aspecto, a filosofia
está mais próxima da ciência do que as outras humanidades.) Boa parte do
trabalho em filosofia consiste em certificarmo-nos de que compreendemos bem a
posição de quem discordamos.
Podemos presumir
que o nosso leitor é tolo (veja-se acima), mas não devemos tratar o filósofo ou
as posições que estamos a discutir como tolas. Se o fossem, não estaríamos a
discuti-las. Se não conseguimos ver nenhuma plausibilidade na posição que
estamos a refutar, talvez não tenhamos muita experiência em pensar e argumentar
sobre ela e ainda não compreendemos inteiramente por que motivos os seus
proponentes a defendem. Procure esforçar-se um pouco mais para descobrir o que
os motiva.
Nos nossos
ensaios temos sempre de explicar qual é a perspectiva de “Heidegger” que
queremos criticar, antes de fazê-lo. Se não o fizermos, o leitor não poderá
julgar se a crítica que oferecemos a “Heidegger” é boa, ou se apenas se baseia
em uma má interpretação ou má compreensão do ponto de vista de “Heidegger”.
Assim, diga ao leitor o que acha que “Heidegger” afirma.
Contudo, não
tente dizer ao leitor tudo que sabe sobre o ponto de vista de “Heidegger”. O
pesquisador também tem de ter espaço para oferecer sua própria contribuição
filosófica. Resuma apenas aquelas
partes da posição de “Heidegger”
que são relevantes para o que pretende fazer.
Às vezes
precisamos de argumentar em defesa das nossas interpretações do que “Heidegger”
diz, citando passagens que a confirmem. E é aceitável que queiramos discutir
uma opinião que julgamos ser de um filósofo, ou que poderia ter sido, apesar de
nos textos desse filósofo não haver nenhuma indicação directa desse ponto de
vista. Quando fizermos isto, todavia, devemos explicitamente dizer que o
fazemos. Diga algo como:
O filósofo “Heidegger” não afirma explicitamente que “com a morte o homem torna-se nada”, mas
parece que o presume porque “a morte define o homem, pois põe ponto final a sua
projectualidade”.
Citações
Quando uma
passagem de um texto for particularmente útil para apoiar a sua interpretação
do ponto de vista de algum filósofo, pode ajudar se citar directamente a
passagem. (Especifique de onde retirou a passagem.) Todavia, as citações
directas devem ser usadas com parcimónia. Raramente é necessário citar mais do
que umas poucas frases. Frequentemente será mais apropriado parafrasear o que “Heidegger”
diz, do que citá-lo directamente. Quando parafraseamos o que outra pessoa
disse, temos de nos certificar que é claro que estamos a fazer isso (e também
neste caso temos de citar as páginas onde se encontram as passagens que estamos
a parafrasear).
As citações nunca
devem ser usadas com um substituto da nossa própria explicação. Quando citamos
um autor, temos de explicar o que a citação diz com as nossas próprias palavras.
Se a passagem citada contém um argumento, temos de o reconstruir em termos mais
explícitos e directos. Se a passagem citada contém uma afirmação ou pressuposto
principal, temos de indicar qual é. Pode ser que queiramos usar exemplos para
ilustrar a posição do autor. Por vezes, é necessário distinguir a opinião do
autor de outras com as quais pode ser confundida.
Paráfrases
Às vezes, quando
os estudantes tentam explicar o ponto de vista de um filósofo, fazem-no através
de paráfrases muito próximas às próprias palavras do filósofo. Mudam algumas
palavras, omitem outras, mas geralmente ficam muito próximos do texto original.
Por exemplo, Hume começa o seu Tratado Sobre o Entendimento Humano da
seguinte forma:
“Todas as percepções da
mente humana se dividem em dois tipos distintos, a que irei chamar impressões e
ideias. A diferença entre eles consiste no grau de força e vivacidade com que
afectam a mente e entram no nosso pensamento ou consciência. Àquelas percepções
que entram com mais força e violência podemos chamar impressões; e sob este
nome eu abranjo todas as nossas sensações, paixões e emoções, tal como primeiro
surgem na alma. Por ideias entendo as imagens mais fracas destas impressões no
pensamento e no raciocínio”.
