A formaçao do homem

"O que um homem pode ser, ele tem de ser" A. MASLOW



quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Pensamentos



As vezes temos que chegar perto, ver mais de perto, sentir, estar-ali, ser-ai, com as pessoas ver o problema mais de perto!... (E. Fuchs)

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ética e Trabalho no Imaginario Filosofico



ÍNDICE

 

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um breve resumo sintético do ensaio Ética e Trabalho: cinco estudos, de vários autores, organizado e realizado em 1988 na Universidade Caxias do Sul, tudo nos indica que estamos perante ciclo constituído por uma serie de conferências reunidas. Que procuram discutir sob diferentes pontos de vista a questão do trabalho e a escravidão, sobretudo busca reflectir como é que a Filosofia deu conta  deste problema.
Este é um Ensaio que apesar de ser claro, conciso e logicamente concatenado, nem sempre prima pelo fulgor literário, e, por vezes, mostra-se demasiado redundante em algumas conferências. Porém como resumo sintético, impusemo-nos, a fidelidade total à expressão e ao conteúdo do pensamento dos autores, espero não ferir a lógica interna do ensaio e espero também, que este esforço seja bem aceite.
Para a realização deste trabalho, o método foi resumo sintético e por vezes em breves escapadelas uma análise, fomos ao encontro do texto mesmo, como se tivéssemos presentes nas conferências, aliás a clareza textual do ensaio é apaixonante, fomos ouvindo os conferencistas de lição em lição.
Enfim este trabalho vai seguir o seguinte percurso: em ordem lógica vamos apresentando em resumos de 2 páginas as sínteses de cada conferência.

 

 

CONFERÊNCIA Nr 01. A DIALÉCTICA DO SENHOR E DO ESCRAVO E A IDEIA DA REVOLUÇÃO (Carlos Roberto Cirne Lima)[1]


Para Cirne Lima, a dois tipos básicos de interpretação da dialéctica do senhor e do escravo na Fenomenologia do Espírito de Hegel.
O primeiro entende a dinâmica das relações entre o senhor e escravo como algo necessário. Isto é, que a luta de classe e a revolução com todas suas consequências de extrema violência é um momento necessário no desenvolvimento histórico do tecido social rumo razão.
O segundo tipo de interpretação distingue, na figura do senhor e do escravo um momento logicamente necessário. Isto é, que é inevitável e indispensável bem como meramente histórico e contingente (não necessário).
Cirne Lima conduz sua reflexão tentado responder as seguintes questões:
·         A luta de classe, a dominação abusiva do senhor, o medo mortal e a sujeição do escravo são momentos necessários inevitáveis e indispensáveis no curso da evolução da consciência para a autoconsciência?
·         Sem a luta, sem dominação e a escravidão não há como ir adiante e surgir a autoconsciência?
·         Será a revolução necessária como um momento lógico, sem o qual o social não pode surgir e instaurar-se?
·         Porque a situação do senhor e escravo (de dominação) perdura?
Para ele, Hegel pode ser lido como um pensador da liberdade e da contingência. E a luta de vida e morte da parábola do senhor e escravo é algo contingente e histórico. E a consciência ao examinar e experimentar a sua certeza e verdade examina-se a si mesmo.
A luta entre o senhor e o escravo deve ser de vida e não de morte, mas não pode, de maneira nenhuma acabar com a morte. A luta de vida e morte em sua radicalidade é luta só de vida. Estas são as primeiras respostas a suas questões.
Opondo-se a Hegel, Cirne Lima afirma que, o contexto especulativo exige esta leitura e não permite outras alternativas. Mas também a morte não pode acontecer. Não podermos nos deixar impressionar meramente pela dinâmica e pela lógica interna da parábola nesse sentido a parábola é muito fraca.
O problema da dominação é até hoje uma das formas mais frequentes em nossa sociedade, e por isso mesmo importantes no processo de socialização e de reconhecimento. Se Hegel não tivesse inventado aquela parábola, em algum lugar alguém o faria.
Na dialéctica do senhor e do escravo em sua pureza lógica, o senhor é um problema insolúvel, e como tal põe em questão todo o processo. A solução especulativa, seja através do trabalho, seja através da linguagem passa pela utilização da dialéctica da “filia”, do amor universal concreto e operoso que une os homens e o mundo, restabelecendo a simetria de relações e assim a harmonia dialéctica que permite falar da razão.
Só assim a luta de vida e morte fica posta como momento contingente e histórico da dialéctica do reconhecimento. A dialéctica do senhor e escravo é apenas uma figura da consciência não do mundo efectivo, que é o histórico.
A revolução é algo que quer queiramos quer não, ela vai acontecer pois ela é o momento lógico e necessário da passagem da consciência para a autoconsciência. Ela pode acontecer também como pode não acontecer.
A luta de vida e morte, bem como a dominação são um momento contingente da figuração. Portanto não se pode confundir o necessário e o contingente como se fossem ambos a mesma coisa, e é falsa a ideia de que a revolução e somente a revolução violenta e sanguinária resolve a dialéctica do senhor e do escravo. Para Cirne Lima, comparando Hegel e Marx afirma: Hegel não é Marx em certas circunstâncias a revolução pode ser pacífica. 
Desta distinção Cirne Lima tira conclusões pessoais optando por interpretar Hegel e sua filosofia como um sistema aberto, onde a escravidão passa a ser contingente e não necessário ou por outras palavras, Cirne Lima propõe um caminho de libertação na dialéctica dos senhor e escravo que pode ter um final feliz e não de submissão mas do reconhecimento.

