ÍNDICE
INTRODUÇÃO
O presente trabalho
é um breve resumo sintético do ensaio Ética e Trabalho: cinco estudos, de vários autores, organizado e realizado em 1988 na
Universidade Caxias do Sul, tudo nos indica que estamos perante ciclo
constituído por uma serie de conferências reunidas. Que procuram discutir sob
diferentes pontos de vista a questão do trabalho e a escravidão, sobretudo
busca reflectir como é que a Filosofia deu conta deste problema.
Este
é um Ensaio que
apesar de ser claro, conciso e logicamente concatenado, nem sempre prima pelo
fulgor literário, e, por vezes, mostra-se demasiado redundante em algumas
conferências. Porém como resumo sintético, impusemo-nos, a fidelidade total à
expressão e ao conteúdo do pensamento dos autores, espero não ferir a lógica
interna do ensaio e espero também, que este esforço seja bem aceite.
Para a realização deste trabalho, o método foi resumo
sintético e por vezes em breves escapadelas uma análise, fomos ao encontro do
texto mesmo, como se tivéssemos presentes nas conferências, aliás a clareza
textual do ensaio é apaixonante, fomos ouvindo os conferencistas de lição em
lição.
Enfim este trabalho vai seguir o seguinte percurso: em
ordem lógica vamos apresentando em resumos de 2 páginas as sínteses de cada
conferência.
CONFERÊNCIA Nr 01. A DIALÉCTICA DO SENHOR E DO ESCRAVO E A IDEIA DA REVOLUÇÃO (Carlos Roberto Cirne Lima)[1]
Para Cirne Lima, a dois tipos básicos de interpretação da
dialéctica do senhor e do escravo na Fenomenologia
do Espírito de Hegel.
O primeiro entende a dinâmica das relações entre o senhor
e escravo como algo necessário. Isto é, que a luta de classe e a revolução com
todas suas consequências de extrema violência é um momento necessário no
desenvolvimento histórico do tecido social rumo razão.
O segundo tipo de interpretação distingue, na figura do
senhor e do escravo um momento logicamente necessário. Isto é, que é inevitável
e indispensável bem como meramente histórico e contingente (não necessário).
Cirne Lima conduz sua reflexão tentado responder as
seguintes questões:
·
A luta de classe, a dominação abusiva do senhor, o medo
mortal e a sujeição do escravo são momentos necessários inevitáveis e
indispensáveis no curso da evolução da consciência para a autoconsciência?
·
Sem a luta, sem dominação e a escravidão não há como ir
adiante e surgir a autoconsciência?
·
Será a revolução necessária como um momento lógico, sem o
qual o social não pode surgir e instaurar-se?
·
Porque a situação do senhor e escravo (de dominação)
perdura?
Para ele, Hegel pode ser lido como um pensador da
liberdade e da contingência. E a luta de vida e morte da parábola do senhor e
escravo é algo contingente e histórico. E a consciência ao examinar e
experimentar a sua certeza e verdade examina-se a si mesmo.
A luta entre o senhor e o escravo deve ser de vida e não
de morte, mas não pode, de maneira nenhuma acabar com a morte. A luta de vida e
morte em sua radicalidade é luta só de vida. Estas são as primeiras respostas a
suas questões.
Opondo-se a Hegel, Cirne Lima afirma que, o contexto
especulativo exige esta leitura e não permite outras alternativas. Mas também a
morte não pode acontecer. Não podermos nos deixar impressionar meramente pela
dinâmica e pela lógica interna da parábola nesse sentido a parábola é muito
fraca.
O problema da dominação é até hoje uma das formas mais
frequentes em nossa sociedade, e por isso mesmo importantes no processo de
socialização e de reconhecimento. Se Hegel não tivesse inventado aquela
parábola, em algum lugar alguém o faria.
Na dialéctica do senhor e do escravo em sua pureza
lógica, o senhor é um problema insolúvel, e como tal põe em questão todo o
processo. A solução especulativa, seja através do trabalho, seja através da
linguagem passa pela utilização da dialéctica da “filia”, do amor universal concreto e operoso que une os homens e o
mundo, restabelecendo a simetria de relações e assim a harmonia dialéctica que
permite falar da razão.