Aqui está um
exemplo de como não se deve parafrasear:
“Hume diz que todas as
percepções da mente se dividem em dois tipos: impressões e ideias. A diferença
está na intensidade da força ou vivacidade que têm nos nossos pensamentos e na
nossa consciência. As percepções com maior força e violência são impressões:
são as sensações, paixões e emoções. As ideias são imagens fracas de nosso
pensamento e raciocínio”.
Há dois problemas
principais com paráfrases deste tipo. Em primeiro lugar, são feitas
mecanicamente. Não demonstram que o autor compreendeu o texto. Em segundo
lugar, uma vez que o autor ainda não compreendeu bem o que o texto quer dizer
de modo a expressá-lo pelas suas próprias palavras, há o risco de
inadvertidamente alterar o significado original do texto. No exemplo acima,
Hume diz que as impressões “afectam a
mente” com mais força e vivacidade do que as ideias. Mas a paráfrase diz
que as impressões têm mais força e vivacidade “nos nossos pensamentos”. Não é óbvio que isto seja a mesma coisa.
Além disso, Hume diz que “as ideias são
imagens fracas das impressões”; mas a paráfrase diz que “as ideias são imagens fracas do nosso
pensamento”, o que não é a mesma coisa. Assim, o autor da paráfrase parece
não ter compreendido o que Hume diz.
Um modo melhor de
explicar o que Hume diz aqui seria o seguinte:
“Hume afirma que há dois
tipos de ‘percepções’ ou estados mentais, a que chama impressões e ideias. Uma
impressão é um estado mental muito ‘forte’, como a impressão sensorial que
alguém tem ao olhar uma maçã vermelha. Uma ideia é um estado mental menos ‘forte’,
como a ideia que se tem de uma maçã quando pensamos sobre ela sem a ver. Não é
claro o que Hume quer dizer com ‘forte’. Pode querer dizer que...”
Antecipe objecções
Tente antecipar
objecções ao seu ponto de vista e responda-lhes. Por exemplo, se você objectar
contra a opinião de algum filósofo, não presuma que ele admitiria imediatamente
que estava enganado. Imagine qual poderá ser a contra-objecção desse filósofo.
E como poderá responder a essa contra-objecção?
Não tenha receio
de mencionar objecções à sua própria tese. É melhor que nós mesmos apresentemos
objecções do que pressupor que o leitor não vai pensar nelas. Explique como
acha que estas objecções podem ser contraditas ou superadas. Certamente não é
possível, com frequência, responder a todas as objecções que se possam
levantar. Assim, concentre-se naquelas que parecem mais fortes ou mais
importantes.
Exemplo nr 01
Descartes afirmara ser possível duvidar da existência de
tudo. Todo o mundo e nossa apreensão dele poderiam ser uma ilusão — mas não
posso duvidar de que estou pensando. Assim: “Penso, logo existo.” Apesar de sua
aparente transparência, esse discernimento é obscurecido por sua própria
gramática. O uso que Descartes faz da palavra “eu”* é introduzido pela natureza
do verbo “pensar” e do verbo “ser”. Se realmente duvidamos de todas as coisas,
concluímos de fato que o conceito “pensar” implica inevitavelmente o conceito
“existir”. O “eu” desse pensar e o “eu” desse existir são meramente exigências
da gramática.
Exemplo nr 02.
Para muitos que leram Heidegger não ficou
instantaneamente claro de que “diabo de ser” ele estava falando. Felizmente o
próprio Heidegger tinha consciência dessa dificuldade e da necessidade de
tratar dela.
Para esclarecer seu pensamento nesse ponto, usa ou recorre
a simples da vida metáfora rural. Que também confusionam a compressão, sobretudo
porque tenta explicar usando numa linguagem totalmente nova.
Exemplo nr 03.
“Aqui, como em muitos
lugares, Heidegger vai até o significado original das palavras. Ele se fia na
acepção original delas para sustentar sua argumentação. Mas por que deveria o
uso anterior, ou antigo, das palavras ser de algum modo superior ao moderno?
