A formaçao do homem

"O que um homem pode ser, ele tem de ser" A. MASLOW



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Conhecimento científico ou migalhas científicas: uma reflexão epistemológica!

 “A ciência não é um conhecimento especulativo,
 nem uma opinião a ser defendida,
mas uma tarefa a ser elaborada”
 (Francis Bacon)
I
O trabalho que se segue é um breve estudo sobre aquilo que no geral chamamos de Conhecimento Científico, mas prefiro chamar de Migalhas Científicas. Todos os comentários que aqui faço se fundamentam em autores de referência neste vasto campo de Pesquisa Cientifica e estes são mencionados mediante uma referência bibliográfica. Como análise científica, impus-me, a fidelidade total à expressão e ao conteúdo dos pensamentos dos autores com que dialoguei, espero não ferir a lógica das pessoas mais abalizadas em matéria de investigação e espero também, que este esforço seja bem aceite, embora seja eu o primeiro a me sentir insatisfeito.
Para a realização desta faina, o método foi o de análise e revisão bibliográfica, fomos ao encontro dos pensamentos dos autores através das obras originais e alguns comentários dos manuais e até nos socorremos de algumas migalhas científicas que sobraram na lembrança.
Tenho como propósito fundamental ajudar meus queridos colegas estudantes da academia a melhorarem suas aventuras científicas, se permitirem tal generosidade.

II
Quando se fala de Universidade, Academia e ou Ensino Superior, tenho certeza de que o que nos vem na cabeça logo a primeira é que nestes locais discute-se, prova-se, pró e reproduz-se o conhecimento, e qual tipo de conhecimento? O conhecimento Científico. É desta coisa que hoje vou dedicar minhas primeiras páginas. Páginas de produção que se quiserem podem adjectiva-la de científica ou académica, mas quanto a mim prefiro dizer que é apenas um folheto de Migalhas Científicas.

Alertar que o conhecimento científico apesar de se preocupar pela verdade ele não é o pai da verdade, existem outras fontes de verdade que estão contidas no nosso senso comum e religioso porém a vantagem do primeiro é que a verdade é construída a céu aberto e em debate e é passível de demonstração e mensuração, já no segundo caso depende do contexto, da crença e ate do tempo. Porem todos concordamos que ninguém, ninguém mesmo é o Pai da verdade senão o tempo. Essa é a crença que move o pesquisador.

Então comecemos pelo princípio apesar de já termos começado! Que é a ciência, senão uma das formas de conhecimento que o homem produziu ao longo da sua história, com o objectivo de entender e explicar racional e objectivamente o mundo para nele poder intervir.

Etimologicamente ciência do latim scientia, que significa soma ou conjunto de conhecimentos que se possui sobre variados objectos; entende-se também como: instrução, erudição, conjunto dos conhecimentos coordenados e relativos a um objecto determinado ou aos fenómenos de uma ordem ou classe; total dos conhecimentos práticos que servem para determinado fim; conhecimento humano considerado no seu todo, segundo a sua natureza e progresso (cfr. Caldas Aulete, 1958:958).

Disso penso que já estão fartos! Para evitar que me perguntem: que será o conhecimento, posto que deste o dia que passamos a saber que somos “homo sapiens sapiens” passamos a saber que é o conhecimento aliás vosso professor de história e paleontologia humana devia já ter vos explicado! Não obstante, penso que podemos concordar ao dizer que é o saber que se adquire pela leitura e meditação, instrução, erudição, etc. Ou Conjunto de informações organizadas relativas a um determinado objecto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos factos e um método próprio. Ou ainda, soma de informações praticas que servem para um determinado fim. Se não for e nem tivermos isso somos “homos demens demens” (cfr. Aurélio, 1986:324)

Após esses marcos conceptuais, importa sublinhar algumas características daquilo que chamamos conhecimento científico: sublinhamos primeiro que este conhecimento é socialmente adquirido ou produzido, historicamente acumulado, dotado de universalidade e objectividade o que permite sua transmissão, e estruturado com métodos, teorias e linguagens próprias, que visam compreender e orientar a natureza e as actividades humanas.

Cronologicamente ciência surgiu com Galileu e Descartes no Séc XVII, embora tenha sido uma actividade iniciada na Antiguidade grega e se transformado numa pratica constante com a finalidade de afastar crenças e comportamentos supersticiosos, eliminar a ignorância e fundamentar racionalmente as normas de conduta e os costumes herdados. Lembrar que estes homens e outros deram a sua pele e sangue pela ciência, espero que em vossas investigações após invocarem vossos antepassados se lembrem também do cota Galileu, de Giordano Bruno, Johannes Kepler, Copérnico, Descartes, Newton, Bacon, Khun, Popper, etc… estes e outros mudaram o rumo da compreensão do mundo, filosofaram de modo original.