Só assim a luta de vida e morte fica posta como momento
contingente e histórico da dialéctica do reconhecimento. A dialéctica do senhor
e escravo é apenas uma figura da consciência não do mundo efectivo, que é o
histórico.
A revolução é algo que quer queiramos quer não, ela vai
acontecer pois ela é o momento lógico e necessário da passagem da consciência
para a autoconsciência. Ela pode acontecer também como pode não acontecer.
A luta de vida e morte, bem como a dominação são um
momento contingente da figuração. Portanto não se pode confundir o necessário e
o contingente como se fossem ambos a mesma coisa, e é falsa a ideia de que a
revolução e somente a revolução violenta e sanguinária resolve a dialéctica do
senhor e do escravo. Para Cirne Lima, comparando Hegel e Marx afirma: Hegel não
é Marx em certas circunstâncias a revolução pode ser pacífica.
Desta distinção Cirne Lima tira conclusões pessoais
optando por interpretar Hegel e sua filosofia como um sistema aberto, onde a
escravidão passa a ser contingente e não necessário ou por outras palavras,
Cirne Lima propõe um caminho de libertação na dialéctica dos senhor e escravo que
pode ter um final feliz e não de submissão mas do reconhecimento.
CONFERÊNCIA Nr 2. ÉTICA E ESCRAVIDÃO NA IDADE MEDIA (Luís Alberto de Boni)[2]
O texto versa sobre a mudança de noção de propriedade e a
influência do cristianismo no desenvolvimento da escravidão.
De Boni conduz a reflexão partindo de duas constatações
históricas, que depois as põem em relação analisando a conexão entre a
escravidão e a ética do cristianismo.
A 1ª constatação é: a mudança de noção da propriedade ocorrida durante a passagem
do Império Romano para o mundo pós-romano constitui o pano de fundo do problema
da escravidão no mundo medieval.
A 2ª que também recebe o nome de paradoxo: a doutrina
cristã não conseguiu levar a supressão da escravidão pelo contrário catapultou
essas práticas ao longo dos séculos.
A análise do De Boni culmina na apresentação do
pensamento de alguns filósofos medievais especialmente Tomas de Aquino e Duns
Scotus dando mais valência ao último pela enginhosidade do pensamento e consistência
nas suas teses para a abolição do mesmo.
De Boni monstra que uma determinada leitura de Duns
Scotus aponta a possibilidade encontrar os prenúncios do sistema capitalista de
produção já no século XIV.
Um dos motivos pelo qual a escola romana parece ser
monolítica foi a noção de propriedade do direito privado romano. Tratava-se de
uma noção simples e individualista. Para esse contexto ser proprietário
significava ter o direito de uso, de colher os furtos e acima de tudo, de
dispor livremente de objectos, não havendo a possibilidade de mais de um
indivíduo ser proprietário de um único bem. Só um pode ser o proprietário, e o
objecto possuído por um não pode ser possuído por outro. Eventualmente tem-se
direito na propriedade de outrem, mas não direito de propriedade sobre aquilo
que já pertence ao outro.
No mundo pós-romano que se instaurou no feudalismo que se
foi estabelecendo em diversas regiões, a excepção de outrora torna-se regra. O
proprietário tem uma fraca revelação com a propriedade, cabendo ao vassalo o
uso da terra e o aproveitamento de seus frutos, enquanto o senhor é compensado
por impostos de natureza diversa.
Quase não existia a venda de terras, mas facilmente
passava-se para a sub-feudação, acabando por haver uma série de senhores sobre
aquele que cultivava a terra. Todos eram proprietários excepto o trabalhador,
pois um escravo do primeiro proprietário era uma pessoa com alguns direitos
diferentes do escravo dos tempos romanos. Mas estava preso a terra, dela não
podendo afastar-se.
A descoberta do direito romano, não conseguiu impor
novamente o conceito do senhorio único sobre a propriedade.
O domínio sobre as coisas mistura-se com o domínio sobre
as pessoas em uma sociedade onde o poder central quase esvaí-se e onde o senhor
passou a exercer ofícios públicos. O contrato sobre as terras tornou-se
contrato entre as pessoas. De um lado a protecção, de outro lado a lealdade.