Buscar o significado original das palavras, ou as ressonâncias de um
significado anterior que elas contêm, não é garantia alguma de se chegar a uma
verdade essencial. Heidegger está certo: enterrada nas palavras está a história
de seu significado. Mas essa não é necessariamente uma história de deterioração
ou ocultamento. Ao contrário, a história do uso de uma palavra —
diferentemente da de seu significado verbal — é muitas vezes um registro de
progresso rumo a uma imagem mais verdadeira do que realmente acontece. Os
gregos ainda usam a palavra aletheia para “verdade”. Mas nem nós nem
eles vemos a verdade como não-esquecimento (ou desvelamento). Por que não?
Porque a verdade não tem nenhum vínculo necessário com a memória, não é
originalmente descoberta dentro dela. Muitos dos conceitos de Heidegger padecem
dessa abordagem defeituosa”. (Strathern,
sine data:16)
Respostas ao
problema levantado
Os nossos ensaios
nem sempre têm de dar uma solução definitiva para um problema, ou uma resposta
directa, do tipo sim ou não, para o problema levantado. Muitos ensaios
excelentes de filosofia não oferecem respostas directas. Às vezes argumentam
que o problema precisa de ser clarificado, ou que certos problemas adicionais
precisam de ser levantados. Outras vezes, argumentam que certos pressupostos
precisam de ser desafiados. Outras vezes, ainda, argumentam que certas
respostas ao problema são fáceis demais, isto é, não funcionam. Assim, se estes
ensaios estiverem correctos, o problema será de resolução muito mais complexa
do que poderíamos ter pensado. Estes resultados são todos importantes e
filosoficamente valiosos.
Portanto, não há
problema em fazer perguntas e levantar problemas nos nossos ensaios, mesmo que
não possamos dar respostas satisfatórias a todos. Podemos deixar algumas
perguntas não respondidas no final do ensaio. (Mas temos de deixar claro para o
leitor que algumas questões ficarão propositadamente sem resposta.) E devemos
dizer algo sobre como a questão poderia ser respondida, e o que torna a questão
interessante e relevante para o tema em causa.
Se alguma coisa
na abordagem que estamos a investigar não ficou clara, não a devemos disfarçar.
Pelo contrário, devemos chamar a atenção para a falta de clareza e sugerir
diferentes formas de a compreender. Temos ainda de explicar por que razão ainda
não se pode dizer quais destas interpretações é a correcta.
Se apresentamos
duas opiniões e, após um exame cuidadoso, não conseguimos decidir entre elas,
tudo bem. Não há problema em dizer que os pontos fortes e fracos destas
opiniões têm igual força, mas note-se
que isto também é uma afirmação que exige explicação e defesa ponderada, como
qualquer outra. Devemos apresentar razões que a apoiem, mas estas razões
têm de ser suficientemente boas para eventualmente persuadir quem não acha que
as duas opiniões têm igual força.
Às vezes, ao
escrever, descobrimos que os nossos argumentos não são tão bons como pareciam
no início. Podemos ter encontrado uma objecção a um argumento a que não
conseguimos dar uma boa resposta. Não é caso para entrar em pânico. Se há uma
dificuldade com o nosso argumento que não conseguimos resolver, temos de tentar
descobrir por que razão não podemos fazê-lo. Não há problema em mudar a nossa tese para outra que seja defensável. Por
exemplo, ao invés de escrever um ensaio que apresenta uma defesa inteiramente
sólida da perspectiva P, podemos mudar de ideias e escrever um ensaio que seja
mais ou menos assim:
Segundo a perspectiva filosófica de (P)Heidegger de que o
Ser seja Tempo. É plausível, pelas
seguintes razões...
“Os gregos
definiam o ser como vigência do que está presente. A noção de vigência lembra a
de actualidade, a actualidade é um momento do tempo, a definição do ser como
vigência refere-se, pois, ao tempo”.