 

CONFERÊNCIA Nr 2. ÉTICA E ESCRAVIDÃO NA IDADE MEDIA (Luís Alberto de Boni)[2]


O texto versa sobre a mudança de noção de propriedade e a influência do cristianismo no desenvolvimento da escravidão.
De Boni conduz a reflexão partindo de duas constatações históricas, que depois as põem em relação analisando a conexão entre a escravidão e a ética do cristianismo.
A 1ª constatação é: a mudança de noção da propriedade ocorrida durante a passagem do Império Romano para o mundo pós-romano constitui o pano de fundo do problema da escravidão no mundo medieval.
A 2ª que também recebe o nome de paradoxo: a doutrina cristã não conseguiu levar a supressão da escravidão pelo contrário catapultou essas práticas ao longo dos séculos.
A análise do De Boni culmina na apresentação do pensamento de alguns filósofos medievais especialmente Tomas de Aquino e Duns Scotus dando mais valência ao último pela enginhosidade do pensamento e consistência nas suas teses para a abolição do mesmo.
De Boni monstra que uma determinada leitura de Duns Scotus aponta a possibilidade encontrar os prenúncios do sistema capitalista de produção já no século XIV.
Um dos motivos pelo qual a escola romana parece ser monolítica foi a noção de propriedade do direito privado romano. Tratava-se de uma noção simples e individualista. Para esse contexto ser proprietário significava ter o direito de uso, de colher os furtos e acima de tudo, de dispor livremente de objectos, não havendo a possibilidade de mais de um indivíduo ser proprietário de um único bem. Só um pode ser o proprietário, e o objecto possuído por um não pode ser possuído por outro. Eventualmente tem-se direito na propriedade de outrem, mas não direito de propriedade sobre aquilo que já pertence ao outro.
No mundo pós-romano que se instaurou no feudalismo que se foi estabelecendo em diversas regiões, a excepção de outrora torna-se regra. O proprietário tem uma fraca revelação com a propriedade, cabendo ao vassalo o uso da terra e o aproveitamento de seus frutos, enquanto o senhor é compensado por impostos de natureza diversa.
Quase não existia a venda de terras, mas facilmente passava-se para a sub-feudação, acabando por haver uma série de senhores sobre aquele que cultivava a terra. Todos eram proprietários excepto o trabalhador, pois um escravo do primeiro proprietário era uma pessoa com alguns direitos diferentes do escravo dos tempos romanos. Mas estava preso a terra, dela não podendo afastar-se.
A descoberta do direito romano, não conseguiu impor novamente o conceito do senhorio único sobre a propriedade.
O domínio sobre as coisas mistura-se com o domínio sobre as pessoas em uma sociedade onde o poder central quase esvaí-se e onde o senhor passou a exercer ofícios públicos. O contrato sobre as terras tornou-se contrato entre as pessoas. De um lado a protecção, de outro lado a lealdade. Sobre o alicerce do direito romano, dos costumes germânicos das tradições patrísticas e do pensamento aristotélicos os filósofos e teólogos medievais acabaram defendendo a noção de propriedade particular e uso comum.