Sobre o alicerce do direito romano, dos costumes germânicos das tradições
patrísticas e do pensamento aristotélicos os filósofos e teólogos medievais
acabaram defendendo a noção de propriedade particular e uso comum.
2.1 A influência do
cristianismo
Não existiu no pensamento cristão uma evolução, uma
conversão, uma praxis que acabou por levar no decorrer do tempo a supressão da
escravidão, em suas formas mais violentas após a descoberta do novo mundo.
A pregação da igualdade para um reino futuro serviu sem
dúvidas para perpetuar as injustiças no tempo presente. Encontrava-se fora do
campo do alcance do cristianismo a possibilidade da suspensão da escravidão.
Não se propõe a libertação jurídica dos escravos, mas
prega-se que, tanto o senhor, como sobre o escravo existe o mesmo Deus que de
ambos é igualmente Pai. Mas ao tentarem libertar o escravo se questionam: se
todos forem libertos, quem havia de trabalhar?
Muitos factos mostram que a ética cristã não permaneceu
indiferente ao problema da escravidão e foi capaz de propor abrandamento na
forma de tratar os cativos e modos diversos de liberta-los. Contudo, não foi
capaz de olhar para além dos horizontes da sua época e propôr a supressão do
estatuto da escravidão.
CONFERENCIA Nr 3. ÉTICA E TRABALHO ESCRAVO EM HOBBES E LOCKE (Thomas Kesserling)[3]
Kesserling apresenta aqui algumas premissas do pensamento
político e moral do liberalismo inglês do século XVII e compara essas premissas
com aquelas da Filosofia grega em 1º lugar de Aristóteles em 2º lugar de Platão.
E questiona radicalmente as noções de liberdade, justiça, direito e poder,
vontade e servidão. Para Kesserling a questão principal da filosofia moderna
não é da justiça, como o era para os gregos, mas sim da legitimidade do poder
político. Ou seja para os modernos, o Estado não é coisa natural por isso tem
de ser legitimado.
Segundo a proposta de Hobbes, o estado mantém a paz civil
e a legitimação da liberdade é o preço que dever ser pago para este fim. A
preocupação de Hobbes é a da elaboração das condições da paz social e a
preocupação de Locke é a questão da liberdade. A ideia da justiça torna-se
secundária, porém não perde importância. Entretanto a questão do justo e
injusto para Hobbes depende da solução do problema de como manter a paz social
e Locke subordina a questão da justiça à da liberdade.
Para Kesserling os enunciados dos filósofos gregos sobre
a natureza social do homem são bem mais optimistas do que os dos filósofos
modernos. Em Platão e Aristóteles, o homem é um animal e, ao menos parcialmente,
altruísta. Segundo Hobbes e Locke ao contrário, o homem é um animal egoísta e
pouco sociável. Por outro lado, segundo os filósofos ingleses, o homem é um ser
aperfeiçoáveil que se desenvolve.
Na mesma esteira de Kesserling, na história da filosofia
moral existem três opiniões a respeito da escravidão:
a) A
escravidão é algo natural: os homens que são escravos, o são por natureza. Por
isso, a escravidão não pode ser denunciada como injusta.
b) A
escravidão é uma relação implicitamente violenta ou bélica. Na relação com seus
donos os escravos vivem na condição de guerra e instabilidade.
c) A
escravidão nem é relação natural nem relação violenta, mas justa sob
perspectiva jurídica.
A filosofia aristotélica corresponde a primeira
interpretação enquanto, Hobbes e Locke vacilam entre a segunda e a terceira.
Hobbes fica mais perto da segunda interpretação e Locke mais perto da terceira.
Segundo esses pensadores ingleses a escravidão não é
natural e não pode sê-lo pois Hobbes e Locke postulam que os homens são por
natureza livres e iguais. Consequente os filósofos ingleses tendem a criticar a
escravidão, mas por outro eles não conseguem esboçar um modelo de uma sociedade
sem introduzir nela a servidão.