Todavia, há
algumas razões para duvidar se será verdade a perspectiva filosófica de (P)
Heidegger. Uma destas razões é que (x)… O ser não foi assumido como
homem/Dasein como Heidegger queria. (x) o ser entendido como homem enquanto que
era Divino, a Natureza para os gregos, isso levanta um problema de que Heidegger
queria fundar uma religião sem Deus. Porque na sua ambição subtil toda sua filosofia
é uma religião sem Deus cujo o centro de gravidade deve ser o homem.
Não esta clara
como Heidegger pode superar esta objecção, pois subtilmente Ele trabalha com as
variáveis de Nietzsche embora não declare, declarada essa ambição fica
resolvido a verborragia dele contido no Ser e Tempo e outros escritos.
Ou podemos
escrever um ensaio da seguinte forma:
Um argumento a
favor de “P” é o “Argumento da Conjunção”, que funciona como se segue...
À primeira vista, este argumento (Os gregos definiam o ser como vigência do que está presente. A noção de vigência lembra a de actualidade, a actualidade é um momento do tempo, a definição do ser como vigência refere-se, pois, ao tempo) é bastante atraente. Todavia, falha pelas seguintes razões...
Podemos tentar corrigir o argumento, da seguinte maneira...
Mas estas correcções não funcionam, porque...
Concluamos que o Argumento da Conjunção na verdade não consegue estabelecer que P.
Escrever um
ensaio desse tipo não significa que nos “rendemos” à posição contrária. Afinal,
nenhum destes ensaios nos compromete com a perspectiva não-P. São apenas
justificações honestas da dificuldade de se encontrar argumentos conclusivos a
favor de (P). Mas pode ser que mesmo assim (P) seja verdade.
Reescreva e continue a reescrever
Depois de termos
escrito um rascunho completo do nosso ensaio devemos deixá-lo de lado por um
dia ou dois. Então, devemos retomá-lo e relê-lo. À medida que for lendo cada
frase, diga a si mesmo coisas como:
“Esta afirmação realmente
faz sentido?”
“Isto não está claro!”
“Isto é pretensioso.”
“O que quer isto dizer?”
“Qual é a conexão entre
estas duas frases?”
E assim por
diante.
Certifique-se que
todas as frases do seu rascunho fazem falta e livre-se daquelas que não fazem
falta. Se não consegue identificar a contribuição de uma frase qualquer para a
sua discussão central, livre-se dela, ainda que pareça boa. Nunca devemos
inserir questões a mais nos nossos ensaios, a menos que sejam importantes para
o argumento principal e que haja espaço para explicá-las.
Se não estiver
satisfeito com alguma frase, pergunte a si mesmo por que razão essa frase o
incomoda. Pode ser que não tenha entendido bem o que está a tentar dizer, ou
que não acredite realmente no que está a afirmar.
Temos de nos certificar
de que nossas frases dizem exactamente o que queremos dizer. Por exemplo,
suponha-se que escrevemos”
“O aborto é o mesmo que assassinato”.
É isso realmente
o que pretendemos dizer? Então, quando Manuel Escurinho assassinou Carlos Cardoso, ele estava a fazer o mesmo que
a abortar Carlos Cardoso? Ou queremos dizer outra coisa qualquer? Talvez
queiramos dizer que o aborto é uma forma de assassinato. Numa conversa,
é razoável esperar que alguém entenda o que queiramos dizer, mas não deve
escrever dessa maneira. Ainda que o nosso professor de filosofia consiga
entender o que queremos dizer, está mal escrito. Na redacção filosófica, é
preciso dizer exactamente o que se pretende.
Procure, ainda,
prestar atenção à estrutura de seu esboço. Quando for revê-lo, é muito mais
importante trabalhar na estrutura e clareza geral do trabalho do que ocupar-se
em apagar uma frase ou palavra. Certifique-se de que seu leitor sabe qual é sua
afirmação principal e quais são seus argumentos a favor dela. Temos de garantir
que os nossos leitores são capazes de dizer qual é o ponto principal de cada
parágrafo. Não basta que nós o saibamos. É preciso que seja óbvio para o
leitor, mesmo para um leitor preguiçoso.