2.1 A influência do cristianismo
Não existiu no pensamento cristão uma evolução, uma conversão, uma praxis que acabou por levar no decorrer do tempo a supressão da escravidão, em suas formas mais violentas após a descoberta do novo mundo.
A pregação da igualdade para um reino futuro serviu sem dúvidas para perpetuar as injustiças no tempo presente. Encontrava-se fora do campo do alcance do cristianismo a possibilidade da suspensão da escravidão.
Não se propõe a libertação jurídica dos escravos, mas prega-se que, tanto o senhor, como sobre o escravo existe o mesmo Deus que de ambos é igualmente Pai. Mas ao tentarem libertar o escravo se questionam: se todos forem libertos, quem havia de trabalhar?
Muitos factos mostram que a ética cristã não permaneceu indiferente ao problema da escravidão e foi capaz de propor abrandamento na forma de tratar os cativos e modos diversos de liberta-los. Contudo, não foi capaz de olhar para além dos horizontes da sua época e propôr a supressão do estatuto da escravidão.


CONFERENCIA Nr 3. ÉTICA E TRABALHO ESCRAVO EM HOBBES E LOCKE (Thomas Kesserling)[3]

 

Kesserling apresenta aqui algumas premissas do pensamento político e moral do liberalismo inglês do século XVII e compara essas premissas com aquelas da Filosofia grega em 1º lugar de Aristóteles em 2º lugar de Platão. E questiona radicalmente as noções de liberdade, justiça, direito e poder, vontade e servidão. Para Kesserling a questão principal da filosofia moderna não é da justiça, como o era para os gregos, mas sim da legitimidade do poder político. Ou seja para os modernos, o Estado não é coisa natural por isso tem de ser legitimado.
Segundo a proposta de Hobbes, o estado mantém a paz civil e a legitimação da liberdade é o preço que dever ser pago para este fim. A preocupação de Hobbes é a da elaboração das condições da paz social e a preocupação de Locke é a questão da liberdade. A ideia da justiça torna-se secundária, porém não perde importância. Entretanto a questão do justo e injusto para Hobbes depende da solução do problema de como manter a paz social e Locke subordina a questão da justiça à da liberdade.
Para Kesserling os enunciados dos filósofos gregos sobre a natureza social do homem são bem mais optimistas do que os dos filósofos modernos. Em Platão e Aristóteles, o homem é um animal e, ao menos parcialmente, altruísta. Segundo Hobbes e Locke ao contrário, o homem é um animal egoísta e pouco sociável. Por outro lado, segundo os filósofos ingleses, o homem é um ser aperfeiçoáveil que se desenvolve.
Na mesma esteira de Kesserling, na história da filosofia moral existem três opiniões a respeito da escravidão:
a)       A escravidão é algo natural: os homens que são escravos, o são por natureza. Por isso, a escravidão não pode ser denunciada como injusta.
b)       A escravidão é uma relação implicitamente violenta ou bélica. Na relação com seus donos os escravos vivem na condição de guerra e instabilidade.
c)       A escravidão nem é relação natural nem relação violenta, mas justa sob perspectiva jurídica.
A filosofia aristotélica corresponde a primeira interpretação enquanto, Hobbes e Locke vacilam entre a segunda e a terceira. Hobbes fica mais perto da segunda interpretação e Locke mais perto da terceira.