Hobbes e Locke, concordam no facto de que a escravidão surge
num estado de guerra: quem vence torna-se dono e quem sucumbe tem que
contentar-se com o papel de escravo.
O vencido pode ser morto pelo vencedor, ou ao invés de
ser morto entregar ao vencedor toda a sua posse, inclusive sua liberdade
corporal. Ele tem que trabalhar para o vencedor e sua família, fica na mesma
situação.
Em princípio o dono sempre pode matar os escravos, como
vencedor mata o vencido. Hobbes e Locke além disso não diferem entre si,
dizendo que a relação entre dono e escravo é uma relação fora da legitimidade.
Hobbes porém assume que o dono e escravo podem fazer um pacto garantido que
ambos desistam de matar um ao outro. O pacto pressupõe a confiança, a
regularização da relação entre ambos. Na base de um contrato esta relação se
chama servidão. Aceitando o contrato, o escravo ganha a garantia de ficar vivo,
mas paga o preço de trabalho para a pessoa que lhe da esta garantia. Não só
ganha mas também muda de categoria de escravo para servo, pois livremente
aceita um acordo!
Por isso a questão da legitimação do estado não é uma
questão moral, mas uma questão técnica. E a causa do contrato é o medo de um
conquistador que pelo contrato, vai ser aceito como soberano. Os homens
preferem fazer um contrato com seus semelhantes em vez de preservar nos riscos
intermináveis da condição natural. Pois não existe direito onde não existem
contrato e quem faz um contrato fá-lo voluntariamente.
Para Locke os homens são livres e iguais, cada homem além
disso possui seu próprio corpo e uma certa quantidade de bens materiais. Esta
quantidade de um lado depende do que é necessário para um sobreviver (comida,
bebida, propriedades etc) por outro lado cada homem é proprietário das coisas
que ele ganha pelo trabalho.
Para Locke, os homens nascem livres, mas ninguém se torna
servo ou trabalhador sem contrato, sem decisão livre.
Hobbes e Locke criticam a escravidão como sendo fora da
legalidade de um estado cívil. Dentro de um estado, a escravidão é impossível.
Por outro lado, ambos autores criticam a servidão como sendo relação imoral.
Para Hobbes ao contrário, a servidão é relação central da vida política. Locke
por seu lado, a sua filosofia económica sobre o dinheiro e arrendamento lhe
permite defender a servidão. Em última analise para ambos a diferença entre
escravidão e servidão não é bastante clara, a passagem da escravidão para
serventia livre por causa do contrato é bastante gelatinosa. Teoricamente a
escravidão não pode existe dentro dos estados, mas a servidão pode ser
legitimada. A servidão não é moralmente má embora seus efeitos possam ser
bem-parecidos aos da escravidão.
CONFERÊNCIA Nr 4. ÉTICA E TRABALHO EM MARX (Luiz Pilla Varres) [4]
Luiz Pilla Varres em sua acurada e emocionante pesquisa,
demonstra que a única ética possível é a ética historicizida de Marx. Antes de
meros conceitos abstractos, os valores emergem da acção da história. Discutindo
as noções centrais do pensamento marxiano como alienação, praxis, actividade
revolucionária, consciência autoconsciência etc. a humanidade socialista é o
meio viável de realização da Ética concreta e libertadora.
Varres aponta que é possível superar a barbárie da
opressão esclavagista e marchar para um
mundo melhor, mais justo onde as relações entre os homens sejam marcadas pelas
transparências e pela liberdade.
Para Varres a polémica contemporânea, a discussão
filosófica de nosso tempo é com Marx, seja para nega-lo, seja para afirma-lo.
Porque encontro com o marxismo é imediato e inevitável para quem se preocupa
com a questão da sociedade, o marxismo domina o horizonte filosófico do nosso
tempo.
A teoria de Marx, nasce da crise da metafísica e do
conturbado mundo material do Capitalismo do século XIX, a busca de Marx e do
marxismo é tornar a realidade, o mundo material transparente e descortinar o
véu ideológico que encobre as relações de dominação as relações de produção.
O que caracteriza Marx é a sua oposição ao sistema
hegeliano (cume da filosofia clássica).