Se puder, mostre
o rascunho do seu ensaio a amigos ou colegas de curso e recolha alguns
argumentos e conselhos. Recomendo vivamente que o faça. Os seus amigos
compreendem os seus pontos principais? Há trechos obscuros ou confusos para os
outros no seu rascunho? Se os seus amigos não são capazes de compreender tudo
que escreveu, o professor também não o será. Os seus parágrafos e seu argumento
podem parecer perfeitamente claros para si e não fazer sentido para mais
ninguém.
Outra maneira boa
de verificar seu rascunho é lê-lo em voz alta, o que o ajudará a perceber se é
coerente. Nós podemos saber o que queremos dizer, mas o que pretendemos dizer
pode não estar realmente escrito. Ler o ensaio em voz alta ajuda-nos a perceber
falhas no nosso raciocínio, digressões e trechos obscuros.
Questões Menores
Começar a escrever
Não comece com
frases do tipo “Ao longo dos tempos, a humanidade tem reflectido sobre o
problema do...”. Não há necessidade de aquecimento. Vá directo ao ponto, na
primeira frase.
Não inicie
igualmente o artigo com frases do tipo “O dicionário Aurélio define alma
como...”. Os dicionários não são boas autoridades no campo da filosofia. Eles
registam a maneira como as palavras são usadas no dia-a-dia, mas muitas destas
palavras têm significados diferentes, especializados na filosofia.
Gramática
·
Não devemos
evitar repetições, se para as evitarmos obscurecemos o texto. Falar de
Aristóteles, e depois de “o estagirita” e depois de “o discípulo de Platão” só
para não repetir o nome de Aristóteles em nada ajuda a compreender o texto.
- Evite deselegâncias gramaticais que dificultam a compreensão, como frase passivas (“A doutrina da imortalidade da alma foi aceite por Platão desde muito cedo” é muito mais difícil de perceber do que a activa: “Desde muito cedo que Platão aceitou a doutrina da imortalidade da alma.”)
- Podemos usar livremente a primeira pessoa nos nossos ensaios, sobretudo para marcar a diferença entre o relato do que dizem os outros filósofos e o que nós pensamos do que eles dizem. É mais claro dizer, “Julgo que o cogito de Descartes é uma falácia subtil” do que dizer “Julgamos que o cogito de Descartes é uma falácia subtil”.
- Procure usar frases declarativas e afirmativas simples, evite perguntas de retórica, exageros e hipérboles. É mais claro dizer “Julgo que este argumento está errado.” do que dizer “Será que alguém pensa que este argumento está certo?”.
- Procure usar claramente os conectivos lógicos da linguagem. É mais claro dizer “Se a vida não tem sentido, não há valores morais” do que dizer “Considerando que a vida não tem sentido, somos forçados a concluir por necessidade que a existência de valores morais tem de ser uma ilusão”, ou mesmo “se Deus não existe, então tudo é permitido” Domine o uso das conjunções (e), disjunções (ou), condicionais (se…, então…), negações (não) e condicionais (…se, e só se,…). Domine também o uso dos quantificadores (todos, alguns, pelo menos um, um e um só, etc.).
Leituras secundárias
Na maioria das disciplinas, há leituras complementares. Trata-se de
leituras opcionais, e devem ser fruto de estudo independente.
Não precisamos de usar estas leituras complementares quando estamos a
redigir um ensaio. O objectivo do ensaio é ensinar o estudante a analisar um
argumento filosófico e a apresentar os seus próprios argumentos a favor ou
contra uma dada conclusão. Os argumentos que estudamos nas aulas são, por si,
suficientemente complexos para merecer toda a atenção do estudante.
Observações
técnicas
Procure manter-se
dentro do limite de número de palavras; nem mais, nem menos. Ensaios muito
longos são tipicamente demasiado ambiciosos, ou repetitivos, ou cheios de
digressões. A classificação dos estudantes sofrerá negativamente se os ensaios
tiverem qualquer um destes defeitos. Por isso, é importante perguntar a si
mesmo quais são as coisas mais importantes que tem de dizer, e o que pode ser
deixado de fora.