Segundo esses pensadores ingleses a escravidão não é natural e não pode sê-lo pois Hobbes e Locke postulam que os homens são por natureza livres e iguais. Consequente os filósofos ingleses tendem a criticar a escravidão, mas por outro eles não conseguem esboçar um modelo de uma sociedade sem introduzir nela a servidão.
Hobbes e Locke, concordam no facto de que a escravidão surge num estado de guerra: quem vence torna-se dono e quem sucumbe tem que contentar-se com o papel de escravo.
O vencido pode ser morto pelo vencedor, ou ao invés de ser morto entregar ao vencedor toda a sua posse, inclusive sua liberdade corporal. Ele tem que trabalhar para o vencedor e sua família, fica na mesma situação.
Em princípio o dono sempre pode matar os escravos, como vencedor mata o vencido. Hobbes e Locke além disso não diferem entre si, dizendo que a relação entre dono e escravo é uma relação fora da legitimidade. Hobbes porém assume que o dono e escravo podem fazer um pacto garantido que ambos desistam de matar um ao outro. O pacto pressupõe a confiança, a regularização da relação entre ambos. Na base de um contrato esta relação se chama servidão. Aceitando o contrato, o escravo ganha a garantia de ficar vivo, mas paga o preço de trabalho para a pessoa que lhe da esta garantia. Não só ganha mas também muda de categoria de escravo para servo, pois livremente aceita um acordo!
Por isso a questão da legitimação do estado não é uma questão moral, mas uma questão técnica. E a causa do contrato é o medo de um conquistador que pelo contrato, vai ser aceito como soberano. Os homens preferem fazer um contrato com seus semelhantes em vez de preservar nos riscos intermináveis da condição natural. Pois não existe direito onde não existem contrato e quem faz um contrato fá-lo voluntariamente.
Para Locke os homens são livres e iguais, cada homem além disso possui seu próprio corpo e uma certa quantidade de bens materiais. Esta quantidade de um lado depende do que é necessário para um sobreviver (comida, bebida, propriedades etc) por outro lado cada homem é proprietário das coisas que ele ganha pelo trabalho.
Para Locke, os homens nascem livres, mas ninguém se torna servo ou trabalhador sem contrato, sem decisão livre.
Hobbes e Locke criticam a escravidão como sendo fora da legalidade de um estado cívil. Dentro de um estado, a escravidão é impossível. Por outro lado, ambos autores criticam a servidão como sendo relação imoral. Para Hobbes ao contrário, a servidão é relação central da vida política. Locke por seu lado, a sua filosofia económica sobre o dinheiro e arrendamento lhe permite defender a servidão. Em última analise para ambos a diferença entre escravidão e servidão não é bastante clara, a passagem da escravidão para serventia livre por causa do contrato é bastante gelatinosa. Teoricamente a escravidão não pode existe dentro dos estados, mas a servidão pode ser legitimada. A servidão não é moralmente má embora seus efeitos possam ser bem-parecidos aos da escravidão.



CONFERÊNCIA Nr 4. ÉTICA E TRABALHO EM MARX (Luiz Pilla Varres) [4]