Em Marx se acordo com Varres, como pensamento aberto, não
vamos encontrar no materialismo histórico de Marx uma ética fixa e imutável.
Marx historiciza a ética e a compreende também como um processo, como conquista
progressiva. Não há para ele uma moral, mas a exigência da uma nova ética que
se da precisamente pela libertação do homem tornado consciente de si mesmo como
ser social como processo de libertação do trabalho.
Marx busca a ética do ‘homem humano’. Para Marx único pensador que esta profundamente
ligado a Ética e Trabalho, não pode haver uma verdadeira ética enquanto o homem
concreto, o homem real estiver alienado em sua própria essência que é o
trabalho.
A ética marxista vai surgir da posição revolucionária do
materialismo histórico diante da sociedade. E este revolucionário é a classe
operária industrial. Ao libertar-se da escravidão assalariada, o proletariado
industrial liberta a humanidade inteira.
No pensamento de Marx, a ética é inseparável da
actividade prática do sujeito revolucionário, em sua actividade de
negação/destruição de uma determinada relação de produção alienada, para
afirmar positivamente o humano. A ética surge da luta de libertação, afirmação,
de conquista do humano. É possível separar a ética e trabalho em Marx, mas
muito menos da praxis revolucionária que estabelece concretamente o humanismo
marxismo e este é o homem reconhecendo-se em sua própria produção.
Portanto, observa-se que a moral de Marx tem como base as
relações materiais entre os homens e só pode efectivamente tornar-se real a
medida em que estas relações, libertas do véu ideológico que as encobre,
adquirem transparência e as relações de produção surgem diante dos produtores
como efectivamente são: relações sociais entre homens e não relações entre
mercadoria, relações entre coisas. Logo a ética é em primeiro lugar uma ética
de libertação do trabalho assalariado e, em segundo lugar uma ética que se
realiza enquanto critica teórica e pratica da moral vigente, fruto da ideologia
dominante ou, mais precisamente, relações que se traduzem na exploração do
trabalho assalariado.
Assim as relações humanas são mediadas pelo trabalho. No
modo de produção capitalista, estas relações se realizam através da venda da
força de trabalho, que se torna desta maneira mercadoria, mas uma mercadoria
especial.
Portanto se há uma ética em Marx ela surge da própria
vida real: é consequência da conscientização do trabalho alienado. Surge da
vida mesma, não pré-existe. Aqui a existência precede a essência.
Nas relações de produção do modo de produção capitalista,
a alienação é real, o produtor torna-se estranho ao seu próprio produto e acaba
dominado por ele. A relação alienada, portanto, não é apenas uma relação entre
explorador e o explorado, entre senhor e o servo, mas igualmente uma relação
entre o explorado e explorador entre o senhor e o escravo, mas igualmente uma
relação entre o homem e o seu trabalho que tem como resultado um homem
desumanizado. A recuperação dessa humanidade para o homem só pode se dar
através da prática, da praxis, que é
a critica activa das relações sociais existentes.
O capitalismos moderno não trouxe a libertação, muito
pelo contrário, acorrentou com muito mais força o homem, e o trabalho está
longe de proporcionar humanização (…)
estamos cada vez mais dominados. E o marxismo abre essa possibilidade de
demonstrar que é o homem que se cria a ele próprio e que é ele, quem decide o
seu futuro.
Para enfrentar essa barbárie Marx citado por Varres,
escreve: “considerando-se que o proletariado, chegando a seus extremo de
desonra, é desprovido de toda a sua humanidade, inclusive da própria aparência
de humanidade; que nas condições de existência do proletariado, encontram-se
condensado ao último grau do inumano, todas as condições de existência da sociedade
actual; que ao perder-se ele próprio o homem proletário adquiriu não apenas a
consciência teórica desta perda, mas lhe é inelutavelmente levado a se revoltar
contra esta inumanidade: por todas as razões o proletariado pode e deve se
superar a ele próprio. Mas ele não pode superar-se a si mesmo, sem abolir as
suas próprias condições de existência, sem abolir todas as condições de
existência desumana da sociedade actual, na qual ele encarna a situação
desumana. Não é por acaso que ele passa pela rude escola do trabalho que o
fortalece”.[5]
Lendo Marx apresentado por Varres, o sangue nos corre nas
veias é inevitável não se indignar, faz-nos entender que era um homem
comprometido, indgnado e protestador que propõe uma ética revolucionária uma
ética da mudança.