Mas o seu ensaio
também não deve ser demasiado curto! Não corte abruptamente um argumento. Se o
tópico que escolheu levanta certos problemas, assegure-se de que lhes responde.
Use espaço de 1.5,
numere as páginas e inclua margens segundo as exigências informáticas, não as
altere. Um ensaio académico não deve, ter fotografias com cores, etc.; deve
valer pela sofisticação do conteúdo e pela sobriedade da apresentação.
Conclusão
Não existe um modelo
único para projectos de pesquisa em filosofia, devido à diversidade de tipos de
pesquisas e interesses. Porém, é possível e necessário que se estabeleçam
alguns pontos que servem de percurso para a pesquisa, considerando que este
deve ser flexível e adaptado a especificidade da pesquisa, as suas finalidades.
O modelo aqui
apresentado, foi elaborado pensando na pesquisa em filosofia. Com todos os
limites que isto significa, por isso não damos por terminado. Mas duro que isso
não é ficar consciente deste facto, é estar ciente que escrever em filosofia
como também em outras áreas não é fácil. Por isso, precisamos de disciplina
para escrever, examinar o escrito cuidadosamente, revê-lo e reescrevê-lo antes
de chegar a mesa de avaliação ou nas mãos dos nossos leitores.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
AULETE Caldas
(1958), Dicionário contemporâneo da
Língua Portuguesa, 4ª edição, Rio de Janeiro: Delta, 5Vl.
FACHIN. O. (2003), Fundamentos de Metodologia. São
Paulo: Saraiva.
FURASTÉ, Pedro A. (2005), Normas Técnicas para o
Trabalho Científico, 14 ed. Porto Alegre: s/n.
GIL, A. C. Como elaborar projectos de pesquisa. 4.
ed. São Paulo: Atlas, 2002.
HEGENBERG, Leónidas.
(1969), Explicações Cientificas: introdução
a filosofia da ciência, São Paulo: ed. Herder/Edusp,
LAKATOS, M. (1990), Técnicas de Pesquisa. São
Paulo: Atlas.
LIMA. M. C. (2004), Monografia: engenharia da produção acadêmica. São
Paulo: Saraiva.
MARIA Sónia; DE
SOUSA Ribeiro. (1995), Um outro olhar: Filosofia. Ed. F.T.D, São Paulo.
STRATHERN Paul, Heidegger em 90 minutos, Ed. Zahar,
Rio de Janeiro, sine data.(Trad.Maria Luiza X. de A. Borges )
Endereços de
internet:
MADEIRA Hélder, Conhecimento científico ou migalhas
científicas: uma reflexão epistemológica! Disponível em www.helmadeira.blogspot.com, Janeiro de
2012.
Problema, disponível em http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met05.htm
- acesso em Agosto de 2006:
O Projecto de Pesquisa. Disponível em: www.pedagogiaemfoco. Acessado em Agosto
de 2005.
Enciclopédia:
ENCICLOPÉDIA
MICROSOFT ENCARTA (1993-2001) Microsoft Corporation.
Artigos e
manuais:
CUAMBE Catarina, (2012), Aspectos a observar para a
elaboração da tese: Indicações Metodológicas Para Trabalhos De Tese Em
Filosofia E Ética, ISMMA-Maputo
MATUSSE Olívia Maria (2013), Manual de metodologia de Investigação Científica: Para a Elaboração
de Monografias Escolares e Outros Tipos de Pesquisas Científicas, ISMMA-Maputo
Notas pessoais das aulas de:
MAZULA, PhD Brazão, Ética
e Política, USTM, 2012.
CASTIANO, PhD José, Filosofia
Africana, USTM 2012
NGOENHA, PhD
SEVERINO ELIAS, Dissertation of Independent Reserch Project PHL 541 USTM
2013.
2013.
[1] Martin Heidegger, .Entrevista concedida por Martin Heidegger ao
Professor Richard Wisser., in: O que nos faz pensar. Homenagem a Martin
Heidegger por ocasião do vigésimo aniversário de sua morte, Cadernos do
Departamento de Filosofia da PUC-RIO, out. 1996, n. 10, vol. 1, p. 15-16)