Luiz Pilla Varres em sua acurada e emocionante pesquisa, demonstra que a única ética possível é a ética historicizida de Marx. Antes de meros conceitos abstractos, os valores emergem da acção da história. Discutindo as noções centrais do pensamento marxiano como alienação, praxis, actividade revolucionária, consciência autoconsciência etc. a humanidade socialista é o meio viável de realização da Ética concreta e libertadora.
Varres aponta que é possível superar a barbárie da opressão esclavagista e marchar para  um mundo melhor, mais justo onde as relações entre os homens sejam marcadas pelas transparências e pela liberdade.
Para Varres a polémica contemporânea, a discussão filosófica de nosso tempo é com Marx, seja para nega-lo, seja para afirma-lo. Porque encontro com o marxismo é imediato e inevitável para quem se preocupa com a questão da sociedade, o marxismo domina o horizonte filosófico do nosso tempo.
A teoria de Marx, nasce da crise da metafísica e do conturbado mundo material do Capitalismo do século XIX, a busca de Marx e do marxismo é tornar a realidade, o mundo material transparente e descortinar o véu ideológico que encobre as relações de dominação as relações de produção.
O que caracteriza Marx é a sua oposição ao sistema hegeliano (cume da filosofia clássica).
Em Marx se acordo com Varres, como pensamento aberto, não vamos encontrar no materialismo histórico de Marx uma ética fixa e imutável. Marx historiciza a ética e a compreende também como um processo, como conquista progressiva. Não há para ele uma moral, mas a exigência da uma nova ética que se da precisamente pela libertação do homem tornado consciente de si mesmo como ser social como processo de libertação do trabalho.
Marx busca a ética do ‘homem humano’. Para Marx único pensador que esta profundamente ligado a Ética e Trabalho, não pode haver uma verdadeira ética enquanto o homem concreto, o homem real estiver alienado em sua própria essência que é o trabalho.
A ética marxista vai surgir da posição revolucionária do materialismo histórico diante da sociedade. E este revolucionário é a classe operária industrial. Ao libertar-se da escravidão assalariada, o proletariado industrial liberta a humanidade inteira.
No pensamento de Marx, a ética é inseparável da actividade prática do sujeito revolucionário, em sua actividade de negação/destruição de uma determinada relação de produção alienada, para afirmar positivamente o humano. A ética surge da luta de libertação, afirmação, de conquista do humano. É possível separar a ética e trabalho em Marx, mas muito menos da praxis revolucionária que estabelece concretamente o humanismo marxismo e este é o homem reconhecendo-se em sua própria produção.
Portanto, observa-se que a moral de Marx tem como base as relações materiais entre os homens e só pode efectivamente tornar-se real a medida em que estas relações, libertas do véu ideológico que as encobre, adquirem transparência e as relações de produção surgem diante dos produtores como efectivamente são: relações sociais entre homens e não relações entre mercadoria, relações entre coisas. Logo a ética é em primeiro lugar uma ética de libertação do trabalho assalariado e, em segundo lugar uma ética que se realiza enquanto critica teórica e pratica da moral vigente, fruto da ideologia dominante ou, mais precisamente, relações que se traduzem na exploração do trabalho assalariado.
Assim as relações humanas são mediadas pelo trabalho. No modo de produção capitalista, estas relações se realizam através da venda da força de trabalho, que se torna desta maneira mercadoria, mas uma mercadoria especial.
Portanto se há uma ética em Marx ela surge da própria vida real: é consequência da conscientização do trabalho alienado. Surge da vida mesma, não pré-existe. Aqui a existência precede a essência.
Nas relações de produção do modo de produção capitalista, a alienação é real, o produtor torna-se estranho ao seu próprio produto e acaba dominado por ele. A relação alienada, portanto, não é apenas uma relação entre explorador e o explorado, entre senhor e o servo, mas igualmente uma relação entre o explorado e explorador entre o senhor e o escravo, mas igualmente uma relação entre o homem e o seu trabalho que tem como resultado um homem desumanizado. A recuperação dessa humanidade para o homem só pode se dar através da prática, da praxis, que é a critica activa das relações sociais existentes.
O capitalismos moderno não trouxe a libertação, muito pelo contrário, acorrentou com muito mais força o homem, e o trabalho está longe de proporcionar humanização (…)  estamos cada vez mais dominados. E o marxismo abre essa possibilidade de demonstrar que é o homem que se cria a ele próprio e que é ele, quem decide o seu futuro.
Para enfrentar essa barbárie Marx citado por Varres, escreve: “considerando-se que o proletariado, chegando a seus extremo de desonra, é desprovido de toda a sua humanidade, inclusive da própria aparência de humanidade; que nas condições de existência do proletariado, encontram-se condensado ao último grau do inumano, todas as condições de existência da sociedade actual; que ao perder-se ele próprio o homem proletário adquiriu não apenas a consciência teórica desta perda, mas lhe é inelutavelmente levado a se revoltar contra esta inumanidade: por todas as razões o proletariado pode e deve se superar a ele próprio. Mas ele não pode superar-se a si mesmo, sem abolir as suas próprias condições de existência, sem abolir todas as condições de existência desumana da sociedade actual, na qual ele encarna a situação desumana. Não é por acaso que ele passa pela rude escola do trabalho que o fortalece”.[5]
Lendo Marx apresentado por Varres, o sangue nos corre nas veias é inevitável não se indignar, faz-nos entender que era um homem comprometido, indgnado e protestador que propõe uma ética revolucionária uma ética da mudança.