CONFERÊNCIA Nr 5. ÉTICA ESTÓICA (Vitorino Felix Sanson) [6]
Vitorino Sanson faz
um exame detalhado da Ética Estóica, faz-nos ver de perto o estoicismo,
tentando sempre não perder de vista qual e o ideal estóico de uma vida feliz.
Contacta que o fundador do estoicismo Zenão de Cicio
reduziu toda a Filosofia a Ética. E toda a Filosofia Estóica gira em torno da
sua afirmação que o sumo bem consiste em viver conforme a natureza, ela mesma
nos conduz a virtude, esse é o dogma principal de Zenão de Cicio e de todo o
estoicismo. Diante desse dogma o estóico deve debruçar-se atento sobre a
natureza e para o homem conformar a sua vida as exigências da natureza.
A ética estóica é uma ética objectiva, ôntica. O estóico
não pauta sua vida por leis positivas, por preceitos de autoridade, para
elucidar esse preceito, Vitorino Sanson dão
exemplo de Sócrates que recusa-se a deixar a prisão porque a lei mesmo injusta,
o ordena que ele deva morrer, as leis do Estado são convenções e o estóico não
se guia por convenções.
Os fundadores do estoicismo não são gregos. São os
fenícios são os semitas, são os cananeus, são realistas, concretistas,
objectivos. Para o estóico a palavra não é convenção não é símbolo. A palavra é. A palavra produz, faz, como a sabedoria
bíblica ou a sabedoria fenícia, ou como o logos
de são João. O Logos se fez carne
(Jo. 1.1)
O núcleo central do raciocínio ético do estoicismo é
este: “Sou homem, parte da Physis
membro deste grande organismo que é a natureza. Se eu quero ser sábio isto é
bom, honesto, ético, devo saber qual a posição que ocupo no mundo, devo saber
qual meu télos-fim específico dentro
do Todo. Devo saber qual é a função que me exigida dentro do grande corpo, devo
saber qual é o meu oficio, devo saber qual é o papel que devo desempenhar nesta
grande obra que é o kósmos. Eu,
homem, participe do logos, que missão
terei a cumprir na sociedade humana?”
Dai que o sábio esta sempre atento, consultando a
natureza do todo, da humanidade, de si mesmo para dissecar todo o mecanismo das
tendências dos afectos, dos vícios, das virtudes, das próprias capacidades, não
por curiosidade meramente cientifica, não pelo prazer de especulação, mas para
orientar a sua conduta para acomodar-se, mas para orientar a sua conduta para
amoldar-se e acomodar-se a natureza para viver conforme a natureza, que é
alcançar a eudaimonia a felicidade,
para cumprir a sua missão ética. Dai que Marco Aurélio afirma: “quem não sabe o
que é o mundo, não sabe onde esta, quem não sabe porque nasceu, não sabe o que
é, nem o que o mundo é. Quem negligencia uma dessas noções não poderia sequer
dizer que existe”.
Tudo nos leva a crer que a placa giratória da crença
estóica é: viver conforme a natureza,
e estudando a natureza universal saberei viver conforme
ela.
Para entender a ética estóica é preciso entender a Física
estóica, para eles a Física abarca toda realidade: Astros, Terra, Minerais,
Vegetais, Animais, Homem, Deus, Física, Astronomia, Geologia, Botânica,
Zoologia, Metafísica, Antropologia e Teologia.
As teses fundamentais da ética estóica de acordo com o
exposto podem nos ajudar a concluir que:
O homem deve viver conforme a natureza; Deve estudar a
natureza para saber conformar-se a ela; Este estudo lhe faz compreender que a
natureza e sabiamente ordenada e que cada coisa tem uma função a cumprir; e que
o homem é natureza. Pertence a natureza. Faz parte da natureza. Participa da
natureza-corpo e da natureza-alma. É membro de um grande corpo, mas membro
privilegiado porque possui o logos,
como Deus. Deus, que é alma do mundo e a alma do homem foi arrancada dali:
acesa pela alma dos pais.