A ciência tal como o definimos visa o domínio e controle prático da natureza, porque é um conhecimento sistemático e seguro de um conjunto de fenómenos que ocorrem de maneira regular e uniforme, segundo padrões invariáveis de reacções causais, expresso em leis e teorias gerais, com o objectivo de tornar o mundo compreensível.

O pesquisador seja ele quem for, motivado por uma situação-problema e guiado por algumas hipóteses preliminares, observa fenómenos semelhantes, classifica-os segundo suas características comuns, procurando verificar a coerência de regularidades entre eles. Uma vez constatados, essas regularidades são generalizadas e aplicadas a fenómenos semelhantes. É dessa forma que o pesquisador elabora as leis científicas:
“o pensamento científico parte, em última instância, de problemas que surgem da observação de factos e acontecimentos encontrados na experiência comum. Sua base é a compreensão do que se observa, pela descoberta de alguma ordem sistemática nos sucessos, coisas, qualidades e relações que o contacto com a circunstância revela. Depois de fases em que factos gerais autenticados, sequências empíricas e generalizações estatísticas são obtidos, o espírito humano formula relações de dependência entre factos e fenómenos, visando chegar a leis empíricas” (Hegenberg, 1969:115)

As leis formuladas devem ser:
a)      Capaz de descrever uma serie de fenómenos;
b)      Comprovadas através da observação dos factos e da experimentação;
c)      Capazes de prever acontecimentos futuros;

As leis se encontram agrupadas em sistemas explicativos e compreensivos dos fenómenos chamadas teorias científicas:
“estas pretendem explicar de modo adequado o que ocorre ao nosso redor. As teorias têm um ponto de apoio estritamente metafísico. São juízo ou opiniões sem fundamento preciso; suposição, hipótese - um eu acho que….. Lançam-se, as vezes, a custa de única observação, subitamente surpreendente, diante daquilo que parecia bem assentado. Sua função é, usualmente, a de ordenar as circunstâncias, colocando-os em “paz” com ela, para que possamos ir vivendo” (Hegenberg, 1969:157)

Tanto as leis como as teorias científicas têm como principal finalidade explicar e prever os fenómenos naturais. Portanto, o cientista se utiliza de uma articulação relativamente constante de procedimentos e meios para obter um fim determinado, a que se da o nome de método científico, que  é um conjunto de normas-padrão que pautam uma pesquisa para que ela seja bem-sucedida e seus resultados obtenham a adesão racional da comunidade científica.

O cientista percorre algumas etapas  antes de chegar aos resultados finais de sua pesquisa. Costuma-se afirmar que o primeiro passo é a observação de factos e a colecta de dado. Tal afirmação é falsa e infundada. Pois, na verdade toda e qualquer pesquisa têm a sua origem em sua situação-problema que convida o pesquisador a investigá-la. Guida por um certo número de hipóteses preliminares e auxiliado pela imaginação inventiva, o pesquisador trata de observar os factos, colectar dados que lhe permitem formular hipóteses frutíferas e dar continuidades `a pesquisa.

No segundo momento, essas hipóteses devem ser testadas experimentalmente, isto é, submetidas a uma investigação controlada capaz de indicar se elas são de facto importantes na ocorrência da situação -problema.

Uma vez confirmadas, as hipóteses transformam-se em lei, que por sua vez são incorporadas em teorias capazes de explicar e prever os fenómenos presentes no mundo circundante.

Só para deixar claro:
Hipótese: é uma proposição ou conjunto de preposição que constituem o ponto de partida de uma demonstração, ou então uma explicação provisória de um fenómeno, devendo ser provada pela experimentação (cfr. Japiassu, 1986:250)

Lei científica: é uma relação necessária estabelecida entre dois acontecimentos (causa-efeito), ou seja é aquela ideia final que estabelece entre factos relações mensuráveis, universais e necessárias, autorizando a previsão, (cfr. Idem:252).

E Teorias: serão o conjunto de concepções; síntese geral que se propõe explicar um conjunto de factos cujos subconjuntos foram explicados pelas leis (cfr. Severino 1992:126).

Para construir sua teoria, o pesquisador se utiliza de raciocínios indutivos e raciocínios dedutivos. Por exemplo:
1.      Todo mamífero é vertebrado
Todo homem é vertebrado
Todo homem é mamífero

2.      Todos homens observados são mamíferos
Todo homem é mamífero

O cientista se utiliza da indução quando, após examinar através de várias técnicas a ocorrência sistemática de factos singulares, percebe a regularidade desses factos, o que lhe permite fazer generalizações conforme tentamos mostrar no exemplo 2. Ou seja, que nós como pesquisadores concluímos a partir da regularidade de certos factos, a sua constância; da constatação de certos factos, a existência de outros factos ligados aos primeiros na experiência anterior. Então a indução nada mais é senão um raciocínio ou forma de conhecimento pela qual passamos do particular ao universal, do específico ao geral, dos factos as leis.