 

CONFERÊNCIA Nr 5. ÉTICA ESTÓICA (Vitorino Felix Sanson) [6]


Vitorino Sanson faz um exame detalhado da Ética Estóica, faz-nos ver de perto o estoicismo, tentando sempre não perder de vista qual e o ideal estóico de uma vida feliz.
Contacta que o fundador do estoicismo Zenão de Cicio reduziu toda a Filosofia a Ética. E toda a Filosofia Estóica gira em torno da sua afirmação que o sumo bem consiste em viver conforme a natureza, ela mesma nos conduz a virtude, esse é o dogma principal de Zenão de Cicio e de todo o estoicismo. Diante desse dogma o estóico deve debruçar-se atento sobre a natureza e para o homem conformar a sua vida as exigências da natureza.
A ética estóica é uma ética objectiva, ôntica. O estóico não pauta sua vida por leis positivas, por preceitos de autoridade, para elucidar esse preceito, Vitorino Sanson dão exemplo de Sócrates que recusa-se a deixar a prisão porque a lei mesmo injusta, o ordena que ele deva morrer, as leis do Estado são convenções e o estóico não se guia por convenções.
Os fundadores do estoicismo não são gregos. São os fenícios são os semitas, são os cananeus, são realistas, concretistas, objectivos. Para o estóico a palavra não é convenção não é símbolo. A palavra é. A palavra produz, faz, como a sabedoria bíblica ou a sabedoria fenícia, ou como o logos de são João. O Logos se fez carne (Jo. 1.1)
O núcleo central do raciocínio ético do estoicismo é este: “Sou homem, parte da Physis membro deste grande organismo que é a natureza. Se eu quero ser sábio isto é bom, honesto, ético, devo saber qual a posição que ocupo no mundo, devo saber qual meu télos-fim específico dentro do Todo. Devo saber qual é a função que me exigida dentro do grande corpo, devo saber qual é o meu oficio, devo saber qual é o papel que devo desempenhar nesta grande obra que é o kósmos. Eu, homem, participe do logos, que missão terei a cumprir na sociedade humana?”
Dai que o sábio esta sempre atento, consultando a natureza do todo, da humanidade, de si mesmo para dissecar todo o mecanismo das tendências dos afectos, dos vícios, das virtudes, das próprias capacidades, não por curiosidade meramente cientifica, não pelo prazer de especulação, mas para orientar a sua conduta para acomodar-se, mas para orientar a sua conduta para amoldar-se e acomodar-se a natureza para viver conforme a natureza, que é alcançar a eudaimonia a felicidade, para cumprir a sua missão ética. Dai que Marco Aurélio afirma: “quem não sabe o que é o mundo, não sabe onde esta, quem não sabe porque nasceu, não sabe o que é, nem o que o mundo é. Quem negligencia uma dessas noções não poderia sequer dizer que existe”. 
Tudo nos leva a crer que a placa giratória da crença estóica é: viver conforme a natureza,
e estudando a natureza universal saberei viver conforme ela.
Para entender a ética estóica é preciso entender a Física estóica, para eles a Física abarca toda realidade: Astros, Terra, Minerais, Vegetais, Animais, Homem, Deus, Física, Astronomia, Geologia, Botânica, Zoologia, Metafísica, Antropologia e Teologia.
As teses fundamentais da ética estóica de acordo com o exposto podem nos ajudar a concluir que:
O homem deve viver conforme a natureza; Deve estudar a natureza para saber conformar-se a ela; Este estudo lhe faz compreender que a natureza e sabiamente ordenada e que cada coisa tem uma função a cumprir; e que o homem é natureza. Pertence a natureza. Faz parte da natureza. Participa da natureza-corpo e da natureza-alma. É membro de um grande corpo, mas membro privilegiado porque possui o logos, como Deus. Deus, que é alma do mundo e a alma do homem foi arrancada dali: acesa pela alma dos pais.
Então se o homem é racional, logo deve viver racionalmente, para viver conforme a natureza. Deve viver conforme a sua natureza.
Portanto a ética estóica ensina que virtude é viver conforme a natureza; e a apropriação dos verdadeiros valores; ética é a própria filosofia que é o caminho para  sabedoria. Ser sábio é ser virtuoso; ser virtuoso é ser feliz por isso o estóico não pode perder de vista o principio fundamental pois é observando a natureza que ele descobre a próte hòrmé (o instinto fundamental).