Então se o homem é racional, logo deve viver
racionalmente, para viver conforme a natureza. Deve viver conforme a sua
natureza.
Portanto a ética estóica ensina que virtude é viver
conforme a natureza; e a apropriação dos verdadeiros valores; ética é a própria
filosofia que é o caminho para
sabedoria. Ser sábio é ser virtuoso; ser virtuoso é ser feliz por isso o
estóico não pode perder de vista o principio fundamental pois é observando a
natureza que ele descobre a próte hòrmé
(o instinto fundamental).
CONCLUSÃO
Após essa leitura sintética do texto Ética e Trabalho
organizado por Luiz Carlos Bombasso, podermos dizer em termos de remates finais
que o texto na sua integra constitui um corpo muito bem interligado e não foge
ao propósito principal de reflectir em torno da temática o trabalho e a
escravidão sob o belo título Ética e Trabalho.
Cada conferencista ao seu modo foi escavando as entranhas
do pensamento filosófico e propondo novos caminhos e leituras, até aqui por nos
desconhecidas, porém, nos mostraram quem uma outra leitura e uma outra
interpretação é possível nos textos clássicos da filosofia, vemos o caso de
Cirne Lima que propõe uma terceira via na interpretação da parábola do senhor e
escravo, afinal só amor (filia) vence
a relação e o instinto de dominação entre os humanos
Já o professor De Boni na segunda conferência, defende
que a o cristianismo, não consegui operar mudanças num contexto de exploração
esclavagista, e apenas com o direito romano houve um breve mudança conceitual
da noção de propriedade onde o domínio das coisas passa também a ser o domínio
sobre as pessoas que nelas estão. Na basta dominar a terra é preciso dominar
também os homens que nelas estão.
Na terceira conferência apresentada por Kesserling ao
analisar os pensamentos de Hobbes e
Locke comparando com os de Platão e Aristóteles, a terceira via apontada já que
a dominação do senhor e inevitável Hobbes e Locke propõe um contrato livre na base de confiança, e só o contrato
pode nos fazer sair da escravidão para a servidão. E a servidão é uma opção, e
é livre, é essa liberdade defendida pelos Modernos. Porém, Kesserling aponta
que o problema na mesma permanece, a dominação e Cirne Lina diz o mesmo na
primeira conferência o senhor é um dilema nas relações sociais!
No quarto estudo, ética e trabalho em Marx, Varres,
constata que mesmo o contrato embora livre o dilema do senhor e escravo
permanece e é forte e propõe com base em Marx uma marcha para um mundo melhor,
mais justo onde as relações entre os homens sejam marcadas pela transparência e
pela liberdade. A solução não passa pelo contrato livre como propõe Locke e
Hobbes mas pelo contrato justo, transparente, onde o operário sente-se reconhecido
e reconhece-se no seu trabalho, caso contrario ele só pode se emancipar. Se não
nos enganamos no nosso julgamento pensamos que esta é a conferência principal.
Por fim quase de forma suave e encontramos os estudos de
Sanson sobre a Ética Estóica como se fosse o fecho de todo o colar, exaltando a
dignidade humana fazendo-nos perceber que no centros de todos esses debates de
todo o construto humano esta o Homem, parte da Natureza e da mesma natureza com
todos os homens partilhando o destino comum, entre todos não havendo senhores
nem escravo, cabendo a este homem perscrutar a natureza que é ele mesmo. Esta
conferência é uma espécie de pedido socrático: homem conhaça-te a ti mesmo.
Portanto na óptica do Ensaio é assim que a filosofia
tratou deste e outros problemas da nossa história, ela não permaneceu
indiferente ao problemas, de época em época foi dando resposta seja a nível
teórico seja a nível prático.
BIBLIOGRAFIA
BOMBASSARO, Luiz Carlos (Org.), Ética e Trabalho: Cinco
Estudo, Ed. De Zorzi S/A, PyR, Caxias do Sul, 1989.
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