Mas também o pesquisador pode se valer da dedução que lhe garante a verdade de suas conclusões. Ou seja, ele parte de afirmações comprovadamente correctas e verdadeiras, aceites universalmente, o resultado obtido também será correcto e verdadeiro, conforme tentamos mostrar exemplo 1, ou seja, aqui o pesquisador tira de uma ou varias proposições uma conclusão que delas decorre logicamente.

Para não me perguntar onde esta a diferença de um e outro, adianto dizer que no primeiro caso estado aptos para a novidade e surpresa a conclusão pode ser totalmente nova quando se trata da indução, já no segundo caso, não a conclusão não traz nada de novo senão aquilo que sobejamente conhecíamos.

Tanto num quanto noutro tem seus limites, perigos, por isso logo no principio falávamos da infalibilidade, logo a seguir continuaremos a explicar tal facto. A ciência vive disso: da sua falibilidade é este o pilar que lhe ajuda, manter-se e degradar-se, contraditório mais interessante. A ciência é como a vida, sustenta-se pela sua biodegradabilidade, dizia um Professor meu de ethic and politics. Quanto nos explicava da teoria da biodegradabilidade…

É importante observar que o conhecimento científico não é neutro, uma vez que depende do contexto sócio-político, económico e cultural em que surge e é desenvolvido. Além disso, a ciência, apesar do rigor que lhe é peculiar, não é infalível e seus resultados não são definitivos:
“A força geradora da ciência é o desejo de obter explicações simultaneamente sistemáticas e controláveis pela evidência factual. O fim específico da ciência é, portanto, a descoberta e a formulação, em termos gerais, das condições sob as quais ocorrem os diversos tipos de acontecimentos, servido os enunciados generalizados dessas condições determinantes como explicasses de factos correspondentes. Esse objectivo só pode ser atingido identificando ou isolando certas propriedades. Em razão disso, quando uma investigação alcança exito, proposições que até então pareciam independentes surgem como que ligadas uma `as outras de maneira determinada, em função do lugar que vem ocupar num sistema de explicações”  (Nagel 1979:23.4).
III
Portanto chegando quase ao fim seria bom fechar e sintetizar em poucas palavras aquilo que desenrolamos em milhões de migalhas de palavras. O conhecimento científico compreende as seguintes etapas básicas: observação de um acontecimento, para quem esteve num campo de estágio um ou dois anos não entra por isso em crise e se entrar existem outros lugares que pode encontrar situações-problema, uma vez que descrever um problema não amarga, podem faze-lo com gosto; depois disso segue-se o estabelecimento de questões relativas à observação do acontecimento, após ver um problema a capacidade indignar-se é tão natural quanto beber um copo com de água; mas indignar-se não basta é necessário encontrar sugestões hipotéticas capazes de explicá-las, o que causa aquele fenómeno? isto ou aquilo?; produção de experiências controladas, com o objectivo de comprovar ou não se as hipóteses sugeridas podem explicá-las, verificar tuas hipótese se são ou não, isso implica também estar aberto a novos resultados.

Minha experiência conta que , muitos pesquisadores ou amadores da pesquisa manipulam resultados, tem aproveitamentos a 100%, me admira muito quanto vejo pesquisas com 80 a 90% de resultados positivos ou confirmando a hipótese do pesquisador.  E, finalmente o que é natural apresentar a conclusão, que poderá permitir a previsão de novos acontecimentos provenientes do primeiro. E se as experiências se apresentarem positivamente em relação à hipótese, esta passa a constituir uma teoria.

Enfim, para tal a Lógica, a Matemática e o Português (as línguas) jogam um papel fundamental para ajudar as pessoas a estruturar o raciocínio a pensar sob causa e efeito, coisa rara em nosso contexto. Mas num campo de acção onde as pessoas estudam estruturando o raciocino sob diploma-salário, estamos muito longe de construir o conhecimento científico só podemos nos contentar mesmo com Migalhas Científicas, apenas Migalhas Científicas.

AULETE Caldas. (1958), Dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa, 4ª edição, Rio de Janeiro: Delta, 5Vl.
ENCICLOPÉDIA MICROSOFT ENCARTA (1993-2001) Microsoft Corporation.
HEGENBERG, Leonidas. (1969), Explicações Cientificas: introdução a filosofia da ciência, São Paulo: ed. Herder, /Edusp,
JAPIASSU, Hilton; (1986), Vocabulário. InRezende, Antonio (Org). Curso de filosofia. Rio de Janeiro, Ed Zahar,
MARIA Sónia; DE SOUSA Ribeiro. (S/d), Um outro olhar: Filosofia. Ed. F.T.D, São Paulo.
NAGEL, Ernest. (1979), Ciência: Natureza. iN: Morgenbesser, Sideney. Filosofia da Ciência, 3ª Edição, São Paulo: Cuturix.