CONCLUSÃO

Após essa leitura sintética do texto Ética e Trabalho organizado por Luiz Carlos Bombasso, podermos dizer em termos de remates finais que o texto na sua integra constitui um corpo muito bem interligado e não foge ao propósito principal de reflectir em torno da temática o trabalho e a escravidão sob o belo título Ética e Trabalho.
Cada conferencista ao seu modo foi escavando as entranhas do pensamento filosófico e propondo novos caminhos e leituras, até aqui por nos desconhecidas, porém, nos mostraram quem uma outra leitura e uma outra interpretação é possível nos textos clássicos da filosofia, vemos o caso de Cirne Lima que propõe uma terceira via na interpretação da parábola do senhor e escravo, afinal só amor (filia) vence a relação e o instinto de dominação entre os humanos
Já o professor De Boni na segunda conferência, defende que a o cristianismo, não consegui operar mudanças num contexto de exploração esclavagista, e apenas com o direito romano houve um breve mudança conceitual da noção de propriedade onde o domínio das coisas passa também a ser o domínio sobre as pessoas que nelas estão. Na basta dominar a terra é preciso dominar também os homens que nelas estão.
Na terceira conferência apresentada por Kesserling ao analisar os pensamentos de  Hobbes e Locke comparando com os de Platão e Aristóteles, a terceira via apontada já que a dominação do senhor e inevitável Hobbes e Locke propõe um contrato  livre na base de confiança, e só o contrato pode nos fazer sair da escravidão para a servidão. E a servidão é uma opção, e é livre, é essa liberdade defendida pelos Modernos. Porém, Kesserling aponta que o problema na mesma permanece, a dominação e Cirne Lina diz o mesmo na primeira conferência o senhor é um dilema nas relações sociais!
No quarto estudo, ética e trabalho em Marx, Varres, constata que mesmo o contrato embora livre o dilema do senhor e escravo permanece e é forte e propõe com base em Marx uma marcha para um mundo melhor, mais justo onde as relações entre os homens sejam marcadas pela transparência e pela liberdade. A solução não passa pelo contrato livre como propõe Locke e Hobbes mas pelo contrato justo, transparente, onde o operário sente-se reconhecido e reconhece-se no seu trabalho, caso contrario ele só pode se emancipar. Se não nos enganamos no nosso julgamento pensamos que esta é a conferência principal.
Por fim quase de forma suave e encontramos os estudos de Sanson sobre a Ética Estóica como se fosse o fecho de todo o colar, exaltando a dignidade humana fazendo-nos perceber que no centros de todos esses debates de todo o construto humano esta o Homem, parte da Natureza e da mesma natureza com todos os homens partilhando o destino comum, entre todos não havendo senhores nem escravo, cabendo a este homem perscrutar a natureza que é ele mesmo. Esta conferência é uma espécie de pedido socrático: homem conhaça-te a ti mesmo.
Portanto na óptica do Ensaio é assim que a filosofia tratou deste e outros problemas da nossa história, ela não permaneceu indiferente ao problemas, de época em época foi dando resposta seja a nível teórico seja a nível prático. 

 

BIBLIOGRAFIA

BOMBASSARO, Luiz Carlos (Org.), Ética e Trabalho: Cinco Estudo, Ed. De Zorzi S/A, PyR, Caxias do Sul, 